Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O achamento de Portugal

Quarenta poetas portugueses e mineiros contemporâneos, entre os quais jornalistas, participam da antologia O achamento de Portugal. O lançamento mundial, no dia 8 de junho de 2005, será realizado nos jardins internos do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. O livro, fruto de parceria inédita da editora anomelivros e o Consulado-Geral de Portugal em Minas Gerais, conta com os patrocínios da Fundação Calouste Gulbenkian, entidade de direito privado e utilidade pública, e o Instituto Camões, ligado ao Ministério de Negócios Estrangeiros do governo português, ambos com sede em Lisboa. Apóiam o evento a Sografe e o Palácio das Artes/Fundação Clóvis Salgado.

Um projeto detalhado, inspirativo e instigante que começou há três anos, durante a realização do Salão do Livro de Minas Gerais. Ressurgiu em 2004, num seminário de literatura, em Ouro Preto, com as presenças do ator e poeta mineiro Wilmar Silva, editor da anomelivros, de Valter Hugo Mãe (nascido em Angola) e José Luís Peixoto, três nomes importantes da poesia contemporânea em língua portuguesa. No encontro, um colóquio multidisciplinar que reuniu vários escritores, o poeta mineiro começou alinhavar a idéia surgida no passado: reunir numa publicação escritores dos dois lados do Atlântico. Um trabalho de pesquisa, memória, congraçamento e intercâmbio, marcado pela multiplicidade de estilos. Criativo e revelador. Fértil e imaginativo nas mãos de um conjunto de pessoas que sempre souberam valorizar a história, seu legado e a infinita ponte cultural, fecunda; elos e ligações de Minas e as terras lusitanas.

O livro será relançado em Lisboa no segundo semestre de 2005. Constam da antologia poemas inéditos de escritores consagrados e novos, como José Luís Peixoto, o jornalista Fabrício Marques, Edimilson de Almeida Pereira, Maria Esther Maciel, Ronald Polito, Wilmar Silva, Ana Elisa Ribeiro, Ricardo Aleixo, Alécio Cunha, Mônica de Aquino, Helton Gonçalves de Souza, Guiomar de Grammont, Luiz Edmundo Alves, Mário Alex Rosa, Milton César Pontes e Donizeti Rosa (falecido no ano passado, após ter seu estado de saúde agravado quando morava num acampamento do Movimento dos Sem-Terra na cidade de Bambuí, Minas Gerais), além deste articulista.

A coletânea vai ser distribuída, via Instituto Camões, a toda a comunidade lusófona: Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste.

Outra iniciativa que merece destaque é a recente fundação da Associação Internacional de Literaturas de Língua Portuguesa e Outras Linguagens (Alipol), entidade intercontinental que até o momento conta com mais de 150 escritores e artistas filiados de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Mais informações aqui.

A seguir, trecho de A criança em ruínas (Edições Quasi, Lisboa, 4ª edição), primeiro livro de poesias do cineasta, dramaturgo e escritor português José Luís Peixoto:

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:

o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs

e eu. depois, a minha irmã mais velha

casou-se. depois, a minha irmã mais nova

casou-se. depois, meu pai morreu. hoje,

na hora de pôr a mesa, somos cinco,

menos a minha irmã mais velha que está

na casa dela, menos a minha irmã mais

nova que está na casa dela, menos o meu

pai, menos a minha mãe viúva. cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde

como sozinho. mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.

enquanto um de nós estiver vivo, seremos

sempre cinco.

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Jornalista e escritor (Belo Horizonte), autor de Pavios curtos (anomelivros, 2004)