Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Semeai livros à mão cheia

No ano passado, várias comemorações na agenda, entre elas, centenários de Jorge Amado e Nelson Rodrigues e os 130 anos de nascimento de Monteiro Lobato. É na carona deste aniversário que se garimpa trechinho de uma pouco conhecida carta do escritor paulista.

Entusiasmado com a universidade norte-americana, em 1927, ele escreve ao amigo Alarico Silveira: “Minha visita à Universidade Columbia. Que maravilha! (…) A biblioteca possui 1.025.000 volumes e, como se conecta com as demais de Nova York, um estudioso pode ali recorrer a um estoque de vários milhões de obras” (Cartas escolhidas, Brasiliense).

A carta é gancho para lembrar a relação grande entre universidade e livros. Afinal, uma instituição voltada para o saber deve valorizá-los. Livros – impressos ou digitais – são formas de divulgação de conhecimento e instrumento de aprendizagem, não é mesmo? É, mas nem sempre foi assim.

No hoje remoto século 15, quando os tipos móveis de Gutenberg favoreceram (porque baratearam) uma difusão mais ampla do impresso, algumas universidades franziram o nariz: afinal, se os alunos todos tiverem livros, o que nós, professores, vamos fazer nas classes?

Mas o surto de mau humor do corpo docente logo se dissipou e, hoje, livros e universidade são parceiros fiéis. E além de fornecer, com suas pesquisa, conteúdos para livros, a universidade tornou-se importante produtora deles.

Missão primordial

A partir da década de 80, grande número de universidades públicas brasileiras criou suas próprias editoras. Entre elas, a Editora Unesp, que comemorou no ano passado seus bem vividos 25 anos com uma direção segura e profissional.

A comemoração desse quarto de século de uma excelente editora universitária aponta caminhos promissores para o mundo do livro brasileiro. Tais caminhos tanto levam adiante a democratização da cultura proporcionada pela velha invenção de Gutenberg, como apostam em maneiras novas de livros e leitura inscreverem-se na vida cultural, aposta fundamental em um país como o nosso, no qual pesquisas recentes sugerem que menos de 50% da população pode ser considerada leitora.

E como é isso? É assim: a Editora Unesp, como suas coirmãs paulistas, edita livros que resultam de pesquisas levadas a cabo por seus próprios docentes e por docentes de outras universidades, dentro e fora do Brasil. Todas as áreas do saber acadêmico mais contemporâneo estão representadas e autores de variada filiação institucional alcançam uma ampla gama de leitores.

Além de produzirem livros, editoras universitárias também os vendem em suas livrarias. A Livraria Virtual da Editora Unesp, além de oferecer o que oferecem livrarias virtuais, permite download gratuito de inúmeras de suas obras. E sua Livraria Móvel -livros a bordo de um caminhão- concretiza o velho projeto de Mário de Andrade de disponibilizar a circulação do impresso.

É, no entanto, no âmbito maior da cadeia produtiva do livro que editoras universitárias podem desenvolver identidades próprias, articuladas a seu contexto especificamente acadêmico.

A Universidade do Livro, iniciativa da Editora Unesp, é exemplar disso: oferece cursos que cobrem toda a gama de saberes e práticas envolvidos na produção de livros e a grande demanda deles é certificado seguro do acerto e da oportunidade da iniciativa.

Ou seja, encerrando 2012, o povo do livro tem muito a comemorar. Os 130 anos do nascimento de Lobato e os 25 anos da Editora Unesp – que tem por sede o antigo endereço da editora do escritor – são bem mais do que uma feliz coincidência: são a certeza de que, inspirada no criador da Emília, a Editora Unesp continuará a cumprir sua missão maior, a de produzir e difundir livros, democratizando o acesso à cultura a um povo que ingressou na era do impresso com mais de 300 anos de atraso.

***

[Marisa Lajolo é professora de Teoria Literária da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Unicamp]