Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pesos e medidas da imprensa

Gosto muito do Observatório. É delicioso perceber uma crítica séria à imprensa brasileira que é, muitas vezes, extremamente tendenciosa e elitista. Queria deixar aqui registrado meu assombro com as escolhas pelos temas da classe média e pelo quase descarte pelos mesmos problemas das classes menos abastadas. Isso pode ser visto em inúmeras reportagens, mas no presente momento me refiro ao infeliz acontecimento da menina Isabella. A verdade, porém, é que nos bairros pobres isso também ocorre, provavelmente com maior intensidade, mas essas versões não são publicadas e, quando são, ocorre em uma nota de jornal e não se ouve mais falar no assunto.

No dia seguinte em que Isabella morreu, uma menina de 10 anos, em Vitória, foi também jogada, desta vez do 4º andar de um edifício. Não se sabia ao certo se o pai a jogou, pois estava bêbado, ou se ela, no desespero de ser espancada, se atirou. Estatelada no chão, ainda teve que ouvir o pai mandar se levantar. A reportagem pode ser encontrada neste link.

Qual a diferença entre este caso e o de Isabella? O óbito ou a classe social? A propósito, qual a diferença entre Liana Friedenbach e a menina de Abaetetuba? O óbito ou a classe social?

E, assim, a comoção geral da sociedade brasileira é destinada a apenas uma parcela da população. A menina de Abaetetuba, que ficou com 20 homens por quase um mês sofrendo estupros em massa, entre outras torturas, não comoveu a imprensa com a mesma intensidade que Liana comoveu. A menina que é espancada pelo pai bêbado e é atirada (ou se joga) do 4ª andar, não comoveu suficientemente a imprensa como o caso de Isabella. Que imprensa é essa, que só se comove um Brasil? E os outros Brasis que aqui existem, coexistem, convivem?

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Recorro a esse receptivo espaço da imprensa, primeiramente para indagar porque a Folha de S.Paulo nunca destacou o indecoroso papel de ‘informante’ da grande mídia assumido pelo senador Álvaro Dias. Lamentáveis as fotos publicadas por esse jornal, à página A4, de sua edição de sexta-feira (4/4), nas quais a ministra Dilma Rousseff parece estar fazendo gestos obscenos em sua coletiva sobre o tal ‘dossiê’. Equiparou-se a Folha aos mais imorais pasquins da ‘imprensa marrom’, indicando o rumo que pretende, ou seja, aliar-se de corpo e alma aos grupos mais atrasados, ao tucanato e aos sempre retrógrados demos. Por fim, desolador o afastamento do ombudsman Mário Magalhães daquele jornal, já que – como esse Observatório – constituía um dos poucos nichos de imparcialidade da mídia. (José Gilson Soares, advogado, São Paulo, SP)

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Gostaria de ver mais assuntos relacionados ao meio ambiente no OI. É um assunto tratado de maneira superficial na mídia e existem muitos temas polêmicos, como a soja, por exemplo. Ainda falta espaço para os jornalistas ambientais e, pelo que tenho observado, a relação entre a mídia e o meio ambiente ainda é confusa. (Maria Luísa Cabral, jornalista, Curitiba, PR)

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Estou realizando meu trabalho de conclusão de curso que trata da relação entre imprensa e segurança pública e comecei a levantar algumas questões que estão me preocupando. A utilização de expressões como ‘bala perdida’, ‘chefe do tráfico’ e recentemente, ‘tribunal do tráfico’. No caso de ‘bala perdida’, a expressão me parece eximir o homicídio ou lesão corporal de um culpado. ‘Chefe do tráfico’ parece ratificar uma espécie de poder, já que independente da função que o criminoso exerce no tráfico, todos são igualmente culpados. ‘Tribunal do tráfico’ causa ainda mais estranheza: não me parece correto a imprensa retratar a prática dos criminosos com a utilização das palavras tribunal, julgamento e pena de morte. O presidente da OAB-RJ em sua declaração sobre o assunto, fala da ausência do Estado nas comunidades e não dá importância a exploração do termo tribunal. Gostaria de saber da opinião dos futuros colegas. (Fernanda Schmidt, estudante de jornalismo, Rio de Janeiro, RJ)

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Conforme todos bem sabem, na segunda-feira (31/3) se completaram 44 anos do fatídico golpe militar de 1964 – ou ‘da Redentora’, como alguns entendem e insistem em denominá-lo. Então, nada melhor que voltarmos ao tempo e lermos o que nos foi dito, à época, pelo editorial do jornal O Globo. Aliás, jornal esse que cresceu à sombra e com as benesses da repressão política e da supressão das garantias democráticas por porta-voz que foi, e permanece sendo, de setor reacionário de nossa sociedade. Hoje o mesmo, tanto quanto a Organização que daí se erigiu e se desenvolveu, se tornou pretensamente paladino da ética e guia para os caminhos venturosos que a sociedade brasileira deve terminantemente seguir, seja através de seus editoriais, das opiniões sempre abalizadas de seus articulistas políticos, da fala do ‘casal das oito’, das inúmeras aulas antropológicas de Pedro Bial e de seu fenomenal BBB, do excelente e ainda sempre jovial Fantástico, sem esquecermos de suas teimosas tentativas de participação nos resultados das eleições – algumas vezes até eficientes!

Sua acurada praxis jornalística, bem como a de outros congêneres veículos midiáticos, só nos ‘engrandece’, como brasileiros, levando-nos a crer piamente em suas visões/versões de Brasil e mundo. Que tais ‘arautos da dignidade e da boa imprensa’ sejam menos hipócritas e que ajam dentro da normalidade democrática. (Afonso Celso Castro de Oliveira, arquiteto, Rio de Janeiro, RJ)

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Gostaria de parabenizá-los por este espaço democrático e de saber por que a imprensa em geral não tem acompanhado devidamente o assunto da cartilha que o governo federal ira distribuir para jovens da periferia sobre a atitude a ser tomada ao serem abordados por um policial. Tenho certo receio quanto a imparcialidade deste assunto, pois a Polícia Militar atual nos remete aos anos 1960, comparando a atitude e postura de seu efetivo. Infelizmente neste país muito se coloca embaixo do tapete. Abusos, falta de competência de comando e comandados nos colocam em uma encruzilhada: quem é bandido e quem é ladrão. Estamos à beire de uma revolta da periferia. Sorte de quem tiver o famoso faro jornalístico. Afinal de contas, até mulher de malandro se enche de apanhar. (Carlos Eduardo Fernandes Perez, comerciante, Campinas, SP)

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A mídia ‘interpreta’ a opinião da comunidade, mas não consegue comunicar o que realmente pensa ou sente o cidadão. Por exemplo, quando um pedestre vai atravessar uma rua na faixa e um motorista pára bem distante para não ser assaltado. O pedestre podia agradecer em não ser atropelado, mas não esqueçamos que ele não é um bandido. Há uma cultura de prevenção do crime na mídia policial que condena o cidadão de bem. Essa imagem do pedestre versus o motorista pode ser passada para outros setores, como o da favela versus a especulação imobiliária com seus muros, alarmes, cães de guarda, e assim por diante… (Césio Rodrigo Albuquerque Ximenes, psicólogo, Fortaleza, CE)

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Pedagoga, São Paulo, SP