Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

É grave mas ninguém dá bola

Vem acontecendo há tempos, uma cortina de seda, escorregadia, cobrindo a função da imprensa, mas ninguém dá bola.

De um lado, os empresários da mídia, preocupados com o resultado imediato, engolfados pelo avanço tecnológico e colapsos monetários previstos – que inicialmente informaram ao público que era uma crise financeira – hoje, já começam a assumir que também é uma crise monetária; de outro lado, a mediocridade dos profissionais, forjada pelo medo de perder (ou febre de ganhar) o emprego.

No meio, por cima e por todos os lados, o público em geral, sem saber como lidar com a enorme facilidade de utilização da internet para praticar a liberdade de expressão, mas vai em frente e inunda a rede com toda a sorte de lixo, do existencial ao de princípios e conhecimento. Tudo bem, mas vai tudo mal. Viva a liberdade de expressão, mas o descarte avacalhado de resíduos na rede é enorme.

Onde está o problema? A desinformação impõe riscos graves. Um deles é que fica mais fácil manipular os incautos e ingênuos, que podem ser a maioria, basta espalhar vários boatos contraditórios, qualquer verdade se dilui, pelo menos durante algum tempo, quando se solidificar pode ser tarde. O título do livro de Edney Silvestre, Se eu Fechar os Olhos Agora, não poderia ser mais sintomático. Chico Buarque ganhou o Prêmio Jabuti, prêmio literário de maior prestígio no país, mas foi o segundo lugar… Corre na internet uma petição para que ele devolva o prêmio, mas raramente uma metáfora foi tão precisa, não adianta chorar sobre o Leite Derramado (título do livro de Chico que venceu o Jabuti).

Celebridades

Quanto ao jornalismo, quem sai ganhando, no Brasil, é o governo que aproveita e força a barra para plantar grilhões, e vai plantar. Pois até os melhores representantes da contracultura e de épocas de protesto estão sucumbindo ao dinheiro fácil das engrenagens implantadas no país por este governo. Chico, por exemplo, foi a público defender Dilma, nas eleições, até aí tudo bem, mas ao afirmar que estava ali ao lado da candidata (no teatro Casa Grande) como ‘papagaio de pirata’, papagaio, que repete, pirata, que rouba, foi aplaudido e a imprensa não chamou a atenção do público para a importância dos significados, conceitos, porque, ora, é muita sutileza num mar de informação quente de desvios de conduta e crimes que ninguém dá mais bola. Daí, se fecharmos os olhos agora, quando abrirmos talvez seja muito tarde, se já não for…

Em outro ponto, sempre voltando ao ambiente digital, em recente seminário com a pompa de ser internacional, sobre mídia online, patrocinado pelo maior banco privado do país, as celebridades para falar de jornalismo online foram dois produtores de besteirol eletrônico, Marcelo Tas e Kibe Loco. Fazer o que…

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Jornalista e escritor