Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O referendo e as sugestões de um jornalão americano

Em artigo sobre o referendo de Hugo Chávez, publicado no domingo (2/12), dia da votação, o New York Times deu ênfase ao perfil dos eleitores – principalmente aqueles fiéis ao presidente venezuelano. O referendo – de que Chávez saiu derrotado – reivindicava alterações na constituição do país, dentre elas a ampliação do mandato presidencial e mudanças-base para a criação e fortalecimento de um Estado socialista.


A votação acirrou a tensão entre oposição e governo mas, apesar de polêmica, não registrou grande índice de comparecimento às urnas. O Times foi enfático ao criticar a postura do governo de se negar a receber observadores da Europa e dos EUA para monitorar o processo eleitoral. O jornalão nova-iorquino também defendeu que a proposta de alterações constitucionais podia ser classificada como uma ferramenta para aumentar o poder de Chávez – nada surpreendente quando se trata do líder venezuelano, que nunca escondeu sua postura política em relação ao socialismo.


Sugestão


O Times acompanhou o dia de votação em Petare, uma das cidades mais pobres da Venezuela, e fez questão de ressaltar a pobreza da região. Em nenhum momento, entretanto, buscou analisar o impacto do referendo em áreas mais prósperas do país. O que se pretende com isso? Sugerir que o governo só tem apoio da população mais carente?


Entre os entrevistados, estão uma vendedora ambulante que se diz ‘chavista’, mas não votou pelas reformas, e uma mulher de 52 anos que ganhou um empréstimo do governo. Esta última tem suas roupas descritas – chapéu, camisa estampada com a figura de Che Guevara. Novamente, a sugestão: será que o diário se importaria em citar suas roupas se não houvesse a referência a Che?


Ainda que seja comum que a população seja ouvida em período eleitoral – por meio de pesquisas e da imprensa -, é importante pensar no que é feito de sua participação neste processo. A opinião é transformada em números que delineiam gráficos e planilhas que, por sua vez, viram porcentagens concretas e ferramentas de manipulação e intrigas entre lados opostos. No caso específico do referendo venezuelano, o que representam estas duas eleitoras ouvidas pelo Times? Nada mais são que uma simples sugestão.