Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Blogueiros cansados de guerra

Tendenciosidade de mídia é uma coisa, mas sempre se aceitou bem tendenciosidades pessoais – afinal numa cultura livre, todos têm direito de exprimir suas próprias opiniões sobre o que quer que seja. O surgimento dos weblogs potencializou essa liberdade de manifestação. Ostentando a bandeira da tendenciosidade por opção, os blogs de guerra são, pelo menos para quem esteve ou está na guerra, a maior fonte de informações apuradas e realistas da invasão americana ao Iraque.

J.P. Borda é um dos centenas de exemplos. Ele começou seu blog em 2004, quando foi convocado pela Guarda Nacional a lutar no Afeganistão, para manter contato com sua família. Borda não está sozinho; descobriu que há inúmeros soldados no mundo inteiro, muitos dos quais com um inimigo comum: jornalistas. Foi assim que o analista de sistemas de 31 anos resolveu criar um sítio, Milblogging.com, para organizar, por país, setor militar e assunto, os blogs de militares espalhados pelo mundo. O sítio tem hoje mais de 1.400 blogs listados e acaba de ser comprado pelo Military.com, parte da Monster Worlwide Inc.

Movimento dos blogueiros militares

Os ‘milbloggers’, como são chamados os autores de blogs militares, afirmam que a grande mídia tende a exagerar no número de reportagens negativas e abafar ações positivas do exército. Muitos desses blogs, segundo Borda, ‘têm como objetivo único contradizer a mídia’. Sempre houve reclamações por parte do exército em relação à cobertura que a mídia dá aos conflitos liderados pelos EUA. Foi assim no Vietnã e é assim hoje. A diferença é que agora a internet permite que soldados e veteranos frustrados tenham voz para expressar suas opiniões, podendo ser lidos em qualquer lugar do mundo, instantaneamente.

Michael Yon, veterano das Forças Especiais do Exército americano, talvez seja o mais conhecido ‘milblogger’, tendo aparecido em programas da MSNBC e CNN. Em 2004 ele se infiltrou nas tropas americanas no Iraque e atualizou seu blog por diversos meses. A maioria dos textos de Yon reconheciam atos heróicos das tropas americanas e iraquianas. Ele também elogia parte da cobertura da mídia no conflito, mas em entrevista afirma que a maioria dos jornalistas ‘não ficaram infiltrados por tempo suficiente para ver o que está acontencendo. A maioria das reportagens não se aprofunda.’

Muitos milbloggers são críticos do governo Bush. Um deles, por exemplo, tem um relógio que conta dias, horas, minutos e segundos que se passaram desde que o presidente dos EUA prometeu capturar Osama bin Laden. O Pentágono, consciente do impacto desses escritos, montou um comitê de investigação desses blogs para os próximos meses. No front, o exército recebeu nota oficial sobre blogs, lembrando soldados a não publicar informações que vazem dicas ao inimigo. Alguns blogueiros já estão sendo contatados quando o comitê encontra textos que contenham informações consideradas imprecisas ou incompletas.

Segundo Mike Spector [The Wall Street Journal, 26/7/06], o futuro dos blogs militares, sob o prisma de Borda, seria uma expansão para a grande mídia, em que os escritores ganhassem seus próprios programas na TV ou suas próprias colunas nos jornais. O objetivo, diz Borda, ‘é continuar trespassando a linha que divide mídia de blogs.’