Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Sobram Gandhi e irmã Dulce

Cada vez eu me convenço mais de que o brasileiro não sabe diferenciar realidade de ficção e confunde telenovela com jornalismo. Não quero entrar no mérito do racismo, ele existe e é grave no Brasil, essa é a minha opinião. Mas colocar como prova disso os diálogos e comportamentos de personagens de telenovela é, no mínimo, ridículo, para não dizer, infantil ou inocente. Não se pode esperar dos vilões um comportamento ético, moral ou politicamente correto. Se a personagem de Lima Duarte é racista, ele tem que se comportar como um racista. Isso não quer dizer que a TV incentive esse comportamento.

Ninguém quer se identificar com vilões. Por mais pedante que seja uma perua, ela não gostaria de ser chamada de Odete Roitman. Por pior que uma filha trate a mãe, ela vai evitar sempre ser chamada de Maria de Fátima. Se os personagens de ficção não puderem ser racistas, eles também não poderão ser sexistas, homofóbicos, desonestos, mentirosos, corruptos ou arrogantes. Que se escrevam folhetins sobre Gandhi, Irmã Dulce e São Francisco de Assis! E sem muitos coadjuvantes, para não se correr o risco de um ou outro invejoso, por favor. Hora de acordar! O racismo não está na novela. Pelo menos não nos vilões. Está no telejornal, nos programas da tarde, nos infantis e na nova mania do Brasil, no BBB4.

Djaman Santos Barbosa, servidor público, Salvador

Mais 500 anos

Faltam mais 500 anos para este país se tornar uma nação!

Marcio Sampaio, jornalista, São Paulo

Doutorando pecador

O doutorando de Iowa talvez não tenha entendido o espírito da coisa. O doutorando parte do princípio de que se é pecado é ruim. A questão é que talvez o doutorando não conheça a famosa letra, acho que do Bororó: ‘Esse corpo moreno cheiroso e gostoso que você tem/É um corpo delgado da cor do pecado que faz tão bem/Esse beijo molhado, escandalizado, que você deu/Tem sabor diferente que a boca da gente jamais esqueceu’. E por aí vai. Veja a contradição, senhor doutorando: ‘Pecado que faz tão bem’.

Ora, pílulas, se é pecado como é possível fazer tão bem ?, perguntaria o doutorando. Ao que eu responderia: nem tudo que é pecado é ruim. A igreja informa que sexo antes do casamento é pecado. Se isso é fato, sou um pecador. Se o doutorando é casado gostaria de lembrar que ‘fazer sexo sem a intenção da reprodução’ também é pecado. Provavelmente o doutorando seja um pecador contumaz. Espero que ele se arrependa e encontre a salvação. Eu prefiro continuar pecando. Por outro lado, se alguém disser ao doutorando ‘vai ver se eu estou lá na esquina’ sugiro a ele que não vá. Basta parar de ‘encher o saco’. No sentido figurado.

Quanto à ‘vilãzinha’ (Giovanna Antonelli) poder chamar a ‘mocinha’ (Thaís Araújo) o tempo todo de ‘neguinha’, é melhor que continue assim. Como até o autor entendeu, ela é a vilã da novela. E todo vilão que se preze comete vilanias, maldades, injustiças. Assim como todo empresário atrasado e idiota como o Afonso (vivido por Lima Duarte) comete injustiças e é preconceituoso. Por isso mesmo que não promove seu secretário, Felipe, simplesmente por ele ser negro. O que a novela faz é uma crítica, e não um elogio a esse tipo de pessoas. Agora, o autor pode preferir que todos os personagens sejam bons, corretos, decentes, honestos, trabalhadores, engajados, sem preconceito, enfim do bem. Mas acho que seria pior, porque seria uma mentira. A sociedade está cheia de vilões. Sugiro uma olhada no teatro grego, ou mesmo no bom e velho William. Para um drama ‘acontecer’ o vilão é necessário.

Antonio G. Taques dos Santos, diretor de vídeo, São Paulo

Nossa realidade

Concordo que a televisão banaliza esta questão, da maneira como veicula a novela. Mas se se olhar por outro lado, ela mostra a realidade em que vivemos. O racismo ainda existe e é evidente. Infelizmente.

Mara Rúbia Ausech, estudante de Jornalismo, Assis, SP

Reverência à escória

É impressionante como a televisão consegue fazer uma lavagem cerebral na humanidade, chegando ao ponto de acharem tudo normal e aceitável, até mesmo o racismo. Quando alguém vê a verdade camuflada é alvo de críticas, como nosso amigo Paulo J. Rafael, que fez matéria totalmente concientizadora. E deveríamos parabenizá-lo e estimulá-lo para realmente desmascarar essa escória, que muitos reverenciam e aplaudem.

Cársian Lorena, estudante, Salvador