Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os nomes e os feitos

[do release da editora]

Este livro é o primeiro volume da coleção que pretende mostrar a imprensa brasileira e os personagens que nela fizeram história, como Carlos Drummond de Andrade, Rui Barbosa, Assis Chateaubriand e Gilberto Freyre. A edição é da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e da Universidade Metodista de São Paulo.

O primeiro volume traz textos de Hipólito José da Costa, Manoel Antonio da Silva Serva, Cipriano Barata, Adolpho Emile Bois Garin, Jerônimo Coelho, João Francisco Lisboa, Tavares Bastos, José Carlos Rodrigues, Rui Barbosa, Gustavo de Lacerda, Roquete Pinto, Assis Chateaubriand, Barbosa Lima Sobrinho e Cásper Líbero.

Como observa o presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Hubert Alquéres, as informações, análises, crônicas, editoriais, artigos de opinião e outros textos que chegam aos leitores têm no passado a liderança e a ousadia dos empreendedores que lançam e mantêm os veículos de todos esses gêneros: ‘Essa obra coletiva oferece uma introdução acessível e cativante à trajetória diversificada da mídia brasileira e seus construtores. Concentrando-se nos perfis biográficos de alguns realizadores da imprensa nacional, amplia o conhecimento dessa história já longa, mas ainda pouco pesquisada e difundida’.

Entre os destaques do título, por exemplo, há um capitulo sobre o escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade mostrando as faces de poeta e de cronista de jornais e revistas, sintetizando os dados biográficos, a bibliografia de suas coletâneas de crônicas e reproduzindo dois textos saborosos do autor.

No capitulo dedicado a Roquete Pinto, estão registros sobre sua atuação no rádio e o interesse pela educação brasileira, incluindo um texto seu sobre a missão educativa do rádio e recordações das filhas Beatriz e Carmen Lúcia. De Assis Chateubriand, o pioneirismo na inauguração da TV em 18 e setembro de 1950, seu envolvimento político e a famosa cadeia dos Diários Associados.

A série foi idealizada pela Rede Alfredo de Carvalho (formada em 2000 para homenagear o historiador pernambucano Alfredo de Carvalho, que no final do século 19 começou a pesquisar e a inventariar o panorama dos jornais e revistas publicados no país) e um dos objetivos é motivar jovens pesquisadores para a retomada das hipóteses e roteiros esboçados até aqui para ampliar e servir de parâmetro para os novos conteúdos a serem difundidos pela mídia nacional no século 21.

José Marques de Melo, organizador da obra e professor emérito da USP e diretor da Cátedra Unesco de Comunicação da Universidade Metodista, explica que há quase 100 anos começou uma iniciativa emblemática para resgatar a memória da nossa imprensa, com Alfredo de Carvalho. A idéia de Alfredo, acolhida e endossada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, transformou-se em um projeto coletivo, respaldado pelo governo nacional, gerando uma exposição jornalística em 1908, aberta ao público em vários estados, além de dois volumes da Revista do HIGB.

O esforço de resgatar essa história é ressaltado por Marques de Melo: ‘Não fosse a ação preservacionista da Biblioteca Nacional e de algumas bibliotecas estaduais e municipais, aliada à dedicação de colecionadores particulares, esse itinerário da imprensa no século 20 teria sido apagado’. Ele elogia, ainda, a iniciativa da revista Imprensa que franqueou oito páginas da sua revista mensal para o projeto destinado a biografar personalidades que se destacaram na historia da mídia brasileira.



Prefácio

José Marques de Melo

Há quase 100 anos, o Brasil testemunhava iniciativa emblemática no sentido de resgatar a memória da nossa imprensa.

O historiador pernambucano Alfredo de Carvalho, que, no anoitecer do século XIX, havia feito pesquisas essenciais para desvendar enigmas persistentes no itinerário da mídia impressa brasileira, propõe-se, na alvorada do século XX, uma nova e difícil empreitada. Ele inspira um mutirão intelectual destinado a inventariar o panorama dos jornais e revistas publicados no país, durante o primeiro século da sua vigência em território nacional.

A idéia de Alfredo de Carvalho, imediatamente acolhida e endossada por Max Fleuiss, então secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) [a comunicação desse projeto foi efetuada aos sócios do IHGB pelo secretário perpétuo em sessão realizada na 13a. sessão ordinária da instituição, no dia 29 de julho de 1907. FLEUISS, Max – Apresentação, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo consagrado à Exposição Comemorativa do Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil, Tomo I, Rio de Janeiro, 1908, p. V-XIII], transforma-se em projeto coletivo, respaldado pelo governo nacional, gerando uma exposição jornalística, aberta ao público, na capital republicana e em outros estados da federação brasileira em 1908.

Como resultado desse esforço incomensurável, do qual participaram ilustres historiadores e hemerógrafos de várias províncias, são editados dois volumes da Revista do IHGB, reproduzindo os catálogos elaborados pelos pesquisadores estaduais das regiões norte-nordeste, bem como o ensaio monográfico escrito magnificamente por Alfredo de Carvalho [CARVALHO, Alfredo de – Gênese e Progressos da Imprensa Periódica no Brasil, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo consagrado à Exposição Comemorativa do Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil, Tomo I, Rio de Janeiro, 1908, p.1-89].

Infelizmente os catálogos referentes às regiões situadas ao sul do território nacional, tendo como divisor geopolítico a Bahia, desapareceram em função do incêndio que, naquela ocasião, destruiu preciosos originais depositados nos prelos da Imprensa Nacional. Esse episódio sinaliza a maldição que se projetaria sobre a memória da nossa imprensa, penalizada pela incúria institucional e desprezada pelas nossas vanguardas intelectuais.

Não fosse a ação preservacionista da Biblioteca Nacional e de algumas Bibliotecas Estaduais/Municipais ou a dedicação laboriosa de alguns colecionadores particulares, o itinerário percorrido pela nossa imprensa no século XX teria sido apagado definitivamente da memória brasileira. Todo esse acervo foi mapeado e em seguida microfilmado, graças à cruzada documental liderada quixotescamente por Esther Bertoletti [BERTOLETTI, Esther – Nota Prévia, Periódicos Brasileiros em Microforma, Catálogo Coletivo, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1985, p. 13-16], que acalenta o sonho de ver instalado em nosso país uma Hemeroteca Nacional, a exemplo do que ocorre em outros países europeus ou americanos.

Esse descaso em relação à memória da imprensa traduz em certo sentido a atitude pátria referente à própria memória nacional, principalmente no âmbito da cultura não erudita, condenando ao esquecimento as instituições, os fatos e os personagens que também fizeram História. Tanto assim que as novas gerações de profissionais midiáticos – jornalistas, publicitários, radialistas ou teledifusores – formados pelas nossas universidades possuem escasso conhecimento sobre a trajetória midiática brasileira.

Isso os transforma em reféns involuntários dos gêneros e formatos alienígenas, reproduzindo contInuamente modelos oriundos das matrizes geradoras da cultura pós-moderna, quase sempre descolados da nossa realidade. Trata-se de fenômeno determinado pela ignorância em relação aos padrões midiáticos já testados em território nacional, ausentes das lições que tiveram dos seus mestres, tanto na academia quanto na indústria.

Foi precisamente com a intenção de neutralizar essa lacuna cognitiva que tomamos a iniciativa de encetar um novo movimento cultural, buscando ao mesmo tempo preservar a memória da imprensa e construir a história midiática nacional. Nossa meta é desenvolver ações voluntárias e independentes, embora metodologicamente articuladas, no sentido de completar o inventário desencadeado há um século e ao mesmo tempo tecer a malha que dá sentido ao complexo midiático brasileiro [MARQUES DE MELO, José – O pragmatismo utópico da Rede Alfredo de Carvalho, In: PONTES TAVARES, Luis Guilherme, org. – Rumo ao Bicentenário da Imprensa Brasileira, Salvador, NEHIB / Editora da UFBA, 2002, p. 9-32].

Nada mais justo do que homenagear o precursor desse mutirão, atribuindo o nome de Alfredo de Carvalho à Rede nacional que se constitui no ano 2000, tendo a adesão inicial da revista Imprensa.

O descortino que vem caracterizando a trajetória jornalística de Sinval de Itacarambi Leão e a imensa generosidade que o qualifica como ser humano singular o motivaram a acolher a idéia que lhe apresentei na ocasião, franqueando 8 páginas da sua revista mensal para o desenvolvimento do projeto destinado a biografar personalidades que se destacaram na História da mídia brasileira. [No editorial em que apresenta a série aos leitores da revista, ele diz textualmente: ‘Esta edição n. 149 de Imprensa tem (…) um caderno de oito páginas sobre o novo dia da imprensa… (…) O prof. José Marques de Melo conta-nos (…) a história de Hipólito da Costa. (…) A partir deste caderno, surgiu o Projeto 200 anos da imprensa brasileira, 1808-2008, pelo qual a revista Imprensa vai preparar, com textos resgatados e novos, uma expectativa proveitosas destas futuras comemorações’.]

Tais encartes foram sendo produzidos regularmente, com a participação voluntária de pesquisadores situados em diferentes quadrantes do território nacional, identificando figuras emblemáticas cujo desempenho profissional, empresarial ou cívico pode servir de parâmetro às novas gerações que vão diligenciar os conteúdos a serem difundidos pela mídia nacional no século XXI.

Os colaboradores deste projeto conformaram o núcleo seminal da Rede Alfredo de Carvalho, que começou a institucionalizar-se no ano seguinte, em cerimônia realizada na Sala Barbosa Lima Sobrinho da Associação Brasileira de Imprensa – ABI, na cidade do Rio de Janeiro. Desde então, a Rede Alcar vem se ampliando, com a criação de núcleos regionais, bem como a realização de encontros nacionais preparatórios para o Congresso Brasileiro de História Midiática previsto para 2008, destinado a celebrar o bicentenário da implantação da nossa imprensa.

A adesão de instituições publicamente legitimadas, além da ABI, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB -, a Academia Brasileira de Letras – ABL, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM, bem como as Cátedras UNESCO de Comunicação (Universidade Metodista de São Paulo) e FENAJ de Jornalismo (Universidade Federal de Santa Catarina), significa o fortalecimento da Rede Alcar e sua projeção em todo o território nacional.

Esse reconhecimento institucional completa-se, agora, com a participação da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que assume o compromisso de editar os volumes da série ‘Imprensa Brasileira: Personagens que fizeram História’. Desta maneira, os perfis biográficos originalmente publicados pela revista Imprensa, desde junho do ano 2000 até outubro de 2003, enfeixados nos dois primeiros volumes da série, ganham difusão ampla nas universidades brasileiras, bem como nas empresas midiáticas e nos centros culturais de todo o país.

É importante ressalvar que esta série idealizada pela Rede Alfredo de Carvalho foi conscientemente prevista como ação de divulgação científica, destinada a difundir perfis biográficos e sumarizar idéias que marcaram a trajetória das indústrias midiáticas brasileiras, indicando fontes que podem servir de referência para os que desejam aprofundar conhecimentos.

Nela está implícita também a ambição de motivar jovens pesquisadores para a retomada as hipóteses e roteiros aqui esboçados, dando continuidade ao plano fundamental. Ou seja, construir a História Midiática Brasileira, resgatando os dois séculos já palmilhados e ao mesmo iluminando as ações a serem empreendidas nesta conjuntura em que alimentamos a utopia de fincar a bandeira nacional no novo mapa do mundo.