Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Veterano se despede do 60 Minutes

O veterano jornalista Mike Wallace, que integra a equipe do 60 Minutes desde sua estréia, em 1968, anunciou na semana passada sua saída do programa da CBS, noticia David Bauder [AP, 14/3/06]. Aos 87 anos, Wallace afirmou que pretende fazer reportagens ocasionais para o programa e que manterá um escritório na sede da CBS News. O presidente da emissora, Sean McManus, referiu-se a ele como ‘correspondente emérito’.

‘Enquanto me aproximo do meu aniversário de 88 anos, fica claro que meus olhos e meus ouvidos não são mais o que costumavam ser’, comentou o veterano. Há alguns anos, Wallace dizia que diminuiria aos poucos sua participação no 60 Minutes, e de fato foi significativo quando seu rosto deixou de ser a primeira imagem vista logo após a abertura do programa (com o famoso cronômetro ligado), há alguns meses.

Jornalismo sério

A carreira de Wallace teve início no fim da década de 1940, quando ficou conhecido como um interrogador durão no programa de entrevistas Night Beat, que era transmitido para Nova York. Nesta época, o jornalista também apresentava uma gincana na TV e era garoto-propaganda de uma marca de cigarros. Ele passou a se dedicar exclusivamente ao jornalismo em 1963, já na CBS, justificando que, depois da morte de seu filho Peter em um acidente de carro, havia decidido ficar apenas com o ‘jornalismo sério’.

Wallace entrevistou centenas de personalidades importantes para a história mundial, incluindo Iasser Arafat, o aiatolá Khomeini, Deng Xiaoping, o rei Hussein da Jordânia e os presidentes americanos Lyndon Johnson, Richard Nixon e Ronald Reagan.

Polêmicas

O jornalista levou ao ar, em 1995, uma polêmica reportagem com o ex-executivo de uma companhia de cigarros Jeffrey Wigand, que deu origem ao filme O Informante – que criticava a CBS News por ter sucumbido às pressões de advogados ao atrasar a transmissão da matéria.

Em outra ocasião, a emissora foi processada por um general aposentado por causa de uma reportagem de Wallace sobre a guerra do Vietnã. A acusação foi retirada depois de um longo julgamento, mas o jornalista conta que entrou em depressão e teve que ficar internado por mais de uma semana por causa dela.

Novo estilo

Junto com o produtor-executivo Don Hewitt, Wallace ajudou a criar um novo estilo de telejornalismo. Após o anúncio da saída, na semana passada, Hewitt afirmou que Wallace será lembrado, ao lado de Edward Murrow e Walter Cronkite, como uma das três lendas da CBS News. O produtor ressaltou que aprecia a habilidade do jornalista em contar diferentes histórias, entrevistando de presidentes a cantoras pop.

‘É difícil para todos nós’, afirmou o produtor-executivo Jeff Fager sobre a saída de Wallace. ‘É um dia triste, mas é também uma chance de celebrar um legado incrível e um homem fantástico’, completou.

Sem rodeios

Fager lembra que, mesmo com a idade avançada, o jornalista ainda produzia ótimas reportagens. Ele cita uma entrevista com o presidente russo Vladimir Putin, no ano passado, onde Wallace acaba dizendo ‘Isso não é uma democracia de verdade, por favor!’.

Também no ano passado, Wallace foi entrevistado por seu filho Chris, âncora do Fox News Channel. ‘Você odeia ficar velho?’, perguntou Chris ao pai. ‘Eu consertei meu aparelho de ouvido hoje para poder ouvi-lo melhor. Eu também não vejo mais tão bem. Eu tenho, há 15 anos, um marcapasso – e isso me fez parar de fumar. Não, eu não gosto de ficar velho’, concluiu o veterano jornalista.