Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Belisa Ribeiro

ZÓZIMO

"O estilo Zózimo de ser", copyright Jornal do Brasil, 16/11/01

"O mais famoso e respeitado colunista social brasileiro, Zózimo Barroso do Amaral, acordava cedo. E a malhação literal do começo da manhã, sempre passando pela praça em que agora será homenageado, era café pequeno perto da correria do resto do dia. Zózimo tinha pouquíssimo tempo útil para não apenas garimpar como redigir no tamanho exato as pérolas com que brindaria os seus leitores no dia seguinte. A noite? Bem, a maioria delas era reservada a um programa tão comum aos comuns mortais que nem de longe poderia ser taxado de maravilhoso, movimentado ou inesquecível: ver filmes no vídeo.

A grife Zózimo surgiu exatamente no dia 4 de fevereiro de 1969, quando o jornalista passou a assinar no título a sua coluna que se mudava de O Globo para o Jornal do Brasil. Diz a lenda que o Dr. Roberto Marinho despediu-se com o seguinte vaticínio: ?Meu filho, você está fazendo a maior besteira da sua vida. Todo mundo sabe quem é Carlos Swann e ninguém sabe quem é Zózimo Barroso do Amaral?. Rebatido de pronto pelo colunista com a ironia calma e elegante que era sua marca maior: ?Doutor Roberto, o senhor está dando um argumento a meu favor porque acho que está na hora de as pessoas saberem quem é Zózimo Barroso do Amaral?.

E todo mundo ficou sabendo. Já na estréia, Zózimo teve direito a uma chamada de primeira página que definia muito adequadamente seu perfil diferenciado dos demais colunistas sociais brasileiros: ?Zózimo Barroso do Amaral traz para o JB a experiência que adquiriu como responsável pela coluna de Carlos Swann (…) É um jovem de 27 anos com cinco de jornalismo. Faz questão de esclarecer que não é colunista social e que sob sua assinatura o leitor encontrará noticiário diversificado, voltado para a vida da cidade.?

O noticiário de Zózimo era tão diversificado e politizado (principalmente para aqueles duros tempos da ditadura do começo dos anos 70) que ele foi preso pelo regime militar muitas vezes.

Durante seus mais de 20 anos de Jornal do Brasil, Zózimo muitas vezes acumulou funções que aumentavam a pedreira do seu dia a dia: foi editor do Caderno B e passou quase dois anos editando, além de sua coluna, também o Informe JB.

Zózimo foi Zózimo por seu estilo inconfundível, mas certamente também porque descobria antes de todo mundo que Ivo Pitanguy iria operar a duquesa de Windsor ou que os Monteiro de Carvalho venderiam sua parte na Volkswagen para os árabes. E, antes de toda a editoria de esporte, que a seleção brasileira disputaria um torneio internacional em Mônaco. Esporte, aliás, era o fraco de Zózimo que costumava se definir como ?o Braga pobre? se referindo ao fato de o banqueiro Almeida Braga assistir a todas as competições esportivas importantes ao vivo, enquanto ele grudava na televisão. É por essas e por outras e por outras que Zózimo é quase uma unanimidade, elogiado por socialites, empresários, jornalistas.

É claro que tem gente que não gostava. Sônia Braga pode ter se aborrecido embora tenha sido simplesmente perfeita a nota que seguiu à performance da atriz que havia decidido assistir de cócoras a um discurso do Presidente Fernando Henrique: ?No cinema: É um pássaro? É um avião? Não, é o Super-Homem. No Planalto: É uma penosa? É uma enceradeira? Não, é a Sônia Braga.?

Há os que tenham ficado tão furiosos que procuraram o caminho judicial (Zózimo chegou a responder a uma média de três processos por ano e foi absolvido em todos). Mas, na maioria absoluta das vezes, o estilo Zózimo de ser (e de escrever) eliminava, através de uma precisa mistura do rigor da apuração com a elegância do formato, qualquer possibilidade de réplica, quanto mais de desmentido. Um dos melhores exemplos deste tipo de façanha foram duas notas gêmeas e sem título.Do lado esquerdo, lia-se: ?Depois de espairecer uma semana em Paris, incógnita, está de volta ao Brasil a bela Tereza Collor. Voltou a sorrir?. E, exatamente com a mesma diagramação, do outro lado da página: ?Depois de espairecer esta semana em Paris, incógnito, está de volta ao Brasil o empresário Sérgio Alberto Monteiro de Carvalho. Voltou a sorrir?. Tereza reclamou com um amigo que ligou para o Zózimo afirmando: ?Zózimo, Tereza é minha amiga e me garante que, em Paris, ela só falou com o Sérgio Alberto pelo telefone?. Do alto de seu humor fleumático, com a certeza de ter cometido o crime perfeito, dizem as más línguas que Zózimo soberano apenas retrucou: ?Mas eu nem sabia que eles tinham se falado pelo telefone!?. É por isso que, gostando ou não gostando, uma coisa não se pode discutir: como ele, não tem igual.

 

"Colunista terá estátua", copyright Jornal do Brasil, 16/11/01

"O nome de Zózimo Barrozo do Amaral, jornalista que comandou uma das mais populares colunas sociais do Rio durante quase 30 anos, vai batizar uma praça e uma estátua em bronze na praia do Leblon. A homenagem será inaugurada no dia 25, no final da Avenida Bartolomeu Mitre, próximo à Avenida Niemeyer. ?Acho o local muito bem escolhido, porque o Zózimo adorava passear por ali de bicicleta?, elogia a viúva do colunista, Dorita Moraes Barros. Neste domingo, completam-se quatro anos da morte do jornalista.

O projeto da estátua é do artista plástico Roberto Sá, que se baseou em fotos e objetos que pertenceram ao colunista para criar uma escultura hiper-realista. A estátua estará de pé, segurando um paletó jogado sobre o ombro direito e com a mão esquerda no bolso. Diante de si, terá a inseparável máquina de escrever do colunista e objetos de seu cotidiano, como agenda e caneta.

O corpo foi moldado usando as próprias roupas do jornalista, que receberam uma camada de cera e depois foram envolvidas pelo bronze. ?Apesar de terem sido queimadas pelo bronze, as roupas de Zózimo estão lá dentro, fazendo parte da escultura?, explica Roberto. Pelo mesmo processo foram moldados o paletó, o relógio, a caneta e a máquina de escrever. Já para fazer a mão direita da escultura, o artista usou como molde a mão do filho de Zózimo."