Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

David Johnston, Richard W. Stevenson e Douglas Jehl


‘Lewis Libby, chefe de Gabinete do vice-presidente Dick Cheney, ouviu pela primeira vez o nome de Valerie Plame – agente da CIA que é pivô de uma investigação que poderá incriminar altos funcionários da Casa Branca – numa conversa com Cheney, semanas antes de a identidade dela se tornar pública, disseram advogados envolvidos no caso, já conhecido como Plamegate. Segundo as fontes, anotações sobre a conversa – da qual não se tinha conhecimento e que aconteceu em junho de 2003 – parecem divergir do testemunho de Libby de que ele soube de Plame por jornalistas.


As anotações – feitas por Libby durante a conversa – pela primeira vez incluem Cheney no esforço feito então pela Casa Branca para se informar sobre o marido de Plame, Joseph Wilson IV. Na época, Wilson questionava informações da inteligência americana sobre o suposto programa nuclear do Iraque, usadas pelo governo para justificar a guerra.


Advogados envolvidos no caso descreveram as anotações para o ‘New York Times’. Elas mostram que Cheney soube que Plame trabalhava para a CIA mais de um mês antes de a identidade dela vazar para a imprensa, em julho de 2003. Indicam também que Cheney soube de Plame por George Tenet, então diretor da agência de inteligência, em resposta a perguntas que o vice fizera sobre o marido dela. Mas não sugerem que Cheney ou Libby soubessem na época que a identidade dela era secreta. A revelação da identidade de um agente pode ser crime nos EUA, mas só se a pessoa que a revelar souber que ela deveria ser mantida em segredo.


Não seria ilegal se Cheney ou Libby discutissem sobre uma agente da CIA ou sobre a ligação dela com um crítico do governo. Mas qualquer esforço de Libby para impedir que investigadores soubessem de sua conversa com Cheney poderia ser considerado pelo promotor especial Patrick Fitzgerald obstrução ilegal a seu trabalho.


Pesquisa: Bush perderia eleição para democrata


Fitzgerald deverá decidir se apresentará acusações sexta-feira, quando termina o prazo do grande júri (que analisa o caso preliminarmente para decidir se cabe um processo). Libby e Karl Rove, principal assessor político do presidente George W. Bush, poderão ser indiciados, disseram advogados.


As anotações ajudam a explicar as dificuldades legais de Libby. Advogados disseram que ele soube por jornalistas que Plame poderia ter tido um papel no envio do marido à África, em 2002, em busca de provas de que o Iraque adquirira material nuclear para seu programa armamentista. Mas as anotações, agora nas mãos de Fitzgerald, também indicam que Libby soube antes de Plame, por Cheney. Esta aparente discrepância em seu testemunho sugere o motivo pelo qual promotores estão analisando a possibilidade de acusá-lo de falso testemunho no que interpretam como um esforço de Libby para proteger Cheney das investigações, segundo advogados.


As anotações não mostram que Cheney sabia o nome da mulher de Wilson, mas sim que ela era funcionária da CIA e poderia ter ajudado o marido, e disse isso a Libby. Advogados disseram não haver indicação de que Fitzgerald esteja considerando uma acusação contra Cheney. O vice conversou com Fitzgerald sob juramento. Não se sabe se lhe contou sobre a conversa com Libby, mas uma prova de envolvimento indireto de Cheney no esforço para se informar sobre Wilson certamente vai intensificar a pressão política sobre a Casa Branca.


Uma pesquisa CNN/’USA Today’/Gallup indicou que a maioria dos americanos (55%) votaria num candidato democrata se houvesse eleições este ano e Bush pudesse disputá-las. O presidente receberia apenas 39% dos votos.’



Nicholas Kristof


‘Furacão Fitzgerald na Casa Branca’, copyright O Globo, 26/10/05


‘Antes de arrastar qualquer funcionário da Casa Branca para a cadeia, devemos fazer uma pausa e respirar fundo. Nos anos 90, vimos o estrago que promotores especiais podem fazer: eles se tornam obsessivos, ficam atrás de miudezas, afastam a nação do governo, frustrando mais do que servindo a justiça. Isso foi particularmente verdadeiro na perseguição fanática que Kenneth Starr moveu contra Bill Clinton.


Não sabemos que provas foram descobertas por Patrick Fitzgerald, mas deveríamos ficar inquietos com o que dizem sobre ele estar pensando em indiciamentos baseados em outras razões que não seu mandato básico: a investigação de possíveis violações da lei de 1982 que proíbe funcionários de revelar nomes de espiões.


Em vez disso, há rumores de que Fitzgerald está considerando outros tipos mais leves de indiciamento por perjúrio, obstrução da justiça ou revelação de informação confidencial. É claro que perjúrio descarado deve ser punido. Mas se as provas forem mais ambíguas, então os indiciamentos seriam uma quebra baseada em zelo excessivo do julgamento da promotoria que era uma desgraça quando os democratas eram o alvo. E seria também uma desgraça se os republicanos forem o alvo.


Há, é claro, um monte de provas de que a Casa Branca se comportou abominavelmente nesse caso. Fiquei ofendido pela idéia de um funcionário do governo secretamente usando a imprensa para atacar o ex-embaixador Joseph Wilson. Isso é ultrajante. Mas é crime?


Estou cético, mesmo que pareça ter havido uma campanha coordenada da Casa Branca contra Wilson. A Casa Branca estava claramente na trilha da guerra – mesmo antes de Wilson vir a público em seu artigo de julho de 2003 – para defender-se das alegações dele de que o governo tinha inventado informações sobre o Iraque.


Acho que o que houve foi uma discussão em que participantes numa reunião de alto nível da Casa Branca conversaram sobre a viagem de Wilson e suas acusações de que o governo tinha divulgado informações que sabia serem falsas sobre compra de urânio no Níger – e aí decidiram partir para a ofensiva. O vazamento da identidade de Valerie Plame resultou dessa ofensiva, mas pode ter sido negligência e não vingança.


Mas não há necessidade de exagerar. Para mim, a campanha sorrateira contra o ex-embaixador Wilson parece mais de punhaladas pelas costas, mas não crime óbvio. E se indiciamentos forem emitidos para funcionários da Casa Branca baseados em acusações vagas de revelação de informação confidencial, isso terá um efeito amedrontador sobre relatos de temas de segurança nacional. A ironia maior seria se terminasse por reforçar a capacidade do governo Bush de operar em segredo.


Por isso me dá repulsa a alegria que alguns democratas mostram com a possibilidade de Karl Rove e Libby serem levados embora algemados. Foi errado que promotores tenham fabricado indiciamentos técnicos durante o governo Clinton, e seria igualmente errado fazê-lo hoje. Sem provas claras de violação da lei, os ideólogos da Casa Branca devem ser retirados do poder por votos, e não por promotores. NICHOLAS KRISTOF é colunista do New York Times’



Peter Baker e Jim VandeHei


‘Reagan e Clinton, modelos para salvar o segundo mandato’, copyright O Globo / The Washington Post, 26/10/05


‘Enfrentando uma convergência de crises que ameaçam seu governo, Bush e sua equipe estão elaborando planos para salvar sua Presidência aplicando lições de dois chefes do Executivo anteriores e voltando a atenção para objetivos econômicos e de política externa.


Poucas vezes um presidente confrontou tantos acontecimentos danosos, que podem chegar ao auge esta semana. Um promotor especial poderá indiciar um ou mais altos funcionários do governo nos próximos dias. O próprio partido de Bush o pressiona a retirar a indicação de Harriet Miers para a Suprema Corte. E o número de soldados americanos mortos no Iraque atingiu uma marca importante: dois mil.


Para lidar com o que consideram os dias mais sombrios da Presidência de Bush, seus assessores desenvolveram uma estratégia dupla: confrontar diretamente problemas como as mortes no Iraque e voltar a atenção para outras áreas, como políticas econômicas conservadoras. Estão seguindo pistas deixadas por Ronald Reagan e Bill Clinton. Ambos enfrentaram escândalos no segundo mandato.


A estratégia da Casa Branca começou com o anúncio, anteontem, do novo presidente do Fed (banco central americano), Ben Bernanke, e continuou ontem com um discurso de Bush sobre o Iraque na base aérea de Bolling para tentar mostrar a guerra no Iraque como o melhor caminho para impedir um novo ataque aos EUA.


– Se você observar Reagan, que fez duas indicações (fracassadas para a Suprema Corte), perdeu o controle do Senado e teve o Irã-Contras, ele foi bem-sucedido nos últimos anos? Com certeza – diz Ken Mehlman, presidente da Comissão Nacional Republicana.


Assessores também estão estudando a estratégia de Clinton para sobreviver ao escândalo Monica Lewinsky e ao processo de impeachment que se seguiu.’



Rosa Brooks


Uma rede de proteção ampla demais ‘, copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 25/10/05


‘Os personagens do escândalo sobre o vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame voltaram-se uns contra os outros.


Lewis ‘Scooter’ Libby, chefe do gabinete do vice-presidente Dick Cheney e suspeito do vazamento, deixou a repórter Judith Miller definhando na cadeia à espera daquela crucial autorização para que ela o apontasse como fonte ao testemunhar. Judith agradeceu Libby com um testemunho que o deixou em maus lençóis perante a Justiça. Afirma-se que Karl Rove, o principal estrategista político da Casa Branca, e misteriosos vira-casacas no escritório de Cheney também apontaram Libby como o responsável pelo vazamento. Os colegas de Judith no jornal The New York Times dedicam-se a destruir sua antiga heroína. É o caso de se pensar: não existe mais aquilo que chamam de lealdade, não é?


Mas Judith Miller ainda tem muitos aliados quando se trata de discutir se o Congresso americano deveria aprovar leis para impedir os tribunais de forçar jornalistas a revelar suas fontes. Embora as ‘circunstâncias’ que levaram Judith à prisão ‘careçam do conforto da clareza moral’, como o editor-executivo Bill Keller escreveu tão delicadamente num memorando para sua desmoralizada equipe no New York Times, canais de mídia no país todo ecoaram o pedido da repórter por uma lei de proteção federal.


Isto é um erro.


O projeto em estudo no Congresso – sob o título risível de ‘Lei do Livre Fluxo de Informação’ – é espetacularmente patético. A lei protegerá criminosos tanto quanto jornalistas e impedirá o público de obter as informações necessárias para o processo de crimes.


Na forma atual, a legislação proposta proibiria totalmente os tribunais federais de obrigar os jornalistas a revelar a identidade de alguém que ‘considerem uma fonte confidencial’. A única exceção – na versão do projeto na Câmara – ocorreria quando a revelação da identidade de uma fonte fosse ‘necessária para evitar danos iminentes ou efetivos à segurança nacional’.


Certo. Daí um imitador de Jeffrey Dahmer conta a Judith Miller que comeu meia dúzia de pessoas no café da manhã e pretende comer mais seis no almoço. Investigadores pedem a Judith que revele a fonte de seu artigo a ser publicado em breve na seção ‘Grandes Receitas com Ingredientes Humanos’. Judith se recusa. Sob a lei proposta, investigadores e promotores não podem fazer nada. O imitador de Dahmer vai mastigando mais vítimas, enquanto Judith desfruta de uma série de furos jornalísticos vencedores do Prêmio Pulitzer.


É verdade que canibais não são algo comum. Mas a lei proposta poderia impedir agentes federais de investigar e processar efetivamente uma longa série de crimes graves, incluindo aqueles que envolvessem ameaças sérias, mas não ‘iminentes’, à segurança nacional. A legislação também tornaria praticamente sem sentido estatutos criminais federais existentes que proíbem a revelação de informações secretas, pois os responsáveis por vazamentos poderiam revelar essas informações a jornalistas impunemente, sabendo que as autoridades não exigiriam que os jornalistas divulgassem suas identidades.


De modo mais geral, a lei proposta permitiria que os jornalistas fossem inteiramente cooptados por suas fontes, que poderiam usá-los para alcançar seus próprios objetivos sujos – e às vezes criminosos.


Parece ter acontecido exatamente isso no caso Plame. Pode ter sido algo de rotina, mas ainda é algo sórdido, e a lei não deveria encorajar os políticos a usar os jornalistas para ajudar e instigar assassinatos de caráter politicamente motivados.


Isto não significa que os jornalistas não devam ter nenhum privilégio legal. Em vez de aprovar a lei proposta, o Congresso deveria codificar o que 9 das 12 circunscrições judiciais federais já fazem, de um jeito ou de outro: reconhecer um ‘privilégio qualificado’ para os jornalistas e exigir que os tribunais façam uma avaliação dos diversos interesses envolvidos.


Num caso criminal, por exemplo, se um promotor quer intimar um jornalista, este pode se apresentar e se recusar a revelar a informação solicitada. Fica então com o promotor o ônus de convencer o tribunal da importância crítica da informação desejada e provar a impossibilidade de obtê-la de outro modo. O juiz (e não o jornalista, nem o promotor, pois nenhum deles pode estar totalmente desinteressado) então decide se o interesse público da proteção da confidencialidade jornalística supera o interesse público da investigação e do processo dos crimes em questão.


Um privilégio qualificado para os jornalistas seria semelhante a outras formas de privilégio legal. Advogados, por exemplo, geralmente não são obrigados a divulgar informações confidenciais fornecidas pelos clientes, mas há uma exceção para situações em que o cliente procura usar o advogado para favorecer a perpetração de um crime ou fraude.


Judith nunca ficará satisfeita com um privilégio jornalístico qualificado porque, em seu caso, a Vara do Distrito de Colúmbia abriu o caminho para sua prisão determinando que ‘se tal privilégio se aplica neste caso, ele foi superado’ pelos argumentos do promotor.


Mas o restante da mídia não deveria comprar os argumentos de Judith em favor do privilégio jornalístico absoluto.


O ‘privilégio jornalístico’ não existe para o bem dos jornalistas – e certamente não existe para o bem de suas fontes. A única base para o privilégio jornalístico é o bem do público.’



Paulo Sotero


‘Cheney é implicado em vazamento ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/10/05


‘Depois de investigar durante quase dois anos o vazamento da identidade de uma agente do serviço clandestino da CIA, o promotor federal Patrick Fitzgerald deverá apresentar até cinco acusações criminais contra altos funcionários da Casa Branca numa entrevista coletiva programada, em princípio, para amanhã. Segundo informações de fontes confiáveis que começaram a circular ontem à noite em Washington, Fitzgerald encaminhou os documentos acusatórios ao Departamento de Justiça e notificou os alvos dos indiciamentos. Eles tomarão conhecimento das acusações hoje. Não estava claro, ontem à noite, quantas pessoas serão indiciadas e de que crimes elas serão acusadas.


A informação veio no fim de um dia dramático, em que uma notícia do New York Times mostrou que o vice-presidente Dick Cheney mentiu publicamente sobre o caso. E o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, sob uma avalanche de perguntas dos repórteres , deixou passar várias oportunidades de defender Cheney. Justificou suas respostas evasivas com o fato de que a investigação de Fitzgerald ainda está em curso.


O dia começou com a notícia de que Cheney sabia que Valerie Plame trabalhava para a CIA e passou a informação a seu chefe de gabinete, I. Lewis Scooter Libby, um mês antes de a identidade da espiã chegar à imprensa. Isso aconteceu por ação de pelo menos dois altos funcionários da administração – supostamente o próprio Libby e o assessor político da Casa Branca, Karl Rove, o arquiteto da carreira política do presidente George W. Bush. A revelação foi feita pelo Times com base em anotações de um encontro com Cheney feitas por Libby. O jornal atribuiu a informação sobre a existência de tais anotações, que até agora era desconhecida, a ‘advogados envolvidos no caso’.


O vazamento da identidade de Plame ocorreu em julho de 2003, depois que o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, tornou-se um crítico da guerra do Iraque e acusou publicamente a Casa Branca de ter distorcido propositadamente informações recebidas da CIA para justificar a invasão do país. Em setembro de 2003, Cheney negou publicamente que sabia sobre o caso Plame e disse mesmo que desconhecia que Wilson fizera uma viagem ao Níger, a serviço do Departamento de Estado, para verificar a veracidade de informação segundo a qual Saddam Hussein tentara comprar urânio no país africano.


A informação, que o Times deu em manchete, sugeriu, no mínimo, que o vice-presidente faltou com a verdade ao povo americano e deu força ao que já chamam de ‘furacão Fitzgerald’. Ele deve atingir a capital americana amanhã, um dia antes do término do mandato do júri de instrução formado para examinar as evidências. Fitzgerald causará estragos consideráveis para o presidente George W. Bush e a seu governo se indiciar Libby, Rove e outros funcionários de alto escalão. A hipótese é levada a sério entre conservadores, engrossando o suspense que domina a capital americana há semanas.


Embora não prove que Cheney violou lei, a informação segundo a qual o vice-presidente soube do vínculo de Plame com a CIA pelo então diretor da agência, George Tenet, e passou a informação a Libby, colocou o vice de Bush no centro da controvérsia que consome a Casa Branca e os meios políticos e tornou-se emblemática da decisão da administração de ir à guerra contra Saddam.


Além disso, ela trouxe à tona mais um indício de que Libby mentiu ao júri de instrução e poderá ser formalmente acusado de crime de perjúrio. Pelas informações disponíveis até agora, em seu primeiro depoimento a Fitzgerald o alto funcionário disse que ouviu o nome de Plame de jornalistas que o procuraram em busca de informações sobre o caso. Esta versão foi desmontada pela informação publicada pelo Times.


É plausível, também, que Libby venha a ser indiciado por tentativa de obstrução das investigações.’



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‘Furacão Fitzgerald abala a Casa Branca ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 26/10/05


‘O encarregado do caso do vazamento tem fama de incorruptível e já acusou de Bin Laden a Gambino


O homem que há dois anos tenta determinar quem na Casa Branca revelou a identidade de uma agente secreta da CIA é conhecido por seu empenho em atacar terroristas, mafiosos e políticos corruptos. Patrick Fitzgerald, filho de imigrantes irlandeses pobres, nascido em 1961, começou sua carreira em Nova York, onde instruiu o processo contra o célebre capo mafioso John Gambino, acusado de envolvimento em tráfico de drogas.


O chamado ‘furacão Fitzgerald’ participou também da instrução contra o líder da rede terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden, ao acusar quatro de seus cúmplices de participação nos atentados simultâneos contra as Embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998. Depois, liderou a acusação contra o xeque Omar Abdel Rahman pelo atentado de 1993 contra o Word Trade Center.


Em 2001 mudou-se para Chicago, onde se tornou promotor federal da região. Logo investiu contra o establishment político local, acusando o ex-governador George Ryan e vários assessores do poderoso prefeito Richard Daley em diferentes casos de corrupção.


Nos últimos meses, ganhou a primeira página dos jornais ao mandar para a prisão a jornalista Judith Miller, do New York Times, pela recusa dela em revelar suas fontes no caso da revelação da identidade da agente secreta da CIA Valerie Plame – mulher do ex-embaixador Joseph Wilson, que desmentiu publicamente a justificativa do governo de George W. Bush para invadir o Iraque, em 2003.


O homem que pode nos próximos dias acusar o assessor político de Bush, Karl Rove, e o chefe do gabinete do vice-presidente, Dick Cheney, Lewis Libby, nunca foi acusado de parcialidade. Ao contrário, é quase sempre comparado a Elliot Ness, o policial incorruptível do FBI, convertido em herói após a prisão do gângster Al Capone.’



Folha de S. Paulo


‘‘Times’ liga Cheney a caso de vazamento ‘, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/05


‘O escândalo criado pela identificação de uma agente secreta da CIA e pelo possível envolvimento de dois importantes assessores da Casa Branca chegou ontem ao vice-presidente Dick Cheney, embora não haja provas de sua cumplicidade na operação.


O ‘New York Times’ revelou ontem que um dos advogados de Lewis ‘Scooter’ Libby, chefe-de-gabinete de Cheney, disse que seu cliente ficou sabendo pelo próprio vice-presidente -e não pelos jornais, conforme afirmara em depoimento anterior- que Valerie Plame trabalhava para os serviços de inteligência americanos.


Revelar a identidade de uma agente pode ser crime. Há um inquérito aberto sobre a questão. O promotor responsável, Patrick Fitzgerald, anunciará até sexta-feira a conclusão de suas investigações. Poderá indiciar Libby e também Karl Rove, o principal assessor político do presidente George W. Bush.


Valerie Plame, a agente da CIA cuja carreira foi arruinada ao ser identificada, é mulher do ex-diplomata Joseph Wilson.


Em 2002, Wilson foi encarregado de verificar se o governo do Níger havia vendido urânio para o Iraque de Saddam Hussein. De volta do país africano, ele relatou em privado que a informação não tinha nenhum fundamento.


Eis que suas conclusões vazaram para o ‘Washington Post’ e, em seguida, para ‘New York Times’. O que deixou Bush furioso, pois a Guerra do Iraque, com preparativos já desencadeados naquela época, tomava como base a hipótese de Saddam ter armas de destruição em massa.


O que se insinua veladamente é que a Casa Branca procurou se vingar de Wilson. E, para fazê-lo, ‘queimou’ profissionalmente a mulher dele, a agente da CIA.


A identidade de Valerie Plame foi pela primeira vez revelada pelo colunista Robert Novak, em julho de 2003. Novak tem sua coluna publicada por dezenas de jornais.


Outro jornalista, Matthew Cooper, então na revista ‘Time’, também identificou a agente. Uma terceira jornalista envolvida foi Judith Miller, do ‘New York Times’, que se recusou a revelar sua fonte e permaneceu presa 80 dias. Seu informante havia sido Libby, o chefe-de-gabinete de Cheney, conforme ele próprio o anunciou.


O problema estava em saber se Libby deu à repórter uma informação que já era pública ou se, ao contrário, ele -e, por extensão, Cheney- participava da operação para se vingar de Wilson.


Segundo a versão do advogado de Libby, quem disse a seu cliente que Plame trabalhava para a CIA foi o próprio vice-presidente. Este, por sua vez, recebeu a informação do então diretor da CIA, George Tenet. Detalhe importante: até aquele momento o nome de Valerie Plame não tinha sido revelado em público.


Bush reuniu anteontem Libby e Rove e disse que não poderia manter em sua equipe assessores indiciados. A possibilidade de Rove deixar o governo -ele é o principal assessor de Bush há dez anos, desde a candidatura dele a governador do Texas- criaria uma imensa dificuldade para o presidente, que perderia seu maior articulador político.


Em termos práticos, Libby pode ser indiciado não apenas por ter aberto a identidade de uma agente da CIA mas também por falso testemunho, já que ele disse, ao depor, que revelara um nome que já estava na mídia. Se ele mentiu, foi para proteger Cheney, cuja situação também agora se complica, embora anotações de Libby em poder do promotor não ponham em primeiro plano o papel do vice-presidente americano.


Em seu briefing de ontem, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, negou-se a comentar as informações do ‘New York Times’. Disse aos repórteres que o indagaram que não responderia ‘a perguntas baseadas em especulações e a prejulgamentos’.’



BBC EM CRISE


Fernando Duarte


‘BBC lançará canal de TV em árabe’, copyright O Globo, 26/10/05


‘Nem só de cortes e reajustes viverá a BBC nos próximos anos. A corporação anunciou ontem a criação de um canal de TV em árabe, com lançamento previsto para 2007.


Esta será a segunda iniciativa do gênero na BBC. Em meados da década de 1990, juntamente com a empresa de mídia saudita Orbit, a corporação lançou um serviço em árabe, mas o projeto naufragou em 1996, devido a uma disputa entre as duas partes sobre controle editorial.


No mesmo ano, a rede árabe do Qatar al-Jazeera foi criada, recrutando muitos profissionais antes a serviço da BBC. A al-Jazeera, por sua vez, lançará um canal de notícias em inglês no ano que vem.


De acordo com a BBC, o novo serviço em árabe vai funcionar inicialmente 12 horas diárias e será financiado com recursos provenientes dos cortes de custos no World Service, o serviço internacional de programas de rádio e sites de internet em 43 línguas, incluindo árabe, farsi e pushtu.


Em março de 2006, serão extintas as divisões búlgara, cazaque, checa, croata, grega, húngara, polonesa, eslovaca, eslovena e tailandesa, com a perda de 218 empregos.


Além das razões financeiras, muitos dos serviços extintos eram vistos como uma anomalia temporal e sem peso relevante na audiência de 149 milhões de ouvintes semanais e 20 milhões de internautas mensais.


A divisão brasileira será mantida, mas sofrerá uma redução de atividades e de pessoal, embora vá ter um novo escritório em São Paulo – o único da BBC em toda a América Latina.


– Muitos dos serviços em questão têm suas raízes na Segunda Guerra Mundial e serviram exemplarmente suas populações durante a Guerra Fria. Mas a Europa mudou significativamente e muitos desses países agora fazem parte da União Européia – explicou Nigel Chapman, diretor do World Service da BBC.’



Folha de S. Paulo


‘BBC lança TV em árabe e fecha serviço em 10 línguas’, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/05


‘A rede britânica BBC anunciou ontem que lançará um canal de TV em árabe a partir de 2007 com transmissões 24 horas por dia. A intenção é concorrer com a Al Jazira, TV baseada em Qatar. Para viabilizar o projeto, que foi orçado em US$ 33,6 milhões, a BBC irá encerrar as transmissões em búlgaro, croata, tcheco, grego, húngaro, cazaque, polonês, eslovaco, esloveno e tailandês a partir de março de 2006.’



NEW TIMES MEDIA


Richard Siklos


‘Aquisição cria rede de 17 jornais gratuitos ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 25/10/05


‘A New Times Media fechou acordo para comprar a Village Voice Media, a companhia que edita o The Village Voice e outros cinco jornais alternativos nos EUA. O acordo vai criar uma rede de 17 semanários gratuitos espalhados pelo país, com uma circulação combinada de 1,8 milhão de exemplares.


A fusão – na semana do 50º aniversário do Voice – sem dúvida levantará questões sobre a possibilidade de este jornal e seus irmãos, integrando uma crescente corporação, preservarem as raízes anti-sistema.


No entanto, num cenário cada vez mais difícil no mercado da mídia, uma questão igualmente importante é saber se a junção dará à rede – que incluirá o LA Weekly em Los Angeles, o SF Weekly em São Francisco, o Miami New Times e o Dallas Observer – a força editorial e financeira para enfrentar os concorrentes gratuitos, tanto impressos quanto online.


James Larkin, presidente e executivo-chefe da New Times, afirmou em entrevista que a fusão, diferentemente do que acontece no setor mais amplo dos jornais (onde a aglomeração tem motivado acusações de uniformidade e cobertura padronizada), ‘permite que fiquemos mais fortes e tenhamos conteúdo mais forte’.


A questão mais urgente levantada pelo acordo é como ele será recebido pelos reguladores antitruste, com quem os parceiros da fusão já tiveram um confronto. Em 2002, o Departamento de Justiça americano acusou a New Time Media, maior empresa desse segmento nos EUA, e a Village Voice Media de conluio, e bloqueou um acordo entre as empresas destinado a fechar publicações que davam prejuízo em Los Angeles e Cleveland.


Como resultado, esses jornais foram vendidos para outras editoras, e as companhias assinaram um termo de compromisso em 2003 no qual não admitiram irregularidades mas aceitaram que sua planejada combinação passasse por um profundo exame regulatório. Como parte desse acerto, as empresas concordaram que qualquer novo acordo nos cinco anos seguintes teria de ser submetido à aprovação do governo.


Além disso, depois que um artigo especulando sobre o acordo foi publicado, há vários meses, por um semanário rival de São Francisco, a procuradoria-geral da Califórnia avisou a New Times que esperava ser notificada sobre qualquer transação. Larkin descreveu o termo de compromisso como um inconveniente resultante de mau aconselhamento legal.


Embora não haja dinheiro mudando de mãos, pessoas envolvidas na fusão avaliaram as companhias combinadas em cerca de US$ 400 milhões. A nova empresa, que continuará a usar o nome Village Voice Media, é na prática uma aquisição pela New Times, cujos acionistas vão deter 62% da nova empresa e cinco das nove cadeiras do conselho diretor.’



Folha de S. Paulo


‘Jornal ‘Village Voice’ se une à New Times Media’, copyright Folha de S. Paulo, 25/10/05


‘Um dos mais famosos jornais da contracultura norte-americana, ‘The Village Voice’, anunciou ontem uma fusão com a New Times Media, maior editora de jornais alternativos dos EUA. O valor do acordo não foi divulgado. A nova empresa se chamará Village Voice Media e terá uma circulação de 1,8 milhões de jornais e 4,3 milhões de leitores. Conhecido por suas reportagens anti-establishment, o ‘Village Voice’ venceu três vezes o Prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo. Se a fusão for aprovada pelos órgãos reguladores, o jornal deve fechar no começo de 2006.’



EM BUSCA DO…


Eduardo Fradkin


‘Crônicas atemporais, ao estilo carioca’, copyright O Globo, 26/10/05


‘Nostalgia, política, pornografia, alta sociedade, baixo clero, lingüística e o próprio umbigo. O amálgama de assuntos e a plêiade de personagens famosos espargidos nas páginas de crônicas do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos só não são mais profusos que seu vocabulário, onde palavras incomuns se coadunam com gírias e expressões informais na maior naturalidade. Sério. Sem sacanagem.


Reunidas sob o título ‘Em busca do borogodó perdido’, 32 dessas crônicas ganharam as páginas de um livro, da editora Objetiva. O lançamento, com sessão de autógrafos, será hoje, a partir das 19h30m, na loja de roupas Maria Bonita Extra, na Rua Aníbal de Mendonça 135, em Ipanema. É o quarto livro de Ferreira dos Santos e seu segundo exclusivamente de crônicas. A escolha da plataforma de lançamento poderia, por si só, ensejar uma pequena crônica.


– Nada contra as livrarias, espaços tradicionais desses lançamentos. Mas o livro fala muito de mulheres, tem o umbigo de uma delas na capa, discute os modismos da cidade. Lançá-lo no meio das últimas novidades para o próximo verão é uma idéia coerente com o espírito da coisa. Crônica é a literatura de bermudas. Se as minhas forem como as da Maria Bonita, ótimo – justifica o autor, sem resquícios de parlapatice, uma de suas palavras favoritas.


Ao reeditar seus textos publicados no GLOBO, o escritor se preocupou em fazer uma seleção criteriosa. Muita coisa foi reescrita e também há três inéditos.


– Crônicas de jornal costumam ficar datadas. Comentam, passam de passagem por assuntos da semana, fazem referências a coisas que naquele momento são impressionantes mas das quais um ano depois ninguém se lembra mais. Procurei as menos perecíveis, aquelas que se aproveitavam de acontecimentos para tirar explicações maiores e duradouras. Outras são absolutamente atemporais, como a garimpagem de palavras que estavam se perdendo no linguajar do dia-a-dia – observa.


Repercussão, negativa ou positiva, é imprevisível


Num dos episódios, Ferreira dos Santos lembra o jornalista americano Hunter Thompson, que costumava xingar seus interlocutores quando queria inflamar a entrevista. Certa vez, apanhou de um motociclista do bando Hell’s Angels, que não gostou do que escrevera. Ferreira dos Santos nunca teve semelhante dor de cabeça (e de outros membros), mas tampouco está livre de críticas.


– Qualquer texto de jornal tem repercussão imprevisível. Podem provocar elogios, mas as críticas surgem de onde menos se espera. Outro dia falei de um botequim simpático do Leblon e usei a expressão fuleiro. No bom sentido, ao estilo carioca. A turma que bebe lá não gostou e encheu minha caixa postal – comenta.


‘Em busca do borogodó perdido’ é dividido em blocos. Eles abordam, segundo o próprio autor, o mundo das celebridades, com suas festas e programas; as mulheres, suas inquietações e modismos; as gírias de ontem e hoje e o cotidiano carioca, com direito a comparações entre bares do Rio e de São Paulo.


– Algumas dessas crônicas partem da reportagem pura e simples, como o casamento de Angélica e Luciano Huck e um desfile de Gisele Bündchen. O truque da crônica é comentar isso de um jeito que não cumpra os paradigmas do jornalismo. Uso primeira pessoa, divago, faço comparações e associações. Rubem Braga dizia, numa tentativa de identificar o gênero: o que não é agudo, é crônica – cita.


Entre as influências dele, contam-se o próprio Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino.


– Mas acho que esses mestres têm uma vertente literária mais evidente. Eu sou de origem jornalística, acredito que o texto de uma reportagem pode ter tanto brilho quanto um conto, um romance – opina.


Na constelação de nomes que provocam inveja, está ainda o de Carlos Heitor Cony, por ser capaz de escrever uma ótima crônica em 15 minutos.


– Morro de inveja, mas não consigo. É um exercício doloroso, às vezes, mas quem mandou ter faltado às aulas de português. – brinca Ferreira dos Santos. – O tempo que se leva para escrever um texto varia muito. O importante é que saia bom. O fato de levar um dia, e às vezes é o que eu levo em cima de meia página, não deprecia o produto final, desde que ele saia bom.


Uma das três crônicas inéditas do livro discute a saudade, investigando quando o brasileiro começou a implicar com a palavra e a desmerecê-la. Outra é sobre o umbigo, em louvor à moça da capa. A que encerra o livro é sobre Carlos Zéfiro e se chama ‘Ele ensinou o Brasil a transar de luz acesa’.


– O texto do Zéfiro é um pretexto para discutir sexualidade e repressão, como os costumes evoluíram e estão melhores. Esse tipo de crônica, de assuntos que pairam sobre o inconsciente coletivo, como a comida caseira que vai desaparecendo das mesas, é a que fala ao maior numero de pessoas – conclui.’