Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A febre dos livros de autobiografia

Uma nova febre surge. Ela não tem nada a ver com uma anomalia fisiológica; é muito mais grave. É a anomalia intelectual do próprio mercado editorial de livros. O que estão fazendo com as biografias bem condensadas e proveitosas de ler? Quem não gostaria de apreciar a história de um personagem que ainda não foi revelada e que somente a escrita pode proporcionar?

Pois é, mas o lado é outro, a mídia e o mercado estão abortando a essência perfeita de ler as memórias biográficas. Na 23ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, uma das maiores feiras de literatura do país, um espaço amplo para divulgar novas formas de escrita, novas histórias. Foi neste espaço, que o cantor Daniel publicou a sua autobiografia intitulada Minha estrada. Nada contra a história que ele formou e conquistou através da vida, mas que valor tem uma biografia que pode se encontrar em todo lugar e está agora, agregada em um livro? Além da constante aparição nas televisões brasileiras? A história contada no livro é a mesma que todo mundo conhece. A grande questão é a ideia de que publicar um livro é sinal de inteligência, ainda mais se falando de um famoso; o que aumenta a credibilidade e a fidelidade do mesmo para com o público.

Justamente é neste ponto que quero chegar e que me leva a questionar o que fizeram com o campo editorial de publicação de livros. Por que tudo quanto é história precisa ser publicada e quem quer lê-la e vê-la? O cantor Naldo (aquele da água de coco e pra ele tanto faz) lançou na terça-feira (2/9), em uma livraria na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, a sua biografia Cada vez eu quero mais. Título que nem foi preciso pensar muito, apenas transcrever da sua complexa canção para aparecer na capa de seu livro. Penso no que estamos criando, o que o mercado cria o que estamos comprando. Estamos vivendo na onda do consumismo, tudo que o mercado joga, compra-se, vende-se. Estamos sem identidade.

Leitura é aprimoramento

Quando se analisa a quantidade de livros publicados (creio que o mercado joga anualmente uma quantidade que forma “ondas de consumismo” e entramos todos nessa onda) nesta contemporaneidade poucos são os conteúdos inteligentes que podem nos proporcionar uma reflexão sólida. Ainda mais quando se fala em biografias, gênero literário que requer por trás a boa história que pode nos servir de inspiração e nos lançar em refazer uma nova sociedade através dos atos do autobiografado.

Leitura é sinal de aprimoramento intelectual. Livros são sinais do reflexo escrito do aprimoramento mental do autor. O mercado erra quanto qualquer conteúdo é jogado como se o que é jogado é de bom valor intelectual. O problema das publicações de livros é a não seleção do que causará um reverbero de bom resultado para a sociedade, e isso é o que forma os leitores, que leem as bobagens das editoras como se tudo fosse proveitoso. O erro do mercado é não pensar, por ser um sistema. O erro dos leitores é errar pensando em confiar que todo livro compartilhado na sociedade é sinal de valor intelectual e mental.

Precisamos, sim, de leitores seletos.

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Tamara Vergel é estudante de Jornalismo, São Luís, MA