Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

A imprensa alternativa nos anos 1970

[do release da editora]

Será lançado no próximo dia 28 de junho, no restaurante Carpe Diem da 104 Sul, às 19 horas, em Brasília, o livro Jornal da Década de 70, que resgata o papel da imprensa alternativa entre dezembro de 1968 e a decretação da Anistia em 1979. A publicação, do jornalista Antonio de Pádua Gurgel, mostra a importância dos veículos na luta contra a ditadura e na divulgação da contracultura.

O autor idealizou o projeto em 2002, quando concluía A Rebelião dos Estudantes, livro de reconstituição histórica do movimento estudantil em 1968 que termina com a edição do AI-5, em dezembro daquele ano. A partir daí, houve uma neutralização total das manifestações contra o governo. Os dois episódios que romperam a letargia aconteceram numa mesma semana, só em setembro de 1969: o sequestro do embaixador americano, Charles Elbrick, e o lançamento da primeira edição do Pasquim.

“No rastro do Pasquim, surgiram inúmeras publicações em todo o Brasil que passaram a expressar a inconformidade de amplas camadas da classe média contra os militares. Em Brasília, não podia ser diferente. Até então, o formato dos jornais era extremamente careta: standard (jornalão), seis ou oito colunas, uma ou outra foto, algumas ainda em clichê, pouquíssimas ilustrações, praticamente nenhum espaço em branco. Os jornais alternativos surgiram num momento em que as gráficas estavam se modernizando. Aproveitaram os recursos do off-set e abusaram da criatividade, enchendo de curvas as publicações. Também era necessário muita criatividade para transmitir mensagens de protesto contra a situação política, pois um vacilo poderia render no mínimo uma sanção contra o jornal. A cadeia era também um destino possível e a história de Vladimir Herzog mostra que a raiva dos militares podia chegar a situações extremas. Como eu tinha participado de ambos os momentos, o estudantil de 1968 e o da imprensa nanica, e estava terminando um livro sobre 1968, nada mais natural do que continuar o projeto focalizando a década de 1970”, explica o autor.

O surgimento do Pacotão

Em formato tabloide (21 cm x 29 cm), o Jornal da Década de 70 reproduz todas as edições dos jornais alternativos Tribo e Cidade Livre, que circularam em Brasília durante o período.

O processo de produção do primeiro era meio caótico: as pessoas entregavam o material, faziam uma seleção sem critérios muito definidos, onde cabia desde poema-imagem, um “ensaio estético-elétrico-filosófico…”, matérias sobre o lançamento do álbum histórico “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos, resenha do filme Satyricon, de Fellini, um texto anarco-tropicalista, entrevistas com Gilberto Gil, Arnaldo Jabor e Lúcio Costa. Ao receber os editores, o criador de Brasília proclamou: “Se vocês são da Tribo, eu sou o pajé”. Já o Cidade Livre era um jornal mais estruturado, do qual participavam jornalistas profissionais por meio de uma cooperativa que também incluía novatos e até não-jornalistas. Uma de suas funções era veicular matérias que jamais seriam veiculadas pela chamada “grande imprensa”. Tinha reunião de pauta, grandes reportagens sobre problemas como transporte coletivo, moradia, a questão indígena, prostituição, jornais sensacionalistas e a redemocratização do Brasil. O que unia os dois é que nem um nem outro tinha departamento comercial.

Jornal da Década de 70 traz textos de Merval Pereira, Eliane Cantanhêde e outros jornalistas, além de reproduzir outras publicações, documentos e textos relativos à década de 70. Um deles, escrito pelo jornalista Moacir Oliveira Filho (Moa), focaliza o surgimento do Pacotão, um dos mais tradicionais blocos de carnaval de Brasília.

Colaboradores

Os capítulos são editados como matérias jornalísticas, inclusive no que se refere à diagramação. Para a realização do trabalho, foram consultados os arquivos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, da Universidade de Brasília e textos particulares. “Reunir o material foi extremamente interessante e terapêutico, pois voltei algumas décadas no tempo, revisitando episódios que marcaram minha vida”, diz o autor. O livro conta com 220 páginas e é editado pela Pro Texto Editora. Quem patrocina o projeto é a Eletrobras e a Engevix Engenharia, por meio da Lei Rouanet.

O livro traz ainda fotos cedidas por Marcos Santilli, Elza Fiúza, Cedoc da UnB, Carmen Coaracy e Mila Perilo, algumas delas conseguidas por Simone Cavalcante, que auxiliou na produção. Outras pessoas também contribuíram com fotos e de outras maneiras foram Pedro Abelha, Kácio, Aurélio Michiles, Giselda Caixeta, Maria do Rosário Caetano, Valéria Machado Colela, Maristela Nascimento, David Emerick, David Renault, Luiz Martins, Jefferson Tommasi (Pedro Mico, ou Dropê) e tantos outros. Os nomes de todos aqueles que colaboraram de alguma forma com os jornais Tribo e Cidade Livre preenchem toda a última página do livro.

Sobre o autor

Formado em Comunicação pela Universidade de Brasília em julho de 1976, Antonio de Pádua Ferreira Gurgel atuou em vários veículos de comunicação em Brasília, Vitória e Rio de Janeiro, como O Globo, Correio Braziliense, Gazeta Mercantil, Editora Abril, SBT e outros. Participou ativamente dos jornais Tribo e Cidade Livre na década de 70. Já atuou como assessor de imprensa de diversas empresas e já publicou e/ou editou mais de 40 livros. Entre eles, merecem destaque A Rebelião dos estudantes – Brasília, 1968, Ferrovia – um projeto para o Brasil, O menino da ilha – história de um líder popular e O Brasil vai às urnas – retrato da campanha presidencial de 1989. Atualmente, é sócio-gerente da editora e produtora de cine-vídeo Pro Texto Comunicação e Cultura.

Local do lançamento: Restaurante Carpe Diem, 104 Sul, Brasília, 28/6/2012, às 19 horas; vendas: www.editoraprotexto.com.br