Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A biografia do eterno sambista

Eis definitivamente revelado, em mais de 600 páginas, o mistério chamado Assis Valente. Que, nascido artista e intelectualmente bem dotado, foi tirado do seio de sua família negra e pobre para embranquecer e progredir. Que, entretanto, por caminhos transversos, chegou à malandragem do nascente samba carioca; lançou-se como compositor no ambiente do teatro de revista pela voz de Araci Cortes; experimentou o sucesso e a desilusão com Carmem Miranda.

Seus enigmas e incógnitas são equacionados neste livro – uma biografia altamente “autorizada”, por seu detalhamento sócio-histórico, sem fofocas ou mexericos. Que sem qualquer tipo de maledicência ou enquadramento “pop” (como hoje é lei), nos faz finalmente entender como e porque o genial Assis Valente, numa época em que a sua Bahia era a grande balizadora da identidade nacional, pouco ou jamais falou dela em suas canções – preferindo falar da “gente bronzeada” e pedir “carta branca pro negro vadiar”. E porque dos 155 títulos que integram seu cancioneiro quase a metade se constitui de sambas, muitos expressando nas letras essa referência fundamental.

Quanto à vida do artista, sempre tão especulada, agora dá para sentir o porquê de sua genialidade dissociada de senso prático; de seu talento artístico infelizmente associado a um temperamento muitas vezes influenciável; de sua progressiva perda de autoconfiança; de seu pessimismo e seu isolamento… Que acabaram por interromper sua existência terrena, de maneira trágica.

Neste grande livro, Gonçalo da Silva Júnior mergulha no imenso mar de luz e sombra que foi Assis Valente. E nos dá a exata profundidade de sua tragédia fantasiada de alegria.

***

[do release da editora]

Em Quem samba tem alegria, Gonçalo Junior conta a vida, a obra e o tempo do autor de músicas fundamentais da chamada Era de Ouro do rádio, como “Boas Festas” (“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel”), “Cai cai balão”, “Alegria”, “Boneca de pano”, “Brasil pandeiro” e “Camisa listrada”, entre tantas outras. Um talentoso e incompreendido artista que encontrou na solidão e na tristeza trazidas da infância sofrida a inspiração para criar alguns dos mais importantes clássicos da MPB. Entre outras revelações, o autor desnuda o submundo da música e do rádio, com seus vilões ardilosos, intrigas, roubo e compra de sambas e marchas que ajudaram Assis Valente a ter um fim trágico. E aponta um provável motivo guardado a sete chaves por mais de sete décadas para tantas dívidas.

O autor

Gonçalo Junior é jornalista, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil e Diário de S. Paulo. Colaborou em revistas como Playboy, Trip, VoeGol, Lola, Entrelivros e Brasileiros, entre outras. Editou por quatro anos a revista Personnalité, do Banco Itaú. Escreveu duas dezenas de livros sobre imprensa, artes gráficas (quadrinhos, cartuns etc), moda, cinema e música. Publicou, entre outras obras, A Guerra dos Gibis (Companhia das Letras), Enciclopédia dos Monstros (Ediouro), Maria Erótica e o Clamor do Sexo (Peixe Grande), O Homem-Abril (Opera Graphica) e Alceu Penna e As Garotas do Brasil (Manole). Mora em São Paulo desde 1997.

******

Nei Lopes é compositor, cantor e escritor