Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Fernando Duarte

‘O governo britânico enfim conseguiu algum espaço para respirar em meio ao bombardeio de críticas e acusações envolvendo a tortura de prisioneiros no Iraque. Num pronunciamento no Parlamento, o ministro das Forças Armadas, Adam Ingram, afirmou que as fotos de abusos publicadas no sábado pelo tablóide sensacionalista ‘Daily Mirror’ não são autênticas. Segundo autoridades militares, as fotos não foram tiradas no Iraque e teriam como cenário o quartel do Regimento Real de Lancashire, em Preston, norte da Inglaterra.

Além das imagens, o ‘Mirror’ divulgara depoimentos de soldados do Regimento de Lancashire que teriam testemunhado espancamentos e abusos de prisioneiros iraquianos, no que foram as primeiras informações sobre o envolvimento britânico nas denúncias de tortura, antes restritas às tropas americanas. Mas as dúvidas lançadas sobre as fotos por outros jornais britânicos desviaram totalmente as atenções para a conduta do jornal, em especial de seu editor-chefe, o polêmico Piers Morgan. Autoridades militares exigem uma pedido formal de desculpas do jornal. Os políticos exigem a demissão de Morgan. Ele já disse que o ‘Mirror’ não iria se desculpar por ter ‘chamado a atenção para um problema maior do que as fotos’. As dúvidas sobre as fotos do ‘Mirror’ surgiram praticamente no mesmo dia em que foram publicadas.

– As fotos definitivamente não foram tiradas no Iraque e espero que Morgan coopere com a investigação. As tropas britânicas foram demonizadas sem prova concreta alguma – disse Ingram.’



PARAGUAI
Cláudio Camargo, Mário Simas Filho e Alan Rodrigues

‘Reação truculenta’, copyright IstoÉ, 14/05/04

‘O governo do Paraguai dá mostras de que sente saudade da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989) e na última semana recorreu a alguns de seus típicos métodos de intimidação. Depois de permanecer um mês fazendo ouvidos moucos às revelações feitas por ISTOÉ sobre o falso atentado contra o vice-presidente Luis María Argaña, ocorrido em março de 1999, as autoridades paraguaias iniciaram uma truculenta ofensiva contra todos aqueles que contestam a história oficial. Na quarta-feira 12, o Partido Colorado – no poder há quase 60 anos, a maioria praticamente como partido único – aprovou uma resolução acusando setores da imprensa de ‘manipular informações, destruir reputações e ameaçar a estabilidade institucional do Paraguai’ ao insistir na reabertura das investigações sobre a morte de Argaña. O alvo preferencial foi o jornal ABC Color, o maior do país, o único no Paraguai a divergir da versão oficial e que tem reproduzido diversas reportagens de ISTOÉ sobre o tema. A reação do governo foi típica de quem põe a culpa no termômetro pela febre do paciente. Um presidente que nada tem a temer certamente estaria empenhado em esclarecer definitivamente uma das mais kafkianas páginas da história recente do Paraguai. Em agosto do ano passado, ISTOÉ comprovou, com base em pareceres científicos, que Argaña já estava morto quando seu carro foi emboscado em uma rua no centro de Assunção. Nas últimas semanas, a revista tornou público os depoimentos de Luis Recasens Molinas – ex-secretário particular de Argaña – e do motorista Víctor Barrios Rey, único sobrevivente do falso atentado. Ambos revelaram detalhes da farsa, apontando, inclusive, os responsáveis por sua montagem, entre eles o atual presidente, Nicanor Duarte Frutos, do Partido Colorado.

Na mesma quarta-feira em que os nostálgicos da ditadura tentavam tapar o sol com a peneira, o presidente Duarte Frutos determinou ao comandante das Forças Armadas, general José Key Kanazawa, que colocasse as tropas nas ruas. Kanazawa determinou que seus comandados intensificassem as ‘medidas de segurança e inteligência’ para capturar o general Lino César Oviedo, ex-comandante do Exército paraguaio e ex-candidato presidencial colorado, que está exilado no Brasil. Condenado a dez anos de prisão por uma suposta tentativa de golpe de Estado em 1996, ele é acusado de ter sido o mentor intelectual do assassinato de Argaña, seu adversário político no Partido Colorado. Preso em Foz do Iguaçu em 2000, Oviedo teve sua condição de perseguido político reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, que por unanimidade recusou sua extradição. Na semana passada, o general concedeu entrevista a ISTOÉ em que reafirma sua intenção de voltar ao Paraguai para provar sua inocência e disputar a Presidência da República.

Ao envolver os militares em uma tarefa policial, o presidente Duarte Frutos lança mão de uma medida intimidatória de duplo sentido. Por um lado, procura inibir a volta de Oviedo ao Paraguai; por outro, cria-se no país um clima de medo, que pode impedir o surgimento de novas testemunhas sobre a morte de Argaña.

Ameaça – A truculenta reação das autoridades paraguaias, porém, não se limita às manifestações oficiais. Na última semana, homens não identificados, mas falando em nome do governo, fizeram ‘visitas’ ameaçadoras a várias pessoas que poderiam contar mais detalhes sobre as estranhas circunstâncias que cercaram o suposto atentado contra o vice-presidente. Umas das visitadas foi uma ex-funcionária da Villandry, a maior floricultura de Assunção. Na terça-feira 11, ela conversou com ISTOÉ. Disse que, na noite que antecedeu o falso atentado, a floricultura recebeu um pedido para a confecção de uma coroa de flores para Argaña. Tal pedido, segundo a ex-funcionária, foi feito entre 22h30 e 23h e partiu de uma mulher que ela não soube identificar. ‘Na manhã seguinte, quando se noticiou a morte de Argaña, todos os funcionários comentavam sobre o telefonema’, disse. Ela também esclareceu que a coroa não chegou a ser feita, pois o pedido não foi confirmado, mas o telefonema chegou a ser registrado no computador da floricultura. Na quarta-feira 12, a ex-funcionária da Villandry, assustada, pediu que seu nome não fosse revelado, nem que a identificassem em fotografias. Ela se recusou a contar detalhes sobre sua decisão.’



CHINA
O Estado de S. Paulo

‘TV chinesa filtra cenas ocidentais’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/05/04

‘Os programas que promovem a ideologia ocidental, o modo de vestir extravagante e tudo o que se assemelhe ao comportamento americanizado estão proibidos nas emissoras de TV da China desde sexta-feira. Segundo a nova norma da Administração Estatal de Rádio e Televisão da China, ‘os programas que promovem a ideologia e a política ocidental não poderão ser importados’.

Além disso, os apresentadores de televisão não poderão usar figurino ‘demasiado moderno’ ou provocativo, uma tendência muito em voga entre os jovens apresentadores de TV chineses.

‘Pretendemos reduzir o impacto negativo das extravagâncias dos apresentadores de televisão sobre os jovens’, afirmou Xu Caihua, responsável pela Administração de Cultura, Rádio, Cinema e Televisão de Shangai. A norma afetará algumas estrelas muito criticadas por sua atuação, como a conhecida Zhang Yue, apresentadora da Televisão Central da China (CCTV), que apareceu recentemente ostentando um controvetido lenço similar à bandeira do Japão, histórico inimigo da China.

Mas também afetará aqueles profissionais ‘que imitam de propósito os sotaques de Hong Kong ou de Taiwan, ou utilizam vocábulos em inglês’, como é o caso de Liu Yiwei, que já tinha sido ‘condenado’ a seguir um curso de mandarim.

Embora uma boa parte dos filmes produzidos na China ofereçam conteúdos relacionados ao crime e à delinqüência, a norma proíbe a importação de filmes ocidentais violentos.

As reações dos telespectadores têm sido diversas. Alguns acreditam que já era hora de se frear as influên cias negativas sobre o comportamento deslumbrado dos jovens.

Nos últimos tempos, apesar do inevitável avanço da influência ocidental devido à abertura do país à economia do mercado mundial, as autoridades chineses têm intensificado o controle sobre as liberdades de seus cidadãos.

A TV brasileira já fez sucesso na telinha dos chineses, mas o figurino e os modos eram os mais recatados possíveis: foi com Escrava Isaura, que fez de Lucélia Santos uma personalidade naquele país.

A China é ainda um dos poucos países que resistem à expansão do Big Brother, o reality show nascido na Holanda e já produzido em mais de 23 países.

Agora, diante das novas regras, vai ser difícil apostar que o Grande Irmão ultrapasse a Muralha. (Com Efe).’



VENEZUELA
O Globo

‘Venezuela pode cassar a nacionalidade de Cisneros’, copyright O Globo, 16/05/04

‘O Congresso da Venezuela aprovou um pedido à Procuradoria-Geral do país para que inicie os trâmites a fim de cassar a nacionalidade venezuelana do empresário Gustavo Cisneros, dono das redes de TV Venevision e Direct-TV e adversário do presidente Hugo Chávez. Além dele, um exilado cubano e três jornalistas (dois deles venezuelanos naturalizados) foram incluídos no pedido.

A proposta de cassação de nacionalidade foi apresentada pela deputada governista Iris Varela, sob a alegação de que Cisneros e os jornalistas Marta Colomina, Napoleón Bravo e Norberto Maza, além do cubano-venezuelano Robert Alonso, têm tido uma atuação antipatriótica. Colomina é espanhola de nascimento e Mazza é originário do Uruguai. O Congresso é dominado pelos partidários de Chávez.

O cubano-venezuelano Alonso é proprietário de uma granja onde, no domingo passado, foram detidos quase uma centena de supostos paramilitares colombianos que estariam envolvidos num complô contra Chávez. Na terça-feira, a polícia fez uma busca numa granja de Cisneros situada a 70 quilômetros de Caracas. Chávez acusa o empresário venezuelano – o homem mais rico do país – de ser um dos chefes do golpe de Estado que o tirou do poder por 48 horas em abril de 2002. Cisneros, no entanto, nega qualquer envolvimento na conspiração ou com paramilitares nacionais ou estrangeiros.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) disse que a ação de cassação de nacionalidade é um ‘grave atentado contra a liberdade de imprensa’.

– A medida viola não somente qualquer princípio em matéria de liberdade de imprensa e tratados internacionais, mas também preceitos constitucionais, uma vez que não se pode despojar de nacionalidade venezuelanos de nascimento – disparou o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Rafael Molina.

A organização já havia manifestado sua preocupação com a busca na granja de Cisneros e com a citação à jornalista Patricia Poleo, do diário ‘El Nuevo País’, para ir a um tribunal militar, e com agressões e ameaças de morte contra jornalistas do ‘El Universal’.

Chávez acusa imprensa de trabalhar contra ele

Desde o início de seu mandato, em fevereiro de 1999, Chávez vem travando uma batalha acirrada com os meios de comunicação, acusados de difundir mentiras sobre seu governo e de tentarem impedir a ‘revolução bolivariana’ que ele propôs-se a fazer no país.’