Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um repórter no Vietnã

[do release da editora]

‘Sinto-me no ar, voando, mas ainda assim com uma certa tranquilidade para pensar: A guerra é de fato emocionante. Agora entendo como há gente que possa gostar da guerra.’

Foi esta a frase que passou pela cabeça de José Hamilton Ribeiro instantes depois dele ter pisado numa mina na Guerra do Vietnã, em março de 1968. Mas quando a espessa cortina de fumaça se dissipou, o correspondente de guerra sentiu seus músculos retesarem. Seu corpo rodopiou e ele caiu no chão. Buscou a perna esquerda, mas ela não estava mais ali. Tudo era sangue e horror.

O Gosto da guerra – terceiro livro da coleção Jornalismo de Guerra – é uma obra rara, capaz de aliar a narrativa direta com abordagem psicológica. Neste livro, o leitor acompanha tudo que Hamilton Ribeiro viveu e sentiu no Vietnã. É o dia a dia da guerra, o drama do acidente, e por fim, um relato inédito e emocionado sobre a sua volta ao Vietnã 30 anos depois.

Hamilton deveria ficar 40 dias no Vietnã, mas por causa de uma foto, mergulhou no inferno. No dia 20 de março, o fotógrafo japonês Shimamoto pediu para que Hamilton o acompanhasse numa batida dos soldados americanos no norte do Vietnã, numa das regiões mais perigosas da guerra. Embora o trabalho estivesse encerrado – eles iriam para Saigon no dia seguinte – Shimamoto não tinha achado ainda a sua foto de capa. Andar naquela região era como estar numa roleta russa. Terreno minado, morte certa. Ao descer do helicópetro, Hamilton já se deparou com o horror. Três soldados feridos numa mina. Vinte quilômetros depois, nova explosão. O soldado Henry que os acompanhava disse: ‘Feridos! Vamos correr para você poder fotografar’. Hamilton correu e Shimamoto ganhou a sua foto de capa. Acabou fotografando o próprio Hamilton ferido, depois do acidente.

Tradição jornalística

O Gosto da Guerra foi publicado em 1969 e encontrava-se esgotado há mais de 20 anos. Para este volume, Hamilton reviu o diário feito logo depois do acidente e acrescentou um longo relato sobre a sua volta ao Vietnã, três décadas depois. Uma reflexão profunda sobre o papel da sua profissão. Um resgate afetivo, um mergulho na intimidade de um homem que sempre preferiu contar histórias sobre outros, e nunca sobre si mesmo.

Este volume integra a coleção Jornalismo de Guerra e está sendo lançado simultaneamente com O Inverno da Guerra, de Joel Silveira. O primeiro volume da coleção foi A Queda de Bagdá, de Jon Lee Anderson. São obras que buscam oferecer ao leitor relatos impressionantes feitos por jornalistas nacionais e estrangeiros que cobriram os principais conflitos dos séculos 20 e 21. Textos comoventes, que acabaram criando uma tradição jornalística, um gênero, onde o relato do front captura e comove o leitor.

O autor

José Hamilton Ribeiro, 67 anos, é paulista de Santa Rosa do Viterbo e repórter por vocação. Com 40 anos de profissão, Zé Hamilton, como é mais conhecido, ainda mantém a mesma obstinação e o prazer pela busca da notícia. Ao longo de sua carreira esteve à frente da criação da revista Realidade, que se tornou um paradigma do jornalismo brasileiro e da Quatro Rodas. Trabalhou na Folha de S.Paulo, Globo Repórter, Fantástico e Globo Rural, onde há vinte anos exerce as funções de repórter e editor. Considerado um dos maiores jornalistas deste país, Zé Hamilton já ganhou inúmeros prêmios – apenas de Prêmio Esso, foram sete. Em 2004, a revista Ícaro o escolheu como o rosto do jornalismo brasileiro.