Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

História revisitada

A cada mês, a Revista de História da Biblioteca Nacional publica uma maravilhosa coleção de artigos sobre vários aspectos da história brasileira, dirigidos ao público em geral. Uma edição recente trouxe à luz uma descoberta fascinante realizada por um membro eminente do conselho editorial da revista, o diplomata Alberto da Costa e Silva. Em uma visita a Lisboa, ele reconheceu no canto de uma loja de antiguidades um retrato de dom Pedro 1º (1798-1834).

Depois de sua abdicação ao trono brasileiro, dom Pedro 1º tornou-se o rei Pedro 4º de Portugal. Costa e Silva percebeu que, no retrato, o monarca estava usando a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro, que ele criou quando coroado imperador do Brasil, em 1822, no Rio de Janeiro. A pintura, realizada por artista desconhecido, é intitulada “Dom Pedro, Duque de Bragança” – título de nobreza que ele assumiu ao abdicar do trono de Portugal em favor de sua filha, em 1831, quando tomou o comando das forças liberais portuguesas que resistiam ao exército de seu irmão mais novo, dom Miguel, defensor da causa absolutista.

O antiquário de Lisboa não sabia quem o retrato representava e, por isso, Costa e Silva pôde comprá-lo, dando-o de presente ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. A Revista de História da Biblioteca Nacional também menciona o 200º aniversário da morte do botânico mineiro frei Mariano Veloso, em 1811, no Rio de Janeiro.

“Sem livros não existe instrução”

A Biblioteca Nacional publicará uma nova edição de sua grande obra, O Fazendeiro do Brasil. O abrangente trabalho, de caráter enciclopédico, foi publicado originalmente em Lisboa, entre 1799 e 1801, com o patrocínio de dom Rodrigo de Souza Coutinho, conde de Linhares, que acompanhou a corte portuguesa ao Brasil em 1807 e, em 1808, tornou-se ministro do governo português no Rio de Janeiro. O Fazendeiro do Brasil foi dedicado ao “príncipe do Brasil”, dom João, herdeiro do trono português e pai de dom Pedro.

A esperança é que a nova edição tenha distribuição mais ampla que a primeira, da qual apenas duas cópias completas existem no Brasil. Uma pertenceu ao frei Veloso, e está entre os papéis pessoais dele integrados ao acervo da Biblioteca Nacional. A outra faz parte da coleção do bibliófilo José Mindlin, em São Paulo.

Encontrei fragmentos do Fazendeiro do Brasil em 1966, ainda embalados em seus fardos originais, em visita ao Arquivo Público mineiro – o triste destino de muitas das iniciativas reformistas do período. Frei Veloso dizia que “sem livros não existe instrução”. E o que era verdade então continua sendo verdade hoje (tradução de Paulo Migliacci).

***

[Kenneth Maxwell escreve às quintas-feiras nesta coluna]