Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Reality show e o sal de frutas

Associar o atual momento da política brasileira à vergonha é apenas uma redundância. A comparação do Senado a um circo de horrores é a mais realista possível, em vários aspectos. Claro, não sejamos apenas espectadores chocados com a pouca vergonha. Afinal, em algum momento nosso choque diminui e o estômago fica um pouco mais forte para acompanhar os acontecimentos.

A partir daí, ficamos perplexos com o senso de humor e a cara de pau daqueles que têm o poder. Requisitos inerentes aos cargos políticos de todas as camadas.

O espírito circense dos nossos senadores parece ter ocorrido na última semana com o bate boca entre Pedro Simon (PMDB-RS) e Fernando Collor (PTB-AL). E depois deles, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

A coisa foi bem divertida. Um duelo de luvas de pelica modalidade peso-pesado, e por que não dizer, da língua mais afiada? Sem esquecer dos olhares 43 de ira e palavras gentis entre os nobres colegas: coisas que variaram entre aulas de biologia (engula, digira…) e pequenos palavrões fora do alcance dos microfones.

Circo de horrores

Não dá para negar que, apesar da sujeira mais que visível na política brasileira, acompanhar o noticiário de Brasília é uma experiência edificante para quem busca entendimento sobre a capacidade humana de persuasão ou, traduzindo, o jeitinho vaselina de ser.

Muito mais edificante do que os reality shows. Encontramos o senso de humor, a mesma arena na luta pela própria sobrevivência na cena política. Um show da vida real que exige senso de oportunidade e muita inteligência. E o prêmio, diferente do um milhão de reais, é simplesmente o poder sobre o seu público, geralmente alienado e indiferente aos seus jogos e desmandos.

Aliás, o reality show da crise faz sucesso e já está sendo comentado pela imprensa no exterior. Seu enredo mostra-se tão complexo que jornalistas mal conseguem traduzir o que se passa.

E, se conseguirem, duvido muito que acreditem. Vão achar que deve ser uma lenda urbana: algo tão folclórico que sua realidade será questionada. Algo que sequer caberia na imaginação popular.

Garçom! Mais uma dose… de sal de frutas. Diferente da tradicional cervejinha de cada happy hour, acompanhar esse circo de horrores exige sobriedade e muito estômago também.

******

Jornalista, criadora do blog Limão em Limonada, São José do Barreiro, SP