Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Algumas imprecisões e incorreções sobre o Acordo

O artigo de Deonísio da Silva, ‘Língua portuguesa, ainda sem acordo‘, de 7/8/2007, peca por imprecisões e incorreções:

1. ‘Em Portugal, vale [o Acordo] de 1943. No Brasil, o de 1945.’ É justamente ao contrário.

2. ‘… tem o fim realizar a unificação ortográfica entre o Brasil, Portugal e os países lusófonos.’ Na realidade, o Acordo não realiza nem pretendeu realizar a unificação, apenas suprime algumas diferenças ortográficas. Foi precisamente a impossibilidade política de uma unificação prevista em anterior projeto que deu origem a este último acordo. Por exemplo, o Brasil continuará a grafar anônimo, e Portugal (e porventura alguns países africanos), anónimo.

3. ‘… a nova gramática vai alterar 1,6% do vocabulário luso e 0,5% do brasileiro.’ Um acordo ortográfico não alterará (nem poderia) o vocabulário; poderá, sim, alterar a grafia oficializada do referido vocabulário.

4. ‘O Houaiss, à semelhança de congêneres, como o Aurélio e o Michaelis, é insuficiente para escritores de prosa de ficção, mas ferramenta completa para quaisquer outros consulentes.’ Não se entende a distinção neste particular. Ou quererá o autor postular que os ficcionistas conhecem de cor e salteado as reclamadas 380.000 acepções do Houaiss? Certo que nem o Houaiss nem qualquer outro dicionário são um repositório completo do vocabulário português. Acresce que a criação vocabular e fraseológica nunca se detém, sendo mesmo de crer que a maior parte dessa criação, ao menos a duradoura, não provém sequer dos tais ficcionistas.

5. ‘Há alguns erros etimológicos, como no verbete urucubaca.’ Na realidade, o que consta do Houaiss é uma mera remissão, a saber: ‘JM relata que Bueno afirma ser o voc. da época da gripe espanhola (1918), quando era muito utilizado.’ O único a afirmar é o Bueno, só ele poderia ser acusado de laborar em erro de datação.

6 ‘Uma simples mesa-redonda com alguns escritores de criação poderia diluir certas travessuras de doutos professores que insistem em reiterar que não é preciso estudar a gramática da língua portuguesa.’ É esta uma frase de efeito. Como é sabido, mesmo entre caturras latinizantes, gramáticas há muitas e para gostos os mais diversos: obsoletas, conservadoras, totalitárias, anárquicas, mais cultas ou menos cultas. E a tal mesa-redonda provavelmente revelaria algumas dessas modalidades. Não se conhece, aliás, autor de gramáticas que tenha dado bom ficcionista. A língua, entretanto, não se reduz nem de longe a uma simples mesa-redonda de uns tantos auto-sufragados, como alguns gostariam e advogam.

Quanto aos doutos professores, haveria que concretizar com nomes e citações, e argumentar, se fosse o caso. Na falta do que sobra demagogia, ou quando menos leviandade, para com o leitor.

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Ver aqui a resposta de Deonísio da Silva

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