Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Jornalismo e relações raciais

[do release da editora]

Este livro é resultado de anos de estudos e pesquisas acadêmicas desenvolvidos pelo autor desde o início dos anos 1990, quando ingressou no programa de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Realiza uma interessante análise do processo de produção jornalística, sob a perspectiva das relações raciais, no Brasil e nos Estados Unidos da América.

Mestiço, natural da Bahia, o autor se transferiu para Nova York e ali viveu de 1998 até o final de 1999, como visiting scholar da New York University.

O trabalho indica que, nas últimas três décadas do século 20, houve substancial alteração na forma como a grande mídia, tanto num país como no outro, lidou com o tema do racismo. Isso fez com que a diversidade entrasse na agenda do século 21 como um dos temas mais importantes – e não foi à toa a grande repercussão que obteve a conferência contra o racismo e a xenofobia realizada em Durban, África do Sul, entre agosto e setembro de 2001, sob os auspícios da ONU (Organização das Nações Unidas).

Tomando por recorte o ano de 1995 no Brasil, quando se registrou a passagem do tricentenário da morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, o autor analisa o projeto montado pelo jornal Folha de S.Paulo para a cobertura dos acontecimentos e debates que ocorreriam e ocorreram no período. O projeto foi nomeado ‘Folha, Zumbi 300’.

O jornal The New York Times, dos Estados Unidos, serviu como base comparativa entre a mídia estadunidense e a mídia brasileira no tratamento das questões dos conflitos raciais (ou a falta deles) existentes nos dois países.

Para compreender o contexto em que o jornalismo funciona, o autor faz uma descrição da história das relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos, comparando-as também, e demonstra como uma sociedade e a outra se comportam diante do problema.

Originalmente tese de doutorado, este trabalho aponta para a necessidade de um intercâmbio das práticas de cobertura jornalística que observem a diversidade étnica e a pluralidade cultural dessas sociedades. Contudo, o autor rejeita a aceitação absoluta do modelo estadunidense, por considerá-lo inadequado ao Brasil.

O ‘Folha, Zumbi 300’ é visto como um projeto ideal para uma deontologia dos meios de comunicação aplicada a sociedades pluriétnicas e de tradição escravista, como a brasileira.

O autor

Fernando Conceição, jornalista com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Ativista no movimento social em Salvador, cidade onde nasceu (numa favela chamada Calabar), participou da organização do movimento de favelados no Brasil e nessa condição foi conferencista-residente da Universidade de Brasília (UnB), no reitorado de Cristovam Buarque.

Como redator publicitário do núcleo de marketing político da agência Propeg, atuou na capital baiana, em Pernambuco e Sergipe. Como repórter e editor de jornais em Salvador e São Paulo, venceu os prêmios de jornalismo Banco do Brasil (2001) e Cofic/Pólo Petroquímico (2003) com publicações não em grandes veículos, mas no jornal alternativo Província da Bahia, que fundou em 1996. Em sua passagem pela USP, ajudou a estruturar e coordenou, de 1991 a 1995, o Núcleo de Consciência Negra, juntamente com uma das experiências pioneiras em cursinhos pré-vestibulares gratuitos para negros. Foi o articulador nacional do MPR – Movimento pelas Reparações dos Afrodescendentes (1993-1996), e também coordenador do Comitê Pró-Cotas para Negros na USP (1995-1996), tendo sido por isso preso, processado e ameaçado de expulsão pela administração central desta universidade.

Na UFBA, montou e coordena o Etnomidia – Grupo de Estudos em Mídia e Etnicidades da Facom. É autor, entre outros, dos livros-reportagens Cala a Boca Calabar – A luta Política dos Favelados (Editora Vozes), Negritude Favelada (Editora do Autor), do livro de poesias Amar Faz Bem Mas Dói (Lys Editora), da coletânea de artigos Como Fazer Amor Com Um Negro Sem Se Cansar (Terceira Margem Editora) e co-autor, entre outros, de Espelho Infiel – O Negro no Jornalismo Brasileiro (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Sindicato dos Jornalistas/Geledés), Memórias do Presente – 100 entrevistas do Mais! Artes do Conhecimento (Publifolha) e Milton Santos: O País Distorcido (Publifolha).