Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O que foi feito do JB

Sou carioca, 43 anos, casada, mãe de três filhos, morando há seis anos em Brasília, mas mantendo minha ligação com o Rio através da mídia. Confesso, contudo, que ando pensando em largar. Especialmente devido a qualidade de alguns jornais, especialmente o Jornal do Brasil. Vejam no que se transformou um veículo que era motivo de orgulho Rio. Eram colunistas, articulistas, gente de primeira linha, e virou um tablóide vazio, fútil e superficial. No domingo (21/12), por exemplo, a Revista de Domingo estava uma coisa! Heloisa Tolipan? Meu Deus! E a Hilde? Seis páginas de pura baboseira, jabaculando os amiguinhos. Anna Ramalho, quanta tolice…

O que sobrou do nosso JB? Nunca antes vi tanto espaço cedido para tão pouco talento.

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Quero parabenizar o Alberto Dines e toda a equipe do Observatório da Imprensa pelos excelentes artigos publicados neste conceituado site que mescla informação e opinião concomitantemente. Mesmo não concordando com alguns artigos, o Observatório da Imprensa é um elemento imperativo de leitura para aqueles que buscam criar suas próprias dimensões ideológicas. Um abraço. (Charles Piero Siemeintcoski, redator e estudante, Jaraguá do Sul, SC)

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O texto que segue será enviado às cartas do leitor do Globo e a todos que têm a ver com isso. O ocorrido diz respeito a todos que estão fazendo coisas que prestam com a arte e a cultura no país. Por isso, caso lhes apeteça, respondam à matéria, e engrossem o coro. Para entender do que se trata a história, leiam antes Chatos por Ofício (Heyk Pimenta, Rio de Janeiro, RJ)

Texto escrito por Xisto da Cunha:

Sobre ‘Chatos por ofício’

Meu nome é Leonardo Xisto, 26 anos, formado em tecnologia de gravação e produção fonográfica, poeta, compositor, músico e agente cultural.

Na edição de O Globo do dia 18/12/08, foi publicado um caderno especial produzido pela equipe do Programa de Estágio Multimídia daquele jornal em que vendedores ambulantes, flanelinhas, cobradores de van, construtores civis, deputados e músicos como eu, meu parceiro Azulay e um grupo de pagode são marginalizados, discriminados, hostilizados e reduzidos por um ponto de vista que considero frágil e superficial, pautados por uma série de equívocos.

O vendedor de abacaxi, o rapaz do biscoito Globo, o sorveteiro da praia, esses – que na reportagem são descritos como ‘os perturbadores da paz da sociedade’, são na verdade apenas o reflexo da condição política e econômica de um dos países mais ricos do mundo, mas que detém um dos piores índices de distribuição de renda, empurrando avalanches de jovens para o trabalho informal nas praias e ruas do país – o Brasil.

Esses trabalhadores são exatamente o que está na belíssima foto de um vendedor de praia de Felipe Hanouver na página 5 do caderno: jovens caminhando ao sol, trajando verdadeiros quimonos com estampas de empresas, e carregando gigantescos tonéis de esperança; a foto do vendedor trabalhando debaixo de sol inclemente, passando no meio de um grupo que deve ter a mesma idade dele — essa é a cara da coisa.

Na página 3, em matéria intitulada ‘Dois minutos da sua atenção’, eu e o professor de bateria e percursionista do Cordão do Bola Preta, Azulay, somos igualmente reduzidos aos adjetivos pejorativos que os editores infelizmente estão ensinando por mau exemplo aos aprendizes de jornalismo.

Quando fomos convidados pela repórter Fernanda Baldoti para a entrevista, nos informaram que o assunto da matéria seria a militância artística, o trabalho autônomo pela sensibilização para a poesia, entre outros temas relevantes para jovens como nós — e que acreditamos deveria ser, também, para os jovens estagiários de O Globo. Como futuros jornalistas, consideramos que deveriam estar interessados na construção democrática da nossa sociedade e de nosso papel como protagonistas de mudanças sociais. Como diz Policarpo Quaresma, ‘o Brasil não é para ser descoberto, mas, sim, reinventado’.

O que vimos publicado não foi o que nos havia sido dito para que concordássemos em dar a entrevista e nos submeter às fotos. Jamais nos prestaríamos a ser personagens de tamanho equívoco – não só em relação a nós mesmos, mas também aos vendedores ambulantes e a outros ‘personagens’ por eles retratados. E foi exatamente isso o que nos causou estranheza, se levarmos em consideração o trabalho da imprensa uma ilha de credibilidade de nosso tempo. Será esse jornalismo que estão ensinando aos futuros jornalistas de O Globo? Sim, porque foi publicado.

Mais preocupante ainda é ver a incapacidade da repórter — que certamente faz parte de uma elite selecionada para estágio no jornal — de discernir uma proposta artística de uma mera mendicância. Diferentemente das condições que levam cidadãos do mundo inteiro a não ter opção que não seja pedir, nós levamos a arte para as ruas por opção; não estamos pedindo coisa alguma, mas sim oferecendo. Assim como já fomos a escolas públicas levar poesia para crianças que só conhecem a retórica da violência, da intransigência e do ‘entrave’, como a do deputado ACM neto (DEM) retratado como ‘herói’ na página 7 do caderno.

Como músicos, temos nosso trabalho autoral, com a Banda na Sala do Sino com repertório de trinta músicas, que a repórter teve oportunidade de conhecer, entrevistar os músicos durante um show e ainda receber um CD. Nunca poderíamos, como sugere a reportagem, ‘estar matando ou roubando!’ – pois estamos escrevendo nossos livros, compondo nossas músicas, lutando por relações mais humanas sob qualquer condição econômica e (ou) política, e, como disse Milton Nascimento, ‘indo aonde o povo está’. Isso porque acreditamos ser essa a função do artistas, assim como acreditamos que a do jornalista deve ser informar dentro dos limites da ética. (Leonardo Germano Xisto da Cunha, poeta, músico e compositor)

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Em tempos de Bienal vazia, ‘pichadora do vazio’ no vazio da Bienal presa há 50 dias, em plena manifestação de uma experiência estética, enquanto outros delitos piores não levam ‘puxadores’ do dinheiro público para nem um dia atrás das grades (ainda), peço licença para perguntar ‘o que é arte?’ para a artista Sara Ramo, uma das três artistas selecionadas para a Bienal de Veneza. Ela posa para foto ‘em uma de suas obras’ na página E4 do caderno ‘Ilustrada’ de 15/12 (Folha de S. Paulo). Qual obra? Desculpem, mas perguntar não ofende. (Vera Godoi, fotógrafa, Belo Horizonte, MG)

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Professora, Brasília, DF