Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

No comando da Barnes & Noble, divergências

Quando Leonard Riggio apresentou o veterano da tecnologia William Lynch como o novo diretor-presidente da Barnes & Noble, quase três anos atrás, afirmou que a maior rede de livrarias dos Estados Unidos precisava “ser mais que uma varejista de livros”. Mas agora, o septuagenário Riggio, presidente do conselho de administração e maior acionista da Barnes & Noble, parece ter resolvido se ater ao velho negócio de venda de livros, tendo confirmado que “planeja fazer uma oferta” para comprar os ativos de varejo da empresa.

Se consumado, o negócio separaria as 689 livrarias da Barnes & Noble da sua unidade Nook Media, que inclui a marca Nook de tablets e leitores de e-books, além dos próprios livros digitais e a rede de livrarias universitárias. Riggio pode vender sua participação na Nook Media como parte do negócio. De fato, uma pessoa a par da situação disse que ele preferiria ter o menor envolvimento possível na Nook Media e se concentrar na rede de livrarias. Uma porta-voz da Barnes & Noble não quis comentar.

A ação da Barnes & Noble subiu 11,5% na segunda-feira na esteira da notícia, divulgada domingo pelo site WSJ.com. Ontem, ela ganhou outros 2,7%, fechando a jornada em US$ 15,46. Analistas estimam que o preço das livrarias poderia chegar a US$ 1 bilhão, mais que o valor de mercado da Barnes & Noble inteira, de aproximadamente US$ 900 milhões. Nem Riggio nem Lynch estavam disponíveis para entrevistas na segunda-feira (25/2).

Livrarias físicas continuam dando dinheiro

O proposto desmembramento da empresa ressalta as dificuldades dos varejistas tradicionais em competir com empresas de tecnologia no setor de aparelhos. Riggio esperava que Lynch, um ex-executivo da fabricante de smartphones Palm, pudesse ajudar a Barnes & Noble a desenvolver seu próprio leitor de livros eletrônicos para concorrer com aparelhos como o Kindle, da Amazon. No princípio, o Nook parecia estar indo bem, com a Barnes & Noble afirmando que tinha ganhado uma fatia estimada em 25% do mercado de livros digitais. Mas a concorrência no setor aumentou em 2012. As vendas de fim de ano dos aparelhos Nook caíram, divulgou a Barnes & Noble em janeiro. No início deste mês, a empresa informou que o prejuízo da unidade Nook no ano fiscal de 2013, incluindo aparelhos e livros digitais, seria maior que o previsto.

Internamente, Lynch manteve distância do negócio tradicional. Apesar de ser o diretor-presidente da empresa inteira, ele nunca ocupou os escritórios da sede da Barnes & Noble no centro de Nova York, preferindo trabalhar nos da área digital, num bairro diferente, onde as empresas de tecnologia estão localizadas. Desde então, vários executivos da empresa foram para lá, inclusive o diretor financeiro, transformando a sede oficial da companhia praticamente num escritório da área do varejo. “Ele dedicou quase todo o seu tempo ao negócio digital”, diz um ex-empregado da Barnes & Noble. “É aí que ele tem mais conhecimento e capacidade.”

Essa pessoa disse que Lynch visitava as operações digitais da empresa em Palo Alto, na Califórnia, a cada duas semanas e passava dias lá, onde montou uma equipe de cerca de 300 funcionários da área de tecnologia. As livrarias são tocadas por Mitchell Klipper, um veterano do varejo e do setor imobiliário que está na Barnes & Noble desde meados dos anos 80. Klipper é subordinado a Lynch. Embora menos glamorosas que a mídia digital, as livrarias físicas continuam gerando muito dinheiro. A Barnes & Noble foi ajudada no ano fiscal de 2012 pelo fechamento, em 2011, da Borders Group, que era então a segunda maior rede de livrarias dos Estados Unidos em vendas. O faturamento diminuiu um pouco no primeiro semestre do ano fiscal de 2013.

Negócio majoritário

Para Riggio, fechar o capital das livrarias seria um retorno às origens. Ele começou sua carreira no setor de livros em 1965 com uma livraria chamada Student Book Exchange e comprou a Barnes & Noble, uma livraria de Manhattan, seis anos depois. Durante os 30 anos seguintes, ele a transformou na maior rede de livrarias dos EUA, atingindo um máximo de 726 lojas em 2008, excluindo a hoje extinta rede B. Dalton. Não está claro como, exatamente, Riggio financiaria a aquisição. Num documento apresentado à comissão de valores mobiliários americana, a SEC, Riggio disse que a oferta consistiria principalmente em dinheiro e transferência de algumas obrigações. O documento dizia ainda que ele “arranjaria todo o financiamento necessário”.

Riggio tem cerca de 30% da empresa, fatia que poderia ser oferecida como pagamento pela unidade das livrarias, disse Peter Wahlstrom, analista da firma de pesquisas financeiras Morningstar. “Creio que ele tem patrimônio e conexões suficientes para bancar o financiamento da unidade de varejo”, observou Wahlstrom.

Algumas pessoas do setor editorial estavam torcendo para que a compra das livrarias aliviasse um pouco da pressão sobre a empresa. “Como uma empresa de capital fechado, eles poderiam se satisfazer com um certo nível de lucro que é mais realista para uma rede de livrarias nos dias de hoje”, afirmou um executivo do setor editorial.

David Strasser, analista da firma de serviços financeiros Janney Montgomery Scott, disse acreditar que os lucros das livrarias sofrerão uma pequena queda nos próximos anos, mas que o impacto da concorrência digital pode estar chegando ao seu pico. “Clientes que ainda leem livros físicos continuarão lendo livros físicos”, disse Strasser. “O negócio de livros ainda é majoritário nas livrarias, mas elas adicionaram livros educativos e também brinquedos e jogos, que estão trazendo clientes. Talvez eles não comprem mais tantos livros como antes, mas creio que a pior fase de declínio já passou”. (Colaborou Sharon Terlep)

***

[Jeffrey A. Trachtenberg, do Wall Street Journal]