Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Plínio Cabral e a falência do Estado

Lançado em 1982, quando teve grande repercussão, e relançado em novembro de 2005, A Falência do Estado Moderno (São Paulo, Escrituras,108 páginas), de Plínio Cabral, está seguindo o destino de outros livros importantes: o habitual ocultamento nesses tempos em que a mídia define tudo, da maternidade ao cemitério.

Com efeito, a mídia, do olhar panóptico que tudo vê, editando o que é relevante a leitores, ouvintes e telespectadores, passou a um olhar que, por norma, oculta o essencial para fixar-se em temas sem importância.

Poucos veículos têm tido o cuidado de confiar as instâncias decisivas de publicações a profissionais gabaritados. Mas tome-se o exemplo da Veja, que ao considerar também as vendas pela internet, está com dois prêmios Nobel na lista dos mais vendidos: José Saramago e Gabriel García Márquez.

Sua lista, aliás, produz um círculo vicioso, já que muitos compradores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, pautam-se por ela. Ora, a Veja utiliza como fontes poucas livrarias e apenas em algumas cidades, entre as quais São Paulo, Rio e Porto Alegre, tradicionais mercados do livro. Mas ignora Salvador e computa vendas em Londrina e em Vitória.

Razões básicas

O leitor não se arrependeu de comprar o livro de Plínio Cabral em 1982 e não se arrependerá agora, quando, aliás, se tornou ainda mais necessário, principalmente depois que o distinto público ficou sabendo para onde vai a brutal carga de impostos que compromete a renda familiar em 40%.

Isto mesmo: de cada 100 reais que a família brasileira ganha, 40 vão para impostos que deveriam ser devolvidos em segurança, escolas, universidades, bibliotecas, hospitais etc, mas cujo destino preferencial é a manutenção do próprio Estado, que quanto mais arrecada, mais gasta para manter sua célebre máquina, eficiente para arrecadar e tremendamente deficiente para atender ao bem público.

Plínio Cabral, no estilo primoroso que lhe deu dois dos maiores prêmios literários ao romance O Riso da Agonia, concilia no livro agora relançado o olhar sagaz do romancista com o do autor de várias obras em Comunicação e em Direito, desmascarando a verdadeira face de célebres mudanças.

Assim como os monarquistas que, tão logo a Revolução Francesa triunfou, trataram de apoiar a República, de olho em melhores negócios, também no Brasil vimos como, derrubada a ditadura militar, voaram para altos cargos no Estado antigos próceres do regime, que souberam a hora exata de pular do barco antes que ele fosse tragado pelas ondas procelosas que levariam, primeiro Collor, depois Itamar e FHC, e por último Lula à presidência da República.

Plínio Cabral alude às cinco razões básicas da decomposição do Estado moderno: (1) apesar da monstruosa arrecadação, ela é insuficiente; (2) para o povo, o Estado é inútil; (3) os cidadãos têm apatia ou descrença diante dele; (4) a autoridade dos governantes é sempre contestada ou simplesmente ignorada; e – a pior de todas – (5) seus gestores geralmente estão mergulhados na mais abjeta corrupção.

Imenso guarda-chuva

O que virá no lugar do Estado? O poder local organizado que, na verdade, já existe: ‘O Estado não governa as periferias das grandes cidades, onde vigoram outras leis e outros mandos’. A segurança pública? ‘Tornou-se função privada.’

Ao que poderíamos acrescentar outros exemplos, como os planos de saúde e a nefasta prática judicial do Estado, litigante de má fé nos contenciosos com os cidadãos. Sabedor de que realmente deve, o Estado onipotente vai empurrando as demandas até que o reclamante desista ou morra.

Filosófico, o autor não é pessimista. Confia que a evolução tecnológica dará suporte a um governo central do mundo, bem diferente entretanto do grupo minoritário que hoje, de posse da tecnologia mais avançada, manda e desmanda.

Este poder será um imenso guarda-chuva sob o qual se abrigarão os poderes locais, mais fáceis de serem exercidos e, principalmente, substituídos pelas comunidades de que serão servidores. Serão também os únicos a poder impedir a violência e o terrorismo do mundo globalizado.

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Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro), onde dirige o Curso de Comunicação Social