Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um tempo de ‘mentes sem fronteiras’?

A comunicação está ligada ao ser humano, seja ela no modo visual, verbal ou corporal. Entretanto, existe uma forma de linguagem que está em ascensão nos dias atuais. Estamos falando do gênero propaganda e entendemos propaganda como diz o dicionário Aurélio (Propagação de princípios, ideias, conhecimentos ou teorias; arte e técnica de planejar, conceber, criar, executar e veicular mensagens de propaganda; difusão de mensagem, geralmente de caráter informativo e persuasivo, por parte de anunciante identificado, mediante compra de espaço em TV, jornal, revista etc.)

Compreendemos que esse gênero não objetiva apenas à venda de seus produtos, objetiva também à venda de comportamentos e de qualidade de vida que, na maioria das vezes, fica implícita, mas que tem valor igual ou superior ao objetivo da venda de produtos. Com práticas de persuasão usadas em todos os tempos, a propaganda alcançou um nível elevado de refinação na sociedade de massas do século 20 e tornou-se uma arma poderosa. Logo, a propaganda é a mobilização de forças físicas, intelectuais ou morais para vencer uma resistência ou dificuldade, para atingir algum fim, orientando convicções, atitudes ou ações de grande número de pessoas para certo objetivo, criando no público uma imagem positiva ou negativa de certo fenômeno (ideia, fato, movimento ou pessoa) e induzindo a um comportamento desejado. Desse modo, o objetivo dessa reflexão é tentar compreender como o público assimilou a propaganda.

Algumas expressões do comercial

TIM 2009: ‘É tempo de mente sem fronteiras’

É imprescindível comentar que as intenções que permeiam as propagandas possuem caráter influenciador no cotidiano do público-alvo. Portanto, concordamos com Wysochi, que entende que através de palavras, imagens, sons e outras tantas mídias, esses diversos modos semióticos são usados como estratégias de persuasão, com os quais podemos manipular palavras e imagens. Desse modo, compreendemos que a venda de comportamento é algo inerente às propagandas. Ao vermos o comercial da TIM (Telecom Itália Móbile), me interrogo sobre o slogan que acompanha a empresa desde os primórdios – ‘Viver sem fronteiras’ – e, nessa campanha 2009, foi lançada uma propaganda que tem por título ‘É tempo de mente sem fronteiras’. Esse tema me chamou a atenção, principalmente no que diz respeito ao texto exposto na propaganda. Vejamos algumas expressões:

Propaganda TIM 2009 ‘É tempo de mente sem fronteiras’:

** Alguma coisa está acontecendo;

** Um homem negro com nome mulçumano é presidente dos Estados Unidos;

** O melhor prêmio de jogador brasileiro do mundo é de uma jogadora;

** O recorde da indústria de entretenimento não é um filme. É um videogame;

** O sofá da sala não é mais o único lugar para assistir TV;

** O prêmio de melhor filme foi dado a um filme produzido na Índia;

** O papa está fazendo sermões pela internet;

** E toda banda larga será inútil se a mente for estreita;

** As fronteiras estão se abrindo. É isso que está acontecendo.

Transpondo nosso comportamento?

Com esforço sistemático de irradiar ideias e condicionar comportamentos, a propaganda é uma atividade específica da comunicação de massas. Por essa perspectiva, não é necessariamente ilusória, embora o ponto de vista que procura impor seja sempre unilateral, o que pode conduzir à distorção dos fatos por enfatizar apenas os pontos positivos ou negativos de uma posição. Diante dessas falas, que são acompanhadas de imagens, entendemos que realmente a evolução tecnológica está em um ponto bastante elevado, mas pensar que as fronteiras estão se abrindo nos remete a outro pensamento, pois quando pensamos no slogan ‘Viver sem fronteira’, me pergunto: vivemos mesmo sem fronteira?

Quando pensamos em fronteiras, pensamos em transposição, limites, barreiras – e nós estamos transpondo nossa condição, nosso comportamento? Quando vemos pessoas serem discriminadas por causa de sua cor, sexo, religião; quando agredimos o meio onde vivemos, quando maltratamos, espancamos e matamos nossos semelhantes; quando abusamos de nossa autoridade por bel-prazer; quando exploramos crianças e adolescentes; quando ultrajamos nossos idosos; quando não damos o valor necessário a nossas crianças na escola etc. Perante todos esses e outros fatos que assolam nossa sociedade, vivemos sem fronteiras?

Incoerência e despreparo

A propaganda obedece a alguns princípios gerais que podem ser aplicados em conjunto ou separadamente. Entre eles elencamos:

** A simplificação, que é o uso de fórmulas que obedecem sempre a uma forma clara e concisa, como num slogan;

** Concentração, que consiste em focalizar um ‘inimigo’ único, responsável por todos os males;

** Ampliação e desfiguração, que consistem em manipular a informação para torná-la acessível a um público de baixo nível intelectual ou para deformar deliberadamente as ideias do oponente;

** Saturação, ou repetição incansável do tema central até que este adquira a aparência de verdade indiscutível.

Os resultados positivos da propaganda só se constroem a partir de uma matéria-prima básica que habita em noções rudimentares conscientes e inconscientes presentes na totalidade da população, ou em pontos sociais específicos. O limite de sua eficiência se mede pela capacidade de corresponder a opiniões preconcebidas e a protótipos. Fatores de inúmeras ordens podem intervir na prática e na eficácia da propaganda. Seus resultados, porém, dependem do grau de informação e capacidade crítica do público a que se destina.

Assim, entendemos que a liberdade de divulgação de ideias pluralistas e a educação são o melhor antídoto para a manipulação da propaganda e o controle que os grandes interesses políticos exercem sobre os meios de comunicação. Assim, nos pautamos nas condições sociais que nos afligem e nos tornam não sei se menos humanos, mas, com certeza, fronteiriço e que em nossa mente ainda habita o campo da incoerência e despreparo. E que a mente possui mais fronteiras do que nunca.

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Graduando em Letras, Campo Alegre, AL