Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Bastidores da publicação científica

Um livro dirigido tanto para pesquisadores que desejam preparar artigos científicos como para editores interessados em lançar uma revista científica. Trata-se de Preparação de revistas científicas: teoria e prática, organizado pelas professoras Sueli Mara Ferreira, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), e Maria das Graças Targino, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

‘O conteúdo atende aos autores e editores científicos, que têm necessidade de conhecer os padrões de qualidade dos artigos e dos seus respectivos veículos de divulgação’, disse Sueli à Agência Fapesp. ‘Outro objetivo é trabalhar a melhoria da qualidade das revistas científicas existentes, com base em normas e padrões internacionais.’

Além de teorias de preparação de textos e de criação de novas publicações, o leitor poderá contar com uma ampla discussão sobre a trajetória das revistas científicas no Brasil e no mundo.

Ao todo são nove artigos, escritos por 14 especialistas. A obra é dividida em quatro partes: Revendo critérios referentes à autoria científica, Revendo critérios referentes à editoria científica, Revendo critérios referentes à revista eletrônica e Revendo critérios referentes ao conteúdo e à forma das revistas em comunicação.

Dentro da primeira parte, o capítulo ‘Instrumental aos autores para preparação de trabalhos científicos’ tem como autores Rosaly Fávero Krzyzanowski, coordenadora do Centro de Documentação e Informação da Fapesp, a bibliotecária e consultora Maria Cecilia Gonzaga Ferreira, e Ridelci Medeiros, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Preservação digital

O livro apresenta assuntos diversos, como as etapas de preparo de um manuscrito para submissão a um periódico, os processos de autoria e co-autoria, os critérios de qualidade e avaliação de revistas científicas, arquivos e protocolos abertos e as revistas de comunicação no âmbito ibero-americano.

‘Um dos pontos fundamentais abordados é a digitalização de publicações científicas. A criação de uma revista eletrônica não significa apenas transformar seu conteúdo impresso em linguagem HTML’, explica Sueli, que é também coordenadora da Rede de Informação em Ciências da Comunicação dos Países de Língua Portuguesa (Portcom).

‘Pensando nessa questão, o livro propõe a utilização de softwares de gerenciamento do fluxo editorial que controlam os detalhes importantes de uma publicação. Isso inclui, por exemplo, a proteção dos direitos autorais e a garantia de acesso permanente aos conteúdos. Com o passar dos anos, as tecnologias digitais se modificam e os leitores precisam continuar tendo acesso aos documentos’, diz Sueli.

A autora explica que, além de se preocupar com a preservação digital dos conteúdos na internet, os softwares de gerenciamento fazem a indexação da revista com os mecanismos internacionais de divulgação científica, promovendo o reconhecimento dos artigos mundialmente.



Prefácio

Maria Mércia Barradas (*)

Três séculos já são decorridos desde a criação dos periódicos científicos pioneiros, o Journal des Sçavants, na França (janeiro de 1665) e o Philosophical Transactions of the Royal Society, na Inglaterra (março de 1665). O precursor, periódico francês, era semanal e divulgava catálogos de livros, necrológicos, notícias sobre novas descobertas nas ciências e nas artes, informações sobre física e química, sentenças dos tribunais seculares e eclesiásticos. A literatura científica, entretanto, prefere considerar o periódico do Reino Unido como o primeiro, pois ele inaugurou o processo de avaliação dos textos a serem divulgados (peer review).

Estas duas iniciativas motivaram o surgimento de revistas científicas em outros países, de tal forma que, até a última década do século XIX, havia cerca de 500 revistas científicas no mundo. Hoje, o incremento da produção científica mundial conduziu a um crescimento vertiginoso do número de revistas, atingindo a cifra de aproximadamente 100.000 títulos. Pode-se entender tal crescimento, pois, mesmo nos países periféricos, ou de economia ascendente, como é o caso da América Latina, a literatura registra que o número de artigos publicados praticamente triplicou nos últimos 10 anos e tamanha produção necessita de canais formais para sua disseminação.

As revistas ou periódicos científicos são, sem dúvida, a memória da ciência. Deve-se lembrar que o principal objetivo da atividade científica é a produção do conhecimento. Para que o conhecimento seja útil é imprescindível, inicialmente, sua difusão entre os pares, depois, à sociedade, para que esta possa usufruir dos benefícios advindos do conhecimento. E o canal formal de comunicação eleito pelos pesquisadores, em todos os países, é o periódico científico, que divulga resultados recém-gerados e conta com o crivo do sistema de avaliação por pares, o que lhe confere maior legitimidade e credibilidade.

Embora existam atualmente cerca de 1.500 revistas científicas no país, considerando todas as áreas do conhecimento, a literatura brasileira carece de obras sistematizadas sobre a vasta temática da editoração científica. Assim, o convite para prefaciar o presente livro, lançado 40 anos após a criação do primeiro periódico brasileiro da área de comunicação, reveste-se de dupla alegria, no ano em que a ABEC – Associação Brasileira de Editores Científicos – comemora o seu 20° aniversário.

Agregar qualidade

O livro Preparação de revistas científicas – teoria e prática é constituído de quatro partes, numa seqüência que flui de forma bastante didática, em linguagem clara e precisa, sempre ‘revendo critérios’ com relação à: autoria científica; editoria científica; revista eletrônica; forma e conteúdo das revistas em comunicação. Há 9 capítulos, escritos por 13 autores, todos da área de ciência da informação, conforme pode ser verificado no currículo resumido apresentado nas páginas finais. As contribuições são provenientes de pesquisadores filiados a diversas instituições nacionais (ECNUSP, Fapesp, IBICT, UFAM, UFPI, UFPR, UFRGS, UFRN, UNIRIO e UnB), além de um pesquisador de instituição sediada na Espanha (Universidad Ramon Llull, de Barcelona), evidenciando o caráter de abrangência e diversidade das idéias apresentadas e discutidas, o que as enriquece ainda mais.

A publicação inclui aspectos de grande interesse para as revistas científicas de todas as áreas do conhecimento, embora, as organizadoras – pela sua formação acadêmica e vivência profissional em comunicação – tenham optado por utilizar exemplos desta área nos momentos de ilustração da prática. Assim, transitam no cenário construído pelo livro itens tais como: preparo de manuscrito para submissão a um periódico; conceituação de periódico científico; processo de autoria e co-autoria; sistema peer review; critérios de avaliação de revistas; impacto dos e-prints no processo de comunicação científica; editoração eletrônica; arquivos abertos; revistas científicas de comunicação no âmbito ibero-americano; critérios de qualidade e sua adequação às revistas da área de comunicação.

Trata-se de um produto concreto do projeto Revcom – Coleção Eletrônica de Revistas Científicas Lusófonas em Comunicação, ligado à Portcom – Rede de Informação em Ciências da Comunicação dos Países de Língua Portuguesa. A Portcom foi criada em 1981 pela Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – e é coordenada por Sueli Mara Soares Pinto Ferreira, professora da ECA/USP, uma das organizadoras do livro. Maria das Graças Targino, parceira de Sueli na organização do livro, também bastante conhecida no ambiente acadêmico da área de ciência da informação, é professora pesquisadora da UFPI e coordenadora do Núcleo de Pesquisa ‘Comunicação Científica e Ambiental’ da Intercom desde 2001.

Entre os objetivos do Revcom, citam-se o aumento da visibilidade e a melhoria da qualidade das revistas, objetivos estes perseguidos também pela ABEC, desde sua fundação (novembro de 1985). A ABEC tem se dedicado a promover eventos relacionados à editoração científica, procurando agregar profissionais interessados, oferecendo cursos de atualização, disponibilizando enfim um espaço para que editores de periódicos científicos brasileiros – das mais diferentes áreas da ciência – possam discutir as semelhanças e especificidades das suas revistas e, assim, caminhar juntos. Portanto, há muito em comum entre ABEC, Revcom, Portcom, Intercom, e outras instituições/iniciativas que têm interfaces com a editoração científica.

Tenho certeza de que o trabalho das professoras Sueli Mara e Maria das Graças muito contribuirá para que os atores participantes do cenário das revistas científicas brasileiras – autores, revisores, editores, leitores – possam encontrar subsídios para incluir cada vez mais qualidade nas suas ações dirigidas à publicação científica. Este é o caminho. Não simplesmente ‘publicar ou morrer’, como tem sido tão divulgado no ambiente científico, mas, acima de tudo, publicar com qualidade. [Brasília, agosto de 2005]

(*) Presidente da ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos)

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Repórter da Agência Fapesp