Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O homem que enxerga longe

[do release da editora]

Paixão, aventura, humor, intriga, tragédia e política. Elementos fundamentais a um bom romance estão presentes em Apoena – o homem que enxerga longe, organizado por Lílian Newlands e com a colaboração de Aguinaldo Araújo Ramos. Mas, apesar desses elementos, o livro não é de ficção. É uma biografia do sertanista Apoena Meirelles, assassinado em 10 de outubro de 2004.

A paixão é constante na obra. Desde a união do casal Apoena e Denise Maldi até a causa que os dois abraçaram: a defesa dos índios, em particular os de Rondônia, e da mata. Tanto que, muito antes de se falar em desenvolvimento sustentável, o personagem central desse livro já defendia uma harmonia entre quem vive na floresta e a atividade econômica – respeitando-se a demarcação das terras indígenas.

Também foi movido à paixão pela mesma causa que o então chefe de reportagem da sucursal de Brasília de O Globo, Possidônio Cavalcanti, o Possi, largou a profissão de jornalista e tornou-se sertanista. Isso aconteceu após ele ter conseguido a primeira entrevista concedida por Apoena Meirelles. Uma decisão que custou sua brutal morte. Como o livro conta, por um motivo banal – a intriga –, Possi acabaria sendo massacrado pelos índios Cintas-Larga.

Um casal na floresta

Essa seria apenas uma das muitas tragédias presentes em Apoena – o homem que enxerga longe. Vários outros amigos do casal também tiveram um final trágico. O piloto Ari Dal Toe despencou com seu bimotor em 1981 e o sertanista Zé Bell morreu vítima de um tiro, no ano seguinte, que teria sido suicídio.

Todos esses e outros personagens aparecem no livro também de forma bem-humorada. O capítulo escrito pela antropóloga Denise Maldi Meirelles sobre o mito que existia sobre os Kren-akarore é um bom exemplo. A resistência dos Paaka-Novas aos missionários que tentavam catequizá-los e fazê-los acreditar nos santos do cristianismo é outro. Nem os Kren-akarore eram povos gigantes, como rezava a lenda, nem os Paaka-Novas deixaram de adorar seus deuses.

A política também marca presença na parte destinada a Apoena Meirelles, toda documentada e escrita na primeira pessoa. De delegado regional, Apoena chegou a presidente da Funai, na Nova República. Ficou no cargo apenas sete meses. Defendia a descentralização do órgão, mostrava a dificuldade que a burocracia criava aos índios e tantos outros problemas que afligiam a região, envolvendo conflitos que acabavam em mortes de ambos os lados.

Enfim, a história que Apoena – o homem que enxerga longe pretende contar, como escreve a organizadora da obra na contra-capa, é a vida de um casal na floresta amazônica, em contato permanente com diversas tribos de Rondônia.