Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O discurso midiático da globalização

Sempre é tempo de pensar a comunicação na ordem social, pois nos tempos modernos continua havendo um intenso debate acadêmico em torno das lógicas econômicas, que seriam responsáveis pela padronização do pensamento social, numa posição de questionamento das desigualdades e democracia. Na realidade, o ponto de visão talvez devesse ser outro, pois não se trata do poder orquestrado pelas lideranças empresariais de definir o conhecimento dos indivíduos para a passividade diante de um sistema de mercado dominador. O olhar, depois de séculos de pura repetição, não é o suficiente para dar conta de perceber a realidade contemporânea.

A rigor, desde o surgimento da sociedade deve se observar o discurso enquanto ponto de referência para a formação de conhecimento e relações sociais. Neste sentido, na globalização, os meios de comunicação ganham notoriedade e importância administrativa da ordem global.

Já analisadas exaustivamente por alguns autores, as diferenças de classes possivelmente não estão na base econômica simplesmente, nem no resultado da atitude e valores de uma classe sobre outra, mas na reprodução discursiva de programas, em especial dos noticiosos; nos variados meios, que estariam na formação para aceitação de normas sistêmicas – consubstanciadas com a necessidade de progresso –, cujo reflexo não atinge somente os espectadores, mas também os valores culturais de uma classe de profissionais que lidam diariamente com a informação, que ativam percepções.

Um ciclo que passa pelos meandros da academia, quando nos bancos das escolas, inclusive de jornalismo, “enquadra” o futuro profissional nas lógicas das práticas definidas a partir dos chamados valores notícias do campo de comunicação. Numa observação atenta, no Brasil, sobre a revista Veja dos últimos anos, é fácil perceber a grande preocupação do meio com temas como comportamento dos indivíduos, educação (inclusive sexual), política e tecnologias, com ponto fixo nas lógicas globais, amparadas pelo científico.

Mídia, ciência e capital

Não se trata de ignorar a globalização, inexorável diante das novas técnicas, mas sua tessitura está assentada numa “fala” que reproduz um sistema, permitindo a continuidade com mais eficiência das grandes diferenças de posições e status quo na sociedade – apesar do avanço da educação formal –, que não diz respeito à imposição de classe, mas abarca nações inteiras e, por extensão, grupos de indivíduos dentro destes territórios resistentes às normas globalizantes. Desta forma, como exemplo, cabe perguntar quais são os discursos proferidos pela América Latina, Oriente Médio, países não capitalistas e periféricos? Não há sequer na América Latina inserção no espaço social, dentro dos limites da região, dos meios de comunicação locais, que na maioria das vezes repetem o que vem dos grandes centros políticos e comerciais.

O econômico, por sua vez, vem a reboque destes valores de fala, os quais estão permanentemente em fluxo pela aldeia global. Desta forma, o meio constitui a mensagem para um sistema de globalização moderno. O jornalismo, neste século, torna-se mais importante do que o estrangulamento financeiro a que a massa se deve submeter para se equilibrar.

Não se trata simplesmente de ideologia, portanto, mas de discurso que se encerra no agendamento – o não publicado, desconhecido do público –, conforme valores-notícias que põem em sintonia mídia, ciência e capital. Assim, em essência, o jornalismo ganha poder na administração global, substancialmente.