Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O balanço das medalhas

O Brasil é uma democracia, mas o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pensa que em matéria política somos como a China, onde a mentira se impõe porque ninguém ousa dizer a verdade.


O balanço sobre a participação brasileira nestas Olimpíadas é – para dizer o mínimo – ilusório. O presidente Carlos Artur Nuzman declarou que esta foi a melhor participação brasileira na história das Olimpíadas. Não é verdade: tivemos menos dois ouros do que em Atlanta, embora a nossa delegação agora tenha sido bem maior.


Também é suspeito o critério de avaliação utilizado pelo COB, aliás copiado do americano, onde o número total de medalhas é o que conta – e não as de ouro. Soltar fogos só porque afinal conseguimos ficar à frente de Cuba é puro cinismo. A situação política da ilha – e não o desempenho dos seus atletas – foi a responsável pela débâcle esportiva do país.


Três pódios


Numa excelente matéria de primeira página, a edição de domingo (24/8) de O Globo ofereceu números preocupantes sobre os nossos investimentos nos esportes olímpicos. Cada medalha que conquistamos custou 53 milhões de reais aos cofres da União.


É muito dinheiro para tão poucas medalhas e isso prova que toda a estrutura do esporte amador precisa ser refeita e ampliada. Com investimentos apropriados teremos mais competições e com mais competições a mídia se sentirá estimulada a oferecer uma cobertura ao longo de todo o ciclo olímpico, e não apenas na fase final.


Ficou evidente também que embora este seja o país do futebol masculino, só conseguimos na modalidade um modesto bronze, ao contrário das meninas que ficaram com a prata. E brilhamos no vôlei com três pódios.


São fenômenos que a mídia não deveria ignorar. Cabe a ela manter o espírito olímpico sempre aceso, mesmo no período em que a chama olímpica estiver apagada.


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O rabo de cavalo de Carlos Nuzman


Juca Kfouri (*)


[Comentário para o Jornal da CBN, 25/8/2008]



O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro teve a coragem de dizer que o Brasil progrediu em Pequim.


De Atenas, quatro anos atrás, o Brasil trouxe cinco medalhas de ouro. Desta vez trouxe três. Em Atlanta, 12 anos atrás, o Brasil ganhou as mesmas 15 medalhas de Pequim.


O desempenho brasileiro cresceu para baixo, como rabo de cavalo. Pior ainda porque nunca antes neste país se dera tanto dinheiro ao esporte de competição, nada menos do que 1 bilhão e duzentos mil reais, nos últimos quatro anos. Cada medalha custou, portanto, a monstruosidade de 80 milhões de reais.


E não se investe quase nada na prática de esportes nas escolas, nas favelas, entre os de terceira idade, portadores de deficiência etc. E não se leva em conta os dados da Organização Mundial da Saúde que ensinam que cada dólar que se investe em massificação do esporte significa poupar três em saúde pública.


A entrevista de Nuzman foi mais deprimente que a perda da vara da saltadora brasileira ou que o choro do nosso judoca excluído ou do nosso ginasta caído.


Se Maurren Mágica, o vôlei feminino e César Cielo Filho de Ouro são mesmo de ouro; se o vôlei masculino de quadra, de praia, o futebol feminino e o iatismo são de prata; e se ainda houve o vôlei de praia masculino que é de bronze, como a Falavigna do taekwondo, as velejadoras, até o futebol masculino, além dos judocas, do Cielo de novo, Nuzman volta da China também com uma medalha: obviamente de lata.


(*) Jornalista