Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Justiça manda Orkut apagar
as  críticas ao bispo Edir


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 5 de junho de 2007


MÍDIA & RELIGIÃO
Rodrigo Brancatelli


TJ tira crítica a Edir Macedo do Orkut


‘Quem atacou o bispo Edir Macedo na internet pode receber em casa uma intimação judicial. A Google Brasil foi condenada pelo Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo a retirar do site de relacionamentos Orkut toda e qualquer comunidade que, na expressão dos advogados de Macedo, ‘ofender a honra’ do criador da Igreja Universal do Reino de Deus. A multa, em caso de descumprimento, é de R$ 1 mil por dia. Além disso, a Google deverá revelar a identidade dos internautas acusados de xingar o bispo, para serem processados individualmente.


‘Entramos com a ação porque existiam comunidades extremamente negativas, inclusive incitando à morte de Edir Macedo’, disse a advogada Mônica Inglez. ‘Além de retirá-las do ar, ganhamos o direito de ter acesso às informações pessoais dos internautas, para estudarmos as medidas civis e criminais cabíveis.’


A Google tentou recorrer da decisão, afirmando que é uma empresa brasileira e, por isso, só a matriz, na Califórnia, teria condições de retirar as páginas do site. Disse também que não poderia violar direitos fundamentais ao informar os IPs (espécie de identificação digital) dos participantes de comunidades.


Esses argumentos foram rejeitados, na semana passada, pela desembargadora Maria Olívia Alves, do TJ. Ela entendeu que a Google Brasil funciona, na prática, como extensão das empresa americana e ‘suspender a decisão causaria perigo irreparável contra o bispo’.


PRECEDENTE


Apesar de a advogada Mônica Inglez afirmar que as comunidades já saíram do ar, o Orkut continua repleto de menções ao bispo. Edir Macedo é atualmente tema de cerca de 40 comunidades – para o bem ou para o mal. Entre as mais populares estão ‘Eu admiro Edir Macedo’ (com 2.397 membros), ‘Chuck Norris fuzile o Edir Macedo’ (83 membros) e ‘Edir Macedo é o Satanás’ (que conta com 66 membros).


Não é a primeira vez que os internautas terão as identidades reveladas por decisão judicial. Em abril do ano passado, a Google Brasil forneceu à Justiça de São Paulo todas as informações relativas aos usuários que criaram perfis falsos da socialite paulistana Yara Rossi Baumgart. Ela ficou furiosa quando descobriu que seu nome havia sido indevidamente inscrito na comunidade ‘Bregas Assumidos’.


‘O mais irônico dessa história é que a Google revela rapidamente essas informações quando é processada por celebridades. Quando o Ministério Público Federal pede a identificação dos internautas pedófilos e racistas, a empresa diz que não pode fazer isso’, afirmou Thiago Tavares, presidente da Safernet, entidade que combate crimes na internet. ‘Isto sim é absurdo.’’


GOVERNO LULA
Arnaldo Jabor


FHC tem de procurar Lula ou vice-versa


‘Lula é a maior força simbólica de história do Brasil. ‘Nunca antes’, nem com Getúlio, um presidente foi tão cultuado. E ele também, diga-se, tem um amor tosco, mas real pelo País. E essa força simbólica não pode ser desperdiçada, neste momento privilegiado da economia mundial, com maioria no Congresso. Depois do Mensalão, Lula ficou por baixo e, mesmo reeleito, teve de se curvar ao PMDB e ficou imobilizado no pântano das coalizões com a ralé mais baixa. Agora, ou ele se fortalece e age ou perde a chance histórica de fazer alguma coisa por este país. O Legislativo se conspurcou tanto com o poder que conseguiu, que perdeu a moral para comandar a democracia. Está na hora de Lula reagir e recuperar seu poder executivo, se é que ele quer… Lula não pode continuar o manso refém dos fariseus que o apóiam. Como governar com um Senado cujo presidente está metido nesse ‘armengue’, em que o líder da maioria é o Jucá e o Sarney o conselheiro-chefe? Chega! Não dá mais para ficarmos na volúpia doentia de assistir ao adultério lamentável de empreiteiras e políticos. Não dá mais para sermos os eternos voyeurs, os eternos leitores de escândalos semanais que nunca acabarão, pois são sistêmicos. Não dá mais para chanchada de suspense, para sabermos se Monica recebeu dinheiro, se o Paulo Medina, se o Zuleido, se o Renan, se o Jackson Lago, se… se… se… Isto está fazendo um mal físico à opinião pública, que se esgoela nas colunas dos leitores, impotente. Assim como a Gautama, temos, no mínimo, umas 20 empreiteiras fazendo o mesmo: obras para o nada. Se o Lula quiser fazer um governo histórico, ele terá de se fortalecer junto à cidadania (não estou falando de governo plebiscitário, nem de ‘chavismo cordial’), junto aos jornalistas, junto à classe média que está de cabelo em pé diante do show de escrotidão, tem de se aproximar dos militares, para incluí-los no processo de reflexão política, Lula tem de ter peito e força, para conseguir do Congresso reformas essenciais, como a política, a da Previdência, Lula tem de crescer junto às altas instâncias jurídicas do País, que ficam na molenga lengalenga da letra da lei, impedindo qualquer providência urgente, Lula tem de conseguir apoio de altos nomes do País. Sei que ele tem preguiça e medo de marolas, sei que é dificílimo, sei das injunções da coalizão dos infernos, mas está na hora de tentar. Não se trata apenas de seu governo; é a nação, cacete! O prestígio da democracia está se desfazendo diante de nossos olhos e ninguém faz nada? Lula, com 70 por cento de aprovação, não pode continuar assim, pasmado, esperando algo que não virá nunca. Nunca um presidente civil teve tanto poder potencial. Está na hora de gestos novos, inéditos, rupturas, saltos qualitativos dentro da democracia. Estamos precisando de um momento histórico de grandeza. Acho que ele já aprendeu muito sobre os malucos que o cercavam e sobre os corruptos com quem trata. A ideologia de Lula era um ensopadinho de sindicalismo com um desenvolvimentismo vulgar. Agora, talvez ele já tenha entendido que não tem de fazer nada com o Brasil. Talvez ele tenha entendido que o que ele precisa é DESFAZER. Precisamos desfazer as causas do império da escrotidão que manda em tudo, temos de desfazer a Comissão de Orçamento do Congresso, as regras de licitação, as emendas individuais e coletivas, temos de exigir a mudança das execuções penais. Lula tem de AGIR, tem de assumir o poder que tem, o imenso poder simbólico que tem, mais que Getúlio, JK, FHC.


Lula tem de privatizar as estatais corruptas, tem de dar concessões para aeroportos que estão prestes a acabar, estradas podres, usinas de energia. O PAC não vai sair porque o sistema corrupto impedirá. É impossível desenvolver o País com essa avalanche de roubalheira estabelecida e tolerada.


E ele precisa de apoio para agir, e ele precisa pedir apoio também. Que tem ele a perder? O sucessor?


Ou surge uma ideologia de modificação nacional ou o Brasil vai para o brejo; é só acabar a bonança econômica internacional. Será que não existe um resquício de ‘amor à pátria’ ou amor à razão? Tremo de vergonha ao escrever isto, me sentindo um idiota. (Meus inimigos dirão: ‘finalmente ele se encontrou…’)


Mas, digo: está na hora de a nação se mobilizar. Sei que essa frase soa anacrônica e romântica, mas Fernando Henrique Cardoso deveria procurar Lula, ou vice-versa. Há um vago parentesco entre tucanismo e lulismo. Alguma forma de ‘bipartisanship’ (bipartidarismo) tem de rolar. É romântico? É impossível? Não sei. Mas está na hora até de errar. Vamos errar! Quais são os governadores que mais se aproximam do que Lula pensa? José Serra, Aécio Neves e Sergio Cabral, todos do PSDB. E quando eu falo ‘procurar o Lula’, não é apenas por interesses eleitorais e sucessórios (como tem sido até agora…) É para reformar esta droga deste País, cacete, que está um bacanal de sordidez, desmoralizando a democracia.


Está na hora de acabar a maldição do nouveau-riche José Dirceu, que considerava os tucanos o ‘inimigo principal’.


FHC tem de procurar Lula, convidado ou não. Chega de ‘análises críticas da conjuntura’… Está na hora de esquecer querelas e injustiças de parte a parte. Lula não pode se apoiar apenas na suja coalizão que seqüestrou o País.


Tudo isto que digo, é, claro, se Lula quiser…’


VENEZUELA
Denise Chrispim Marin


Para Lula, crise por declarações de Chávez não está encerrada


‘A conversa de anteontem entre Hugo Chávez e o embaixador do Brasil em Caracas, João Carlos de Souza-Gomes, não foi suficiente para encerrar a crise aberta pelos ataques do presidente venezuelano ao Congresso brasileiro. Durante sua visita à Índia, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que o assunto está sem solução definitiva e voltará à pauta diplomática quando ele regressar ao Brasil, no sábado. ‘Deixa eu voltar para resolver isso’, afirmou Lula.


O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também sinalizou que a ‘nuvem’ nos contatos bilaterais ainda não passou. Simultaneamente, políticos brasileiros e representantes de associações e países que estavam no Panamá para acompanhar uma reunião da Organização dos Estados Americanos no (OEA)reforçaram as críticas ao governo Chávez por sua decisão de não ter renovado, na semana passada, a concessão da Rádio Caracas Televisão (RCTV), a emissora mais popular da Venezuela e a única de oposição com alcance nacional.


A crise entre o Brasil e a Venezuela teve início na semana passada, quando o Senado brasileiro aprovou uma moção de censura pelo fim das transmissões da RCTV. O presidente venezuelano reagiu acusando o Congresso brasileiro de repetir ‘como um papagaio’ as posições do Legislativo dos EUA.


Na sexta-feira, Lula emitiu uma nota dura em defesa das instituições brasileiras e ordenou a convocação do embaixador da Venezuela em Brasília, general Júlio García Montoya, para prestar esclarecimentos ao Itamaraty. Em entrevista à rede britânica BBC no sábado, mas divulgada ontem, o presidente adotou um tom mais conciliador, afirmando que o presidente venezuelano é um ‘parceiro’ do Brasil e ‘não representa um perigo’ para a América Latina. ‘Chávez tem suas razões para brigar com os Estados Unidos. E os EUA têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem razões para brigar nem com os EUA nem com a Venezuela’, disse o presidente.


Ontem, porém, as críticas subiram de tom no Brasil, enquanto em Caracas milhares de estudantes participavam do oitavo dia de protestos contra o fechamento da emissora.


Em São Paulo, o vice-presidente, José Alencar, qualificou as acusações do presidente venezuelano ao Congresso brasileiro como ‘desnecessárias’. O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, disse que Chávez está ‘fora do tom mundial’. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o líder venezuelano ‘tem de entender que a defesa da democracia não tem fronteiras’.


Alguns políticos também criticaram as declarações do assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que no domingo disse não ver ‘nada de ilegal’ na não renovação da licença da RCTV e a oposição no Congresso anunciou que vai obstruir a tramitação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul.


POLÊMICA NA OEA


No encontro dos membros da OEA no Panamá, a polêmica sobre o caso da RCTV marcou as principais discussões, apesar de a questão estar fora da agenda oficial.


A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, sugeriu o envio de uma comissão da OEA para a Venezuela para tratar do assunto. ‘Fechar uma emissora de televisão da oposição é antidemocrático’, disse Condoleezza.


As novas críticas provocaram uma feroz reação do chanceler venezuelano, Nicolás Maduro. Num discurso exaltado, Maduro classificou a proposta americana como ‘um intervencionismo inaceitável’, e pediu a organização de uma nova OEA ‘mais igualitária’ e que ‘respeite a soberania de cada país’.


‘Se vamos falar de direitos humanos, será preciso fazer um estudo profundo das violações por parte dos EUA’, afirmou Maduro, acrescentando que os prisioneiros do centro de detenção americano de Guantánamo, em Cuba, são mantidos em condições só comparáveis ‘à época de (Adolf) Hitler’.


Irritada, Condoleezza abandonou a reunião.


Pela manhã, cerca de 100 rádios e 10 emissoras de televisão panamenhas saíram do ar por 30 segundos para protestar contra o caso da RCTV. Além disso, ao menos sete jornais publicaram uma página toda preta, com os dizeres: ‘Sem expressão não há liberdade, nem na Venezuela, nem no mundo.’


FRASES


Luiz Inácio Lula da Silva


Presidente brasileiro


‘Deixa eu voltar (para o Brasil) para eu resolver isso’


‘Chávez tem suas razões para brigar com os EUA. E os EUA têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem razões para brigar nem com os EUA nem com a Venezuela’


Nicolás Maduro


Chanceler venezuelano


‘ Se vamos falar de direitos humanos, será preciso fazer um estudo das violações por parte dos EUA, como em Guantánamo’


Condoleezza Rice


Secretária de Estado dos Estados Unidos


‘Fechar uma TV da oposição é antidemocrático’


Associated Press, Reuters, Efe e France Presse’


Lourival Sant’Anna


Comitê da OEA analisará ‘violação’ à democracia


‘O relator para ‘Temas em Segmento’ do Comitê Jurídico Interamericano, o brasileiro Ricardo Seitenfus, vai apresentar ao órgão um relatório constatando que a liberdade de imprensa foi violada pelo governo da Venezuela, ao não renovar a concessão da emissora RCTV. Com base na Carta Democrática Interamericana, de 2001, Seitenfus argumentará que foram feridas as liberdades essenciais que sustentam a democracia.


Segundo a Carta, da qual são signatários todos os países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), incluindo a Venezuela, ‘o respeito à liberdade de expressão e imprensa são componentes fundamentais do exercício da democracia’. Para Seitenfus, de 59 anos, doutor em relações internacionais e diretor da Faculdade de Direito de Santa Maria (RS), a retirada da concessão só seria justificável, nos parâmetros democráticos, se a emissora de TV tivesse atentado contra a moral pública ou contra a independência nacional.


A RCTV, observa ele, foi tirada do ar por veicular críticas ao governo. Seitenfus rejeita os argumentos segundo os quais o fato de a emissora não ter atitude ‘imparcial’, de oferecer igual espaço para os defensores do governo, é motivo para a censura. ‘Temos nas democracias ocidentais jornais que pertencem a partidos políticos e a seitas religiosas’, recorda. ‘É quesito da ética respeitar o contraditório, mas sabemos que nem todos respeitam, e a luta pelo poder é transferida para os meios.’


Ele classifica a retirada da concessão de ‘inusitada e perigosa’. O relatório será votado pelos 11 membros do Comitê, do qual Seitenfus é o único brasileiro, durante reunião entre 28 de julho e 10 de agosto, no Rio. Se aprovado, o Comitê decidirá como será encaminhado à OEA, da qual é órgão consultivo.’


Rosa Costa


Oposição tentará barrar Venezuela no Mercosul


‘Os partidos da oposição (PSDB e DEM) reagiram ontem aos elogios que o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, ministro Marco Aurélio Garcia, fez no domingo ao regime de Hugo Chávez, e anunciaram que vão obstruir a tramitação, na Câmara e no Senado, do protocolo que prevê a adesão da Venezuela ao Mercosul. O protocolo está nas comissões técnicas da Câmara – já foi aprovado pelo Paraguai e Argentina, que também integram o bloco.


Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), as declarações de Garcia foram ‘desrespeitosas e inoportunas, um procedimento que envergonha a todos nós, brasileiros’. Para Fortes, as declarações mostram que o governo brasileiro está ‘acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo’.


O líder dos tucanos, senador Arthur Virgílio (AM), chamou o assessor de Lula de ‘professor diletante.’ E acrescentou: ‘Ele não pode contrapor-se a uma das diplomacias mais profissionalizadas do mundo.’


Na quarta-feira, os senadores aprovaram uma moção pedindo ao presidente da Venezuela que revisse a posição sobre o fechamento da RCTV. Acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na visita oficial à Índia (ler no Caderno de Economia), Marco Aurélio Garcia admitiu, anteontem, que a moção dos senadores ‘não foi ofensiva’, mas acrescentou que não via ‘nada de ilegal’ na não renovação da licença da RCTV.


Ontem, na tribuna, os discursos contra Chávez uniram parlamentares da oposição e do governo. Os líderes do DEM e do PSDB, senadores José Agripino (RN) e Arthur Virgílio (AM), anunciaram a decisão dos partidos de ‘obstaculizar’ a tramitação da proposta que trata do termo de adesão da Venezuela ao Mercosul, se Chávez não se retratar. ‘Faremos isso em nome do respeito a um pilar muito importante que é exigido de qualquer participante ou sócio do Mercosul, que é a absoluta vigência do regime democrático e seus princípios’, alertou Agripino.’


***


PT apóia fechamento da RCTV


‘O Partido dos Trabalhadores apóia a decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de tirar do ar a mais antiga emissora de televisão do país, a RCTV. Em nota divulgada ontem, o PT defendeu a decisão argumentando que a Venezuela é um país democrático, o presidente foi eleito democraticamente e a não renovação da licença da emissora seguiu ‘todos os trâmites previstos pela legislação venezuelana’ e a medida combate o ‘monopólio da comunicação por grandes empresas’. O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que decidiu tornar pública sua oposição porque ‘setores da imprensa’, aproveitando o caso da RCTV, teriam tentado questionar o partido em relação ao governo Chávez e às liberdades democráticas. A posição oficial do PT foi expressa em nota da Secretaria de Relações Internacionais do partido. ‘Reiteramos a posição do PT em defesa da liberdade de expressão em geral, particularmente da liberdade de imprensa, motivo pelo qual nos opomos ao monopólio da comunicação por grandes empresas, que se utilizam de concessões públicas para a defesa dos interesses privados de uma minoria’, assinala a nota, redigida depois de ouvir a Comissão Executiva Nacional.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
O Estado de S. Paulo


Um alerta em defesa da liberdade de imprensa


‘Agências Internacionais – O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, ressaltou ontem a importância de uma imprensa livre e vibrante e expressou seu descontentamento com a prisão e maus-tratos de jornalistas na África, mas se esquivou de um apelo para usar sua influência para pôr fim às violências em Zimbábue.


‘O problema da liberdade da mídia no continente é importante porque o papel da mídia de informar e, com isso, capacitar os povos da África não pode ser contestado’, disse Mbeki no pronunciamento de abertura do Congresso Mundial de Jornais, no domingo, na Cidade do Cabo, África do Sul.


‘Nosso continente não escapou dos efeitos do conflito entre liberdade de mídia e governança. Há países em nosso continente onde jornalistas estão presos e isto é preocupante para todos nós’, disse Mbeki a 1.600 editores e executivos de todo o mundo.


Ele disse que uma imprensa vigorosa – como a que brotou na África do Sul desde o fim das restrições da época do apartheid – jogou um papel decisivo no desenvolvimento e expressou simpatia pelo ódio sentido contra governos que agem com impunidade contra jornalistas.


Mas ele não se manifestou sobre o pedido de Gavin O’Reilly, presidente da Associação Mundial de Jornais (WAN, em inglês), para que usasse sua influência sobre o presidente de Zimbábue, Robert Mugabe, para pôr fim ao amordaçamento da imprensa.


Recentemente, algumas nações africanas indicaram Mbeki para negociar no Zimbábue depois da prisão e agressão brutal de líderes da oposição em março. Vários jornalistas foram espancados. Muitos profissionais já foram detidos, ameaçados e agredidos desde a aplicação de restrições radicais à mídia em Zimbábue, em 2003. Quatro jornais independentes foram fechados.


O’Reilly disse que a liberdade de imprensa foi violada quase que diariamente em ‘dezenas de nações africanas.’ Um dos principais problemas foi a implementação das ‘leis de insulto’, que proíbem as críticas a políticos e autoridades.


Segundo O’Reilly, no mundo, 110 jornalistas foram mortos em 2006, e 58 até agora em 2007. Ele disse que mais de 130 jornalistas estão presos atualmente, 32 deles na China.


CRESCIMENTO


Durante a abertura do encontro, foram divulgados estatísticas sobre os jornais. Os dados da WAN mostram que as vendas de jornais cresceram 2,3% em todo o mundo em 2006. Em cinco anos, o aumento foi de 9,48%.


As vendas cresceram em todos os anos na América do Sul, Ásia, Europa e África. Só caíram na América do Norte. ‘Nos mercados em desenvolvimento a difusão dos jornais segue aumentando a passos largos e nos mercados desenvolvidos manifesta uma recuperação notável contra o avanço dos meios digitais. Em muitos países desenvolvidos a indústria mantém ou até aumenta suas vendas’, disse Timothy Balding, diretor-geral da WAN. ‘Ao mesmo tempo, os jornais estão aproveitando ao máximo as novas oportunidades trazidas pelos canais de distribuição digitais para aumentar suas audiências.’’


NEWS CORP. & DOW JONES
O Estado de S. Paulo


Murdoch se reúne com a família Bancroft


‘AP – O magnata das comunicações Rupert Murdoch, dono da News Corp, se reuniu ontem com integrantes importantes da família Bancroft, que controla o grupo de mídia Dow Jones. Na sua campanha para comprar a empresa que edita o Wall Street Journal, Murdoch garantiu aos atuais controladores que o jornal manteria sua longa tradição de excelência se fosse vendido para ele.


Inicialmente, a família rejeitou a oferta de US$ 5 bilhões de Murdoch, feita no começo de maio. Porém, na quinta-feira passada, os membros concordaram em se encontrar com ele. Em comunicado, a família disse estar mais preocupada em proteger a independência editorial e a integridade do Wall Street Journal.


A Independent Association of Publishers’ Employees (Iape), sindicato que representa os funcionários da Dow Jones, anunciou ontem que trabalha com a Ownership Associates, uma consultoria financeira, para buscar alternativas à venda da empresa para Murdoch. Os empregados da empresa se opõem fortemente à proposta do dono da News Corp.


O presidente da Iape, Steve Yount, preferiu não dizer que investidores potenciais eles têm sondado. A Ownership Associates também trabalhou com representantes do sindicato de jornais no ano passado em uma tentativa de comprar a Knight Ridder, que acabou sendo vendida para a McClatchy, empresa de jornais da Califórnia.


A Dow Jones não retornou os telefones para comentar sobre a reunião com Murdoch, mas o Wall Street Journal noticiou ontem que o encontro, que aconteceu na Wachtel, Lipton – empresa de advocacia dos Bancrofts, em Nova York -, seria parte reunião social e parte de negócios.


Ao sair do edifício, Murdoch disse que a reunião foi longa e construtiva, mas não deu detalhes. Do lado da família Bancroft, estava prevista a presença de três integrantes do conselho: Chris Bancroft, Leslie Hill e Elizabeth Steele, além do integrante do conselho Michael Elefante, do presidente do conselho da Dow Jones, Peter McPherson, e do advogado Martin Lipton.


A família Bancroft controla 64% das ações com direito a voto da Dow Jones, e pode impedir qualquer tentativa de compra da companhia. A participação econômica da família na empresa é de cerca de 25%.’


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Show era farsa


‘Depois de gerar polêmica entre espectadores e autoridades da Holanda e da Europa em geral, a Endemol e a rede BNN desmentiram, na sexta-feira à noite, o tal do Big Donor Show, um reality bizarro que foi anunciado na semana passada com repercussão no mundo inteiro.


Segundo agências de notícias internacionais e até jornais como The Guardian, a atração mostraria uma disputa entre três doentes por dois rins que seriam doados por uma mulher com câncer em estado terminal. Ela teria de escolher para quem doaria seus rins.


Na data e horário marcado para a estréia do reality show, cerca de 1,2 milhão de telespectadores sintonizaram a BNN. E a pegadinha foi desfeita. Na verdade, o show foi uma iniciativa – de mau gosto – para chamar a atenção do público para a importância da doação de órgãos.


A farsa foi montada para reforçar a campanha de doação iniciada na Europa. A mulher que dizia estar com câncer em estado terminal era atriz. Os candidatos aos rins da moça eram pacientes que estão à espera de doadores e toparam a pegadinha. A imprensa local registrou que durante a polêmica, 12 mil pessoas tornaram-se doadoras na Europa – e 100 desistiram de assinar o canal BNN.


entre-linhas


A participação do Pânico no Qual É a Música, do SBT, rendeu bons índices de audiência para as duas emissoras. O SBT ficou cerca de 46 minutos em primeiro lugar, das 14h53 às 15h39, com 18 pontos de audiência (dados consolidados) ante 13 da Globo. Já o Pânico na TV, às 20 h, marcou 9 de média e pico de 14,3 para a RedeTV!.


Durante o Pânico, as imagens da trupe no palco de Silvio Santos foram estampadas pela divertida legenda: ‘Silvio compra RedeTV! e vira integrante do Pânico’.


Criador do curso de jornalismo ambiental da PUC/RJ, o âncora da GloboNews André Trigueiro assume o papel de curador no amplo Fórum de discussão sobre Aquecimento Global e o Impacto no Meio Ambiente que se inicia hoje, às 19 h, no Espaço Cultural CPFL, em Campinas. Trigueiro abre o evento com a palestra A Emergência da Atitude Num Planeta em Crise.


Homenagem ao Artista, programa do Raul Gil na Band, registrou 4.5 pontos de média e pico de 7 pontos no domingo. Os dados são da Grande São Paulo.


Feita a peneira dos 50 candidatos iniciais, começa hoje a disputa entre 18 aspirantes ao contrato de US$ 1 milhão com a DreamWorks no reality On the Lot. Carrie Fischer e Garry Marshall julgam comédias de 1 minuto. No People + Arts, às 21 h.


O E! estréia amanhã, às 21 horas, a quarta temporada do reality Dr. 90210, do cirurgião plástico brasileiro Robert Rey.’


************


Folha de S. Paulo


Terça-feira, 5 de junho de 2007


MERCADO EDITORIAL
Folha de S. Paulo


Jornal cresce mais no Brasil que no mundo


‘A circulação de jornais no Brasil cresceu 6,5% no ano passado, superando o avanço mundial, que foi de 2,3%, segundo dados divulgados pela WAN (Associação Mundial de Jornais, na sigla em inglês).


A expansão brasileira é igual à já divulgada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais). A associação brasileira afirmou que 7,230 milhões de exemplares foram vendidos diariamente em média no Brasil no ano passado.


A estimativa revista da WAN para a circulação mundial é maior do que a apresentada no início do mês passado, que apontava expansão de 1,9% na circulação mundial de jornais. Nos últimos cinco anos, calcula a WAN, a circulação global cresceu 9,48%.


Já o faturamento mundial dos jornais com publicidade subiu 3,77% em 2006 na comparação com o ano anterior e 15,77% a partir de 2002.


O estudo também mostra que os brasileiros, ao lado de chineses e finlandeses, são a segunda nacionalidade que passa mais tempo lendo jornal: 48 minutos diariamente. Apenas os belgas, com 54 minutos, despendem mais tempo com a leitura.


No ano passado, a circulação mundial de jornais diários pagos, segundo a pesquisa feita em 232 países e territórios, atingiu a sua maior marca: 515 milhões de cópias. Segundo a WAN, mais de 1,4 bilhão de pessoas lêem um jornal diário.


‘Mais uma vez podemos ver que, longe de ser uma indústria em declínio, como os mal informados e míopes continuam a afirmar, os jornais estão vivos e bem’, disse Timothy Balding, principal executivo da WAN.


‘À medida que a onda digital ganha força, é notável que as publicações impressas continuem a mídia de preferência para a maioria dos leitores que desejam continuar informados’, completou.


De acordo com Balding, ‘a circulação dos jornais nos mercados em desenvolvimento continua a crescer em grande velocidade e, nos mercados maduros, mostra resistência extraordinária’.


O número de jornais pagos também bateu recorde. Em 2006, foram 11.207 títulos diariamente, o que representa um crescimento mundial de 3,46% ante 2005. Desde 2002, a expansão foi de 17,67%.


A China é o país em que mais se vendem jornais diariamente: 98,7 milhões de cópias. Mas, em média, os japoneses são os maiores consumidores: 630,9 exemplares vendidos para cada mil adultos.’


CASO RENAN & MÔNICA
Carlos Heitor Cony


A gestante


‘Gestantes, idosos e deficientes físicos têm prioridade nas filas dos bancos. Nem todos os idosos precisam provar o ano de nascimento com a carteira de identidade. Está na cara que são idosos mesmo. Os deficientes também escapam da prova -infelizmente são óbvios.


Com as gestantes a coisa é mais complicada. É preciso esperar alguns meses para que a gravidez fique explícita, inquestionável. Uma gestante de dois meses, querendo invocar o privilégio de não apodrecer na fila, pode mostrar o resultado do laboratório que prova a gestação e aí será merecedora do privilégio.


Ignoro se ainda existe o teste do sapo. A suspeita de uma gravidez era testada num sapo. Não sei se o sapo morria ou apresentava qualquer sinal de anormalidade, mas era tiro e queda para comprovar se a gestante era gestante mesmo.


O respeito às gestantes é um dos pontos simpáticos da civilização humana. Nos ônibus, elas merecem que alguém se levante e ceda o lugar. Trata-se de um cavalheiro. Toda a glória e louvor à gestante.


Responsável pela condição da gestante, o gerador (ou gestor) é mais ou menos como o sujeito oculto de uma frase gramatical. Há casos em que a gestante não sabe quem é o gestor, mas isso é problema dela, mais dela do que do gestor. São exceções à regra. Geralmente o gestor acumula as funções de marido da gestante e se habilita às sobras que devemos àquelas que vão gerar mais um herdeiro do ‘legado da nossa miséria’ -segundo Brás Cubas.


A gestante tem de ser amparada pelo gestor. Em tempos de independência da mulher, ela pode assumir o ônus da gestação, mas, na maioria dos casos, o gestor sempre arranja um modo de assumir a responsabilidade, por si ou por terceiros.’


VENEZUELA
Fabiano Maisonnave


Chávez, Lula e os esquimós


‘NO ANO PASSADO, as declarações de Hugo Chávez sobre o ‘cheiro de enxofre’ que sentiu do seu desafeto George Bush em plena tribuna da ONU racharam a empobrecida população de esquimós do Alasca. Apesar de as temperaturas alcançarem -15C, algumas vilas preferiram passar frio em apoio ao seu presidente a comprar o óleo para aquecimento subsidiado pela Venezuela.


Essa incrível capacidade desagregadora da oratória de Chávez muitas vezes tem o seu lado positivo. É mérito dele a discussão em torno do impacto do etanol nos alimentos (fale dos bóias-frias!). E foi ele quem provocou a retratação de Bento 16 pelas declarações revisionistas sobre as relações entre a sua igreja e os índios.


O caso da RCTV, por outro lado, evidenciou que ele não sabe ficar na berlinda. Após um ato autoritário, e incapaz de sustentar argumentos sólidos, Chávez mandou ‘al carajo’ os seus críticos, que não foram poucos e estão longe de ser homogêneos: incluem, entre outros, União Européia, Repórteres Sem Fronteiras, Espanha, EUA e o Senado brasileiro, cujo requerimento errou o nome da Venezuela.


A inédita reação contra a decisão de não renovar a concessão da RCTV deixou claro que boa parte da comunidade internacional cobrará de Chávez um preço bastante caro. Por outro lado, a reação destemperada mostrou ao mundo que ele está disposto a pagá-lo.


Se ficará cada vez mais difícil conviver com Chávez no cenário internacional, para a oposição venezuelana beira o insuportável.


Acusada diariamente de golpista, perde até o espaço das ruas, caso dos estudantes impedidos pela polícia de marchar na sexta-feira.


Enquanto a caravana passa, a cartilha pragmática de Lula reza que, para se intrometer nos ‘assuntos internos’, só quando se trata de ajudar Chávez, como foi a visita em novembro, a poucos dias da eleição presidencial venezuelana.


Já é anacrônico cobrar coerência da classe política brasileira. Mas não deixa de ser notável que Lula se esquive do que ocorre na Venezuela depois de ter usado tanto apoio internacional na época pré-poder, enquanto o repúdio mais forte à medida contra a RCTV venha do senador Sarney, que, no seu Maranhão, dispõe da hegemonia midiática que Chávez ainda busca.


Há fortes motivos para Lula agir assim. Empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, doadora de sua campanha, lucram cada vez mais com os petrodólares de Chávez -o Brasil já é o segundo parceiro comercial, atrás dos EUA. São esses os interesses que se busca preservar, nem que para isso seja necessário sacrificar temas caros como a liberdade de expressão.


Talvez os pobres esquimós, tiritando de frio, tenham algo a ensinar à diplomacia brasileira.


FABIANO MAISONNAVE é correspondente da Folha na Venezuela.’


***


Estudantes entregam petição de garantia para manifestações


‘DE CARACAS – Horas depois de terem sido chamados de ‘peões do império’ pelo presidente Hugo Chávez, alguns milhares de estudantes universitários venezuelanos voltaram às ruas de Caracas ontem em favor da liberdade de expressão.


Aos gritos de ‘somos estudantes, não somos golpistas’, o grupo deixou a praça Brion, na região leste de Caracas, e caminhou até a sede do Supremo Tribunal de Justiça.


Após passar por oito cordões de policiais e militares, uma comissão entregou um documento em que exige garantias para realizar marchas e a libertação de estudantes presos.


A Prefeitura do município Libertador (centro de Caracas), comandada pelo chavista Freddy Bernal, voltou a impor dificuldades.


Bernal mudou a rota sob a alegação de que havia manifestações chavistas no caminho. Em vez de passar pelo centro da cidade, seria prolongada a fim de seguir por uma via expressa. Depois de muita discussão entre estudantes e a polícia, a prefeitura cedeu, e a marcha terminou sem incidentes.


Anteontem, Chávez disse que os universitários são ‘peões do imperialismo, isso me dá tristeza’.’


***


OEA é palco de bate-boca EUA-Venezuela


‘A tribuna da Assembléia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) foi palco de um duro embate entre a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, a respeito do fechamento do canal venezuelano RCTV, embora o caso não constasse do temário oficial do encontro.


Em discurso, Rice cobrou que a OEA envie seu secretário-geral, José Miguel Insulza, para Caracas com o objetivo de investigar o caso RCTV. Antes, ela havia dito a jornalistas que o fechamento do canal era o movimento mais ‘contundente e agudo’ do governo Hugo Chávez contra democracia.


Irritado, o chanceler venezuelano classificou o discurso de Rice como ‘intervencionismo inaceitável nos assuntos internos’. Disse ainda que a secretária americana ‘violou’ a agenda do encontro, cujo tema é ‘energia sustentável’.


Maduro propôs que a OEA instalasse uma comissão ‘para estudar a violação diária de direitos humanos’ na fronteira do EUA com o México. Disse que a prisão de Guantánamo, em Cuba, onde os EUA mantêm prisioneiros sem condição jurídica reconhecida internacionalmente, só era comparável a algo da ‘era de Hitler’.


Então, Rice pediu a palavra novamente: ‘Em qualquer assunto, estou segura de que será difícil uma comissão debater, investigar e criticar mais as políticas dos EUA do que fazem, a cada noite, na CNN, ABC, CBS, NBC’, devolveu. ‘Os cidadãos americanos têm essa garantia. Espero que os venezuelanos também a tenham’, concluiu Rice -e deixou a sala, sem esperar a tréplica.


Maduro pediu que os EUA permitissem que as câmeras da Tves, o canal estatal criado para substituir a RCTV, entrassem em Guantánamo.’


Kennedy Alencar


Chávez não é perigo para região, diz Lula


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista à rede britânica BBC que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, é ‘um parceiro’ e que Caracas não representa ‘um perigo à América Latina’. Mas, segundo apurou a Folha, ainda aguarda um recuo do venezuelano para dar por encerrada a discussão sobre o fim da licença da rede oposicionista RCTV.


‘Chávez tem suas razões para brigar com os EUA. E os EUA têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os EUA ou a Venezuela’, disse Lula ao programa ‘Hard Talk’, lembrando que o Brasil tem negócios importantes no país de Chávez.


Instigado diversas vezes pelo repórter da BBC, Stephen Sackur, a opinar sobre o caso da RCTV, cuja concessão chegou ao fim no último dia 27 e não foi renovada por Chávez, Lula afirmou: ‘Temos que aprender a respeitar a lógica legal de cada país. Não dou palpite nas políticas internas de nenhum país’, afirmou o presidente -e acrescentou que no Brasil seu governo tem feito esforço ‘incomensurável’ para garantir a liberdade de imprensa.


‘Para mim, o senhor está tentando evitar fazer críticas a Chávez’, insistiu o repórter britânico. Lula apenas sorriu.


Apesar das declarações conciliatórias, Lula ainda aguarda um gesto público de recuo de Chávez para considerar encerrado o recente imbróglio com o país vizinho. Integrantes da comitiva presidencial avaliam que esse gesto viria em breve.


O presidente brasileiro já disse a auxiliares que sua paciência com o venezuelano chegou ao limite. Por isso, reagiu duas vezes a declarações de Chávez nos últimos dias. Ontem, indagado se esperava um contato de Chávez, respondeu: ‘Deixa eu voltar para o Brasil para resolver isso’. O chanceler Celso Amorim também sinalizou que espera desdobramentos: ‘Vamos aguardar como as coisas evoluem, se hoje [ontem] ou amanhã [hoje] haverá algo mais claro’.


Na última quarta, o Senado brasileiro pediu em requerimento que Chávez reconsiderasse o caso da RCTV. O venezuelano, então, disse que o Congresso era um ‘papagaio’ dos EUA. Na sexta, Lula disse que Chávez deveria cuidar dos assuntos do seu país. O Itamaraty então divulgou nota pedindo que o embaixador em Brasília desse explicações. No sábado, Chávez afirmou que fora obrigado a responder a um ‘comunicado grosseiro’ do Senado. Lula rebateu novamente o colega dizendo que o Congresso não fora grosseiro.


Na entrevista à BBC, Lula foi ainda questionado sobre a influência de Chávez quando da nacionalização do gás na Bolívia, em 2006. Rejeitou a tese: ‘Morales não era nem presidente quando o povo boliviano decidiu nacionalizar o gás. É uma decisão soberana’.


Ao responder se havia dois modelos em disputa na região, o de Brasília e o de Caracas, disse: ‘O sonho da América Latina é que todos os países cresçam economicamente, façam distribuição de renda e melhorem a vida do povo. É assim que pensa o presidente Kirchner, é assim que pensa Chávez, é assim que pensa o presidente Lula’.’


Janio de Freitas


Sem barulho


‘O jornalismo brasileiro faz ao mundo uma revelação fenomenal: se ainda sobrevive em aparência, há muito a democracia está extinta em países como Inglaterra, Canadá, México, Peru, Espanha e, mais ainda, EUA, para citar só alguns.


Já que, segundo informa e ensina o jornalismo brasileiro, tevês e rádios livres para o que queiram são a medida da democracia e da legalidade, é forçoso concluir que aqueles países preferiram outros regimes. Uma pesquisa do jornalista chileno Ernesto Carmona verificou que em todos tem havido não renovação e cassações de canais. Só nos Estados Unidos ele encontrou 102 não renovações, em 141 extinções de tevês e rádios.


Ernesto Carmona é presidente do Colegio de Periodistas de Chile, associação dos jornalistas chilenos.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Humilde, não


‘Da entrevista de Lula ao ‘Hard Talk’, a BBC Brasil sublinhou a declaração de que Hugo Chávez ‘é um parceiro e não um perigo’ -e foi o que ecoou por sites e portais daqui. Mas a entrevista focou, no destaque do canal da BBC, em aquecimento, comércio e o G8. E foi um embate, como é regra. O entrevistador abriu questionando os efeitos do esforço para não ser mais o ‘país humilde’ -e Lula reagiu com 20 minutos de ataques aos ‘países ricos’ e às ‘elites’, apontando o próprio Stephen Sackur, que terminou constrangido.


LULA VS. BUSH


O brasileiro estava ontem também na submanchete do ‘Guardian’, ‘Lula rejeita jogada de Bush nas negociações sobre mudança no clima’. Em ‘rara entrevista a jornal britânico’, ele afirmou que não poderia aceitar o estabelecimento de um novo grupo, fora da ONU e sob comando dos EUA, para debater o assunto. Qualificou a proposta de ‘voluntarismo’.


LULA VS. CHÁVEZ


O mesmo ‘Guardian’ deu o editorial ‘Duas visões de progresso’, contrapondo Lula e Hugo Chávez, ‘ambos progressistas radicais, eleitos e reeleitos pelos pobres’, mas diferentes nas relações com a mídia e com os EUA. Tomou o partido de Lula, que ‘se engajou com o sistema político internacional, em vez de confrontá-lo’, e com seu multilateralismo ‘vai fazer mais para mudar o mundo’ do que o ‘teatro’ do venezuelano.


G13 SEM VOLTA


O ‘Financial Times’, também de olho na reunião, mostrou a resistência do G8 (sete países ricos, mais a Rússia) a novos sócios. ‘A única coisa em que concordam é que não querem deixar entrar novos membros em seu clube de elite’.


No fim de uma das reportagens, o ‘FT’ fez o registro de que os cinco que vêm sendo convidados informalmente, inclusive Brasil, deverão estar presentes também no ano que vem. ‘Não tem mais volta.’


SUB DO SUB VEM AÍ


O blog Washington Wire, do ‘Wall Street Journal’, noticiou ontem que Robert Zoellick, apontado pelos EUA para presidir o Banco Mundial, iniciou turnê de duas semanas por África, Europa e América Latina, para ‘oferecer um ramo de oliveira’ e acalmar os revoltosos. O Brasil é a última parada.


CAIXEIRO-VIAJANTE


Em enunciados na BBC e outros, Lula, para argumentar em favor do comércio com a distante Índia, mencionou os 13 dias num ‘pau-de-arara’, ao migrar para São Paulo, e ganhou aplausos indianos.


A visita seguiu nas páginas iniciais do ‘Times of India’ ao ‘Economic Times’, com fotos de Lula e o primeiro-ministro, no primeiro, e do presidente da Petrobras e o empresário Ratan Tata, no segundo.


INDIANO CARIOCA


Textos no mesmo ‘Economic Times’ e no ‘The Hindu’ sublinhavam os benefícios de os dois países ‘juntarem as mãos’ para elevar o comércio ‘ainda inferior ao potencial’.


Reportagem do Rio abordou experiência do executivo do laboratório indiano Cellofarm. ‘Uma estada muito frutífera não só pelo do ‘boom’ dos negócios’, mas pelos cinco anos com a família e o apoio dos cariocas ‘amigos’.


BROWN NA OCUPAÇÃO


A Globo voltou ontem à ocupação da USP e sua ‘11ª reunião para tentar um acordo’, aos manifestantes que ‘insistem apesar de o governador ter esclarecido que a autonomia está preservada’ etc.


De sua parte, o blog Ocupação da USP (novo logo acima) prioriza agora bandeiras como o Programa de Inclusão Social, para o ‘ingresso de negros na universidade’. Para ontem era anunciada a presença do líder dos Racionais na reitoria. No título do post, ‘Mano Brown na Ocupação!’.’


INTERNET
Maria Inês Dolci


Não à ditadura virtual


‘FALTA MUITA DISCUSSÃO e aperfeiçoamento para que a internet ganhe um projeto de lei à altura de sua importância no Brasil, um dos países em que mais cresce o número de internautas, e em que os usuários ficam mais tempo conectados. Dois aspectos polêmicos se sobressaem no substitutivo do projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG): o conceito de defesa digital e a ‘deduragem virtual’ obrigatória, de parte dos provedores de acesso à internet.


Defesa digital seria o sinal verde para que técnicos de informática invadissem as comunicações de suspeitos de ser hackers (piratas de computador). Uma espécie de liberdade para piratear pretensos piratas. Como disse um mestre na área, em comentário no meu blog: ‘Atuo com ‘security officer’ para um produto em uma multinacional. Isso me habilita a interceptar e alterar dados on-line?’.


Deduragem virtual, obviamente, não é um conceito do senador, mas é exatamente isso que o projeto propõe. Imaginem provedores de internet, que não são juízes, com a liberdade para ‘entregar’ suspeitos de práticas criminosas na web! Que poder fora do comum, que facilidade para destruir reputações em uma só tacada.


Como punir, então, os bandidos da web, sem esses mecanismos que o projeto sugere? Em primeiro lugar, é necessário que os internautas decentes, a maioria, tenham canais e proteção para informar às autoridades sobre e-mails com armadilhas para roubar senhas, com vírus executáveis e outras patifarias.


E que, daí, sim, juízes autorizem a quebra, digamos, do sigilo internético.


Além disso, sites picaretas de vendas que aplicam golpes em incautos abrem e reabrem o tempo todo, embora se saiba quem são seus donos e de onde vêm. Por que eles escapam impunes?


Promover um estado policialesco, em que uns vigiam os outros, cheira mais a stalinismo do que a proteção aos bons internautas. Tornar crime inafiançável o uso de logotipos de órgãos públicos seria uma punição adequada para golpistas.


Estabelecer equivalência em anos de prisão para cada mil reais roubados pela internet, outra forma de coibir crimes como ‘phishing’ (criação de páginas falsas para ‘pescar’ dados como senha bancária).


Sem esquecer que, para escapar dos golpes virtuais, os internautas também devem fazer sua parte, refreando a vontade de levar vantagem (caso típico das ofertas de produtos a preços muito abaixo do mercado), utilizando softwares antivírus e anti-spyware (espiões escondidos em sites da internet).


Criar cadastros de golpistas; dificultar o acesso a contas de e-mail, serviços de banda larga e de provedores de conteúdo; estabelecer penas severas de prisão, sem direito a redução por bom comportamento, são algumas formas de aumentar a segurança da web.


Vamos aproveitar que a votação do projeto foi suspensa, temporariamente, para melhorá-lo.


Hackers, crackers e outros pilantras merecem cadeia. Mas sem Big Brother legalizado, por favor!


NA INTERNET – http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Presidente da Cultura produz programa para falar bem de si mesmo


‘O presidente da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), Marcos Mendonça, está produzindo um documentário sobre sua gestão de três anos à frente da emissora pública paulista. Está usando funcionários e equipamentos públicos para falar bem de si mesmo.


Mendonça, cujo mandato termina na semana que vem, confirma a produção. ‘Estou gravando uma prestação de contas, um balanço da gestão na televisão’, diz. Ele não soube informar quando o programa será exibido pela Cultura.


O documentário está sendo dirigido por José Roberto Walker, diretor das rádios Cultura. Mendonça requisitou, e já recebeu, uma fita com material de arquivo sobre suas realizações.


Apesar de afirmar que o programa só retratará sua gestão como presidente da emissora, Mendonça gravou na Sala São Paulo (sua vitrine como secretário de Cultura do Estado), no Museu de Arte Sacra, no Museu do Imigrante, na Pinacoteca do Estado e no Parque da Luz.


No programa, Mendonça exalta o aumento na produção de programas e o equilíbrio financeiro da TV Cultura alcançados durante sua gestão, além da TV Rá-Tim-Bum. Mas sua passagem pela Cultura também foi marcada por desastres como o teleteatro ‘Senta Que Lá Vem Comédia’, a transmissão da segunda divisão do Campeonato Paulista de futebol e a tentativa de reeditar festival de MPB, entre outras.


FANTA 1 A Globo está fazendo o possível para levantar a audiência do ‘Fantástico’. Anteontem, exibiu chamadas das principais reportagens durante toda a edição e estreou a toque de caixa um novo quadro de Diego Gasques, o Alemão, vencedor de ‘Big Brother Brasil 7’.


FANTA 2 O ‘Paredão do Alemão’, uma das coisas mais constrangedoras exibidas pela Globo neste ano, deu 26 pontos. Foi o quadro de menor audiência do programa _que, na média, cravou 30 pontos na Grande SP.


DOR E FEBRE Pedro Bial, que acabou de retornar de férias, não apresentou o ‘Fantástico’ domingo porque pegou uma virose (tão forte que ele chegou a pensar que era dengue).


SOBE-DESCE ‘Picapau’ levou a Record ao primeiro lugar no Ibope domingo durante 44 minutos. O septuagenário desenho bateu o trintão ‘Esporte Espetacular’. Mais tarde, a participação dos humoristas do ‘Pânico’ no ‘Qual É a Música?’ rendeu 47 minutos de liderança ao SBT.


FICÇÃO Carolina Ferraz grava hoje uma participação em ‘A Diarista’. Interpretará uma atriz que vive ‘de fachada’. É infeliz e briguenta com o marido, mas posa de mulher perfeita e realizada para o público.


APERITIVO A Globo exibe desde ontem no site do projeto Quadrante (www.globo.com/quadrante) vídeos com personagens de Taperoá (PB), onde foi gravada ‘A Pedra do Reino’’


************