Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Três Jabutis

Leio lentamente a lista dos ganhadores do Prêmio Jabuti 2005 (47ª edição), e reconheço nomes: Nélida Piñon, João Gilberto Noll, Cristóvão Tezza, Victor Burton, Octavio Ianni, Roger Mello, Angela Lago, Marcia Kupstas, Neide Archanjo, Frederico Barbosa, João Luiz Lafetá…

Detenho-me, porém, nos três primeiros lugares de categorias menos badaladas. ‘Contos e crônicas’, Urgente é a vida, de Alcione Araújo (Record); ‘Didático e paradidático de ensino fundamental ou médio’, Explicando a filosofia com arte, de Charles Feitosa (Ediouro); ‘Educação, psicologia e psicanálise’, A ignorância custa um mundo, de Gustavo Ioschpe (Francis).

As crônicas de Alcione Araújo são bastante medianas, uma demorada e gostosa conversa de bar, uma citação filosófica ali, um causo interessante acolá, nada tão urgente quanto a vida. E conversa vai, conversa vem, Belo Horizonte não perdeu seu belo horizonte, muitos são os desejos para tão curta vida, e o silêncio da madrugada só é rompido pelo latido distante dos cães. E o ano se despede. E o doce outono nos envolverá numa atmosfera sem calor e sem frio. Enfim, citações de seu livro… a vida vai, meio morna, sem nenhuma urgência…

Explicação psicológica

No ano passado eu havia lido este livro de Alcione, roteirista do filme Policarpo Quaresma, o herói do Brasil, entre outros, e da inesquecível série de TV Malu Mulher. Crônicas, vamos admitir, não é o seu forte.

Muito bem feito o livro de Charles Feitosa. Parabéns (não para males!). Bela introdução à filosofia. Ilustrações escolhidas a dedo, e os textos contracenando sem perder a pose. Uma pintura de idéias. Uma atraente apresentação cuja força está no projeto gráfico desenvolvido pela designer Ana Carla Cozendey. Justiça mencioná-la.

Mais justiça seja feita: não se explica filosofia. Com arte, filosofia se insinua. Vai chegando e, quando vemos, se instalou. Ou quando não vemos… já se foi.

E Gustavo Ioschpe defende que a ignorância é o verdadeiro custo Brasil. Não faltam estatísticas, números, dados, informações para corroborar a tese. Impressionante a meticulosidade. Informações atualizadas. As análises estão garantidas pelo tom seguro de quem não ignora…

Um momento a registrar desse último vencedor. Pergunta-se o jovem autor o que motiva nosso docente a trabalhar. Sua primeira resposta: ‘Não sei’. Mas no fundo sabe, e o diz. Afirma Gustavo que (talvez) lecionamos alimentados pela aprovação dos alunos e pelo reconhecimento dos colegas professores. Explicação psicológica, intuitiva, que transcende os terríveis números.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)