Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Livro elucida paradeiro de desaparecidos políticos

[do release da editora]


Após três décadas de mistério, chega às livrarias a revelação dos últimos passos de seis guerrilheiros que estavam na Argentina e desapareceram ao ingressar no Brasil para promover ações armadas no Sul do país. O paradeiro do grupo está elucidado em Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?, do jornalista Aluízio Palmar.


A obra é o resultado de 26 anos de investigação jornalística e verdadeira obstinação em busca das circunstâncias das mortes e da localização da cova onde foram enterrados cinco brasileiros e um argentino que insistiram em continuar a luta armada contra a ditadura militar mesmo após a derrota das organizações guerrilheiras em meados de 1974.


Itaipu e Operação Condor


O livro expõe detalhes inéditos da cilada armada pela repressão para atrair os remanescentes. A denúncia traz nova versão sobre o emblemático ex-sargento Alberi Vieira dos Santos, cuja participação na emboscada está evidenciada em documentos pesquisados pelo autor em arquivos empoeirados e em entrevistas com pessoas contemporâneas do agente. O jornalista traz ao público como prova cabal o depoimento de uma testemunha ocular do crime encontrada depois do cruzamento das linhas de investigação.


Buscar Onofre Pinto, os irmãos Daniel José de Carvalho e Joel José de Carvalho, José Lavéchia, Víctor Carlos Ramos e o argentino Enrique Ernesto Ruggia virou obsessão do jornalista desde seu retorno do exílio em 1979. ‘Às vezes penso que essa idéia fixa era movida pela curiosidade de saber como teria sido minha morte caso eu tivesse aceitado o convite do ex-sargento Alberi Vieira dos Santos para me integrar àquele grupo’, conta Palmar.


O livro não está limitado a elucidar o destino dos remanescentes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Ele amplia o debate sobre o mais obscuro capítulo da história recente do Brasil e da América ao lançar novas informações em torno da formação de focos da guerrilha armada na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), ao comprovar a participação da Itaipu Binacional na Operação Condor, apontar o destino de parte dos US$ 2,6 milhões expropriados do cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros enriquecido por anos e anos de corrupção.


Tarefa angustiante


Palmar também conta com riqueza de detalhes parte da sua trajetória como ex-líder da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Ele leva o leitor ao tenso ambiente vivido pela VPR até sua dissolução. O título reconstrói o clima de suspeita em relação a possíveis agentes infiltrados, a angústia quanto aos companheiros que caíram nas mãos dos militares e o tom de despedida da luta armada nos últimos comunicados da organização.


Em seu primeiro livro, ele conta a história do Brasil mesclando com suas memórias das noites horrores no cárcere, tortura nas mãos de militares, da sua libertação no grupo de setenta políticos presos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher e os tropeços com a morte, entre outros momentos conturbados desde o início da sua militância política no Rio de Janeiro.


Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? é um livro fundamental para a reconstituição da história dos movimentos armados no país durante o regime militar, escreve o jornalista Fábio Campana no texto de apresentação da obra. ‘As sociedades não podem prescindir de sua história para evitar a repetição de seus erros e desvarios. Palmar nos ajuda nessa tarefa angustiante, ao fazer história e ao mesmo tempo buscar os lugares onde enterraram nossos mortos’, afirma Campana.


O autor


Aluízio Ferreira Palmar nasceu em 1943 em São Fidélis, no Rio de Janeiro. Em sua juventude estudou Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense e, devido à sua militância revolucionária, foi preso e banido do país. Com a anistia voltou ao Brasil e se radicou em Foz do Iguaçu (PR), onde começou suas atividades como jornalista profissional trabalhando no semanário Hoje Foz.


Em 1980, criou o semanário Nosso Tempo, conhecido por sua linha editorial rebelde e alternativa. Atuou ainda em outros meios de comunicação do Paraná e exerceu cargos de secretário de Comunicação e de Meio Ambiente na Prefeitura de Foz do Iguaçu. Atualmente, ocupa cargo de chefe de gabinete da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.