Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Helí de Almeida

‘A possibilidade de um contato imediato com seres de outro planeta, para o bem ou para o mal, ainda é um tema que mexe com a imaginação do americano médio. O canal por assinatura Universal Channel (DirecTV, Sky, Net) exibe no Brasil, a partir de hoje, e nas próximas sextas, sempre às 21h, os cinco capítulos de mais um fenômeno de audiência que explora essa obsessão. The 4400 tem como ponto de partida o retorno à Terra de 4.400 pessoas dadas como desaparecidas nos últimos 60 anos. Assim como em Taken, outro recordista de público recente da TV americana, ganhador do Emmy (o Oscar televisivo) de melhor minissérie e produzido por Steven Spielberg, já exibido no Brasil pela HBO, a trama de The 4400 envolve a participação direta de agências de segurança do governo.

Exibido em 11 de julho nos Estados Unidos, pelo canal USA, o episódio piloto do programa foi acompanhado por cerca de 7,4 milhões de espectadores. O índice representa um recorde de audiência da TV a cabo americana: o marco anterior, atingido em março de 1998, era da minissérie Moby Dick, que obteve a média de 5 milhões de espectadores por capítulo. Escrito e produzido por Scott Peters, The 4400 tem a chancela da American Zoetrope, a produtora de Francis Ford Coppola, e é estrelado por Peter Coyote.

O episódio que vai ao ar hoje abre com a aproximação de uma gigantesca bola azulada da Terra. A princípio confundida com um cometa de intensidade luminosa impressionante, cuja espetacular passagem é acompanhada com interesse pela mídia, o objeto não identificado toma rota de colisão para, em seguida, aterrissar no Estado de Washington e liberar 4.400 almas que teriam sido abduzidas. O supervisor do FBI Dennis Ryland (Coyote) e os agentes Tom Baldwin (Joel Gretsch) e Diana Skouris (Jacqueline Mackenzie) são destacados para investigar o caso e acompanhar a readaptação dessas 4.400 pessoas, que retornaram com a memória e a idade do dia em que foram levadas. Entre elas estão Maia, uma menina de 8 anos que sumiu durante um passeio em um bosque em 1946; Richard, um soldado negro desaparecido em 1951, durante a Guerra da Coréia; e Lily, uma dona-de-casa dada como morta pelo marido desde 1993 e que o reencontra com outra família.

– O programa é menos sobre o fenômeno em si e mais sobre o que acontece quando as vidas das pessoas são interrompidas de maneira extraordinária. Como elas se encaixarão na nova realidade? Como lidarão com o fato de agora pertencerem a uma nova minoria? Como, em alguns casos, se reconciliarão com o fato de que todos os que conheciam já morreram, embora não tenham envelhecido um dia sequer? – explicou Scott Peters à imprensa americana.

Há, no entanto, um elemento extra que amplia o caráter paranormal da trama. Além da problemática da readaptação e do preconceito em relação ao assunto, que conferem um caráter novelesco à minissérie, alguns dos abduzidos devolvidos descobrem-se dotados de habilidades psíquicas. Maia, por exemplo, revela poderes de clarividência, o que amedronta seus possíveis pais adotivos. Um senhor de meia-idade, desaparecido em 1979, a caminho das comemorações das bodas com a mulher, exibe capacidade telecinética, cuja intensidade dos estragos não consegue controlar. A verdade, para a TV americana, continua lá fora, como diria o personagem Fox Mulder da série de sucesso Arquivo X.’



TV RÁ-TIM-BUM
Cristina Padiglione

‘TV Rá-Tim-Bum estréia no dia 12’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/11/04

‘A TV Cultura vai cumprir a previsão de colocar no ar o seu canal infantil pago, o TV Rá-Tim-Bum, no Dia Internacional da Criança na TV, 12 de dezembro. A partir desta data, o canal estará disponível no line up da TVA e de mais três operadoras regionais – Big TV, Mais TV e Vivax. A Net ainda não acertou parceria.

A idéia é que o canal sobreviva, pelo menos em seus oito meses iniciais, apenas de produções nacionais do acervo da TV Cultura. Presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça aposta que dentro desse prazo o novo espaço incentivará a produção em larga escala – e daí o barateamento – de animações nacionais. O raciocínio é que esta é uma mão-de-obra cara, ainda, por falta de mercado, não de criadores. O novo canal pago vai subtrair do aberto o direito de exibir em primeira mão novos episódios de seus programas. Tudo o que for inédito será mostrado antes pela TV Rá-Tim-Bum, para depois aportar na reprisável TV Cultura.’



HISTÓRIA VIRTUAL
Sylvia Colombo

‘História com olhos do futuro’, copyright Folha de S. Paulo, 22/11/04

‘As imagens cheias de imperfeições parecem emboloradas. Pudera, essa história, afinal, já tem mais de 60 anos. Os rostos de Churchill, Stálin, Hitler e Roosevelt estão tensos, cansados, após tanto tempo dedicado à tentativa de saírem vencedores da Segunda Guerra (1939-45).

Mas, espere aí, será que havia mesmo uma câmera instalada no quarto do primeiro-ministro inglês em sua residência, em Downing Street, quando seu café da manhã era servido? Ou uma outra no quarto do líder nazista assim que seu médico chegava para injetar-lhe a dose diária de remédios e drogas que o mantinha de pé?

Nada disso. Por mais reais que pareçam, a maior parte das imagens do documentário inglês ‘História Virtual’ foi criada por técnicas supermodernas. A produção reconstrói o dia 20 de julho de 1944. A Alemanha já começava a dar sinais de que seria derrotada, enquanto os outros líderes planejavam os movimentos decisivos do conflito. Ao mesmo tempo, uma tentativa frustrada de matar Hitler, por parte de um grupo de conspiradores do Exército alemão, acontecia dentro de seu próprio bunker.

O coronel alemão Stauffenberg surge a bordo de um avião em direção à fortaleza de Hitler, com dois explosivos na maleta. Assistimos ao hora a hora do dia dos outros líderes. Stálin faz reuniões com ministros e sonha sair como ‘dono’ de uma bela porção da Europa -sonho que, aliás, realizou. Roosevelt sofre um pequeno infarto em seu trem particular, e Churchill, de robe e charuto, discute com oficiais o uso de gases químicos na luta contra os alemães.

Para recriar as figuras históricas, foram utilizados atores semelhantes. Seus rostos foram retratados em peças de gesso, onde se aplicaram fotos dos verdadeiros personagens. As passagens foram, então, encenadas, com os atores usando uma marcação no rosto na qual o computador aplicou a imagem construída a partir das fotos antigas (veja, acima, a ‘recriação’ de Hitler).

Também as imperfeições e a cor envelhecida das passagens foram reconstituídas de propósito, para dar uma idéia de que se trata de uma ‘imagem de arquivo’. Até mesmo pequenos detalhes ganharam vida, como as sirenes, comuns na Londres ameaçada daqueles dias, foram reproduzidas de acordo com relatos de época.

Já a narrativa segue um roteiro tão bem engendrado que, mesmo que a gente saiba que Hitler sobreviveu ao atentado, é difícil não acompanhar a história como se fosse um filme de suspense. Vale por uma aula.

Quando: estréia no dia 15 de dezembro, às 21h, no Discovery Channel’



VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
Joseph Berger

‘Site traz biografia de vítimas do nazismo’, copyright Folha de S. Paulo, 22/11/04

‘‘NEW YORK TIMES’ – O que se sabe sobre a vida das vítimas do holocausto geralmente é resumido na quantidade: seis milhões. Poucos se lembram que cada uma teve um nome, um endereço, um lugar de nascimento e um lugar onde morreu.

Agora, o Yad Vashem, o museu e arquivo do Holocausto em Jerusalém, juntou a maior e mais abrangente lista com nomes de judeus mortos no período -mais de três milhões, metade dos que sucumbiram-, contendo detalhes biográficos e fotografias, e a colocou ontem na internet, no endereço www.yadvashem.org.

O projeto não somente é visto como um marco comemorativo para que aqueles que perderam parentes possam se recordar deles mas também como mais um meio de refutar os que tentam negar o tamanho da matança dos judeus da Europa.

O banco de dados possibilita que filhos, netos e futuros descendentes pesquisem as histórias de suas famílias e, em alguns casos, permite que os sobreviventes rastreiem aqueles cujo destino é desconhecido. Após a Segunda Guerra Mundial, muitos entre os que sobreviveram sabiam que seus parentes haviam sido massacrados em campos de concentração ou deportados, mas nunca tiveram certeza sobre quando e onde eles foram mortos.

‘No momento em que entraram em Auschwitz, eles perderam o nome e se tornaram um número’, diz Elie Wiesel, um porta-voz dos sobreviventes do Holocausto e vencedor do Prêmio Nobel da Paz. ‘Seis milhões de nomes se evaporaram, transformados em poeira e cinzas. Daqui a centenas de anos, nós saberemos onde ir para conhecer algo sobre nossa genealogia e de onde viemos.’

Novos registros

Avner Shalev, presidente do conselho-diretor do Yad Vashem, afirmou que, com a divulgação do projeto, acredita em um grande crescimento dessa lista, a partir da entrada de novas informações pelo site do museu.

Dois anos depois de ser criado pelo Parlamento israelense, em 1955, o Yad Vashem começou a arquivar páginas conhecidas como testemunhos (registros recebidos de parentes em Israel e no exterior). Os testemunhos contêm 22 informações básicas, incluindo local e ano de nascimento, profissão e relação de parentes. Algum tempo depois, o museu publicou anúncios procurando por mais nomes, entrevistou sobreviventes e obteve emprestadas listas de outros arquivos.

Naquele ano, o museu conseguiu testemunhos de dois milhões de vítimas, que foram complementados com informações recolhidas em centenas de registros burocráticos mantidos pelos nazistas e seus colaboradores, como listas de campos de concentração e de empresas de transporte ferroviário.

Segundo Shalev, meio século de esforços não foram suficientes para identificar todos os seis milhões. Em grandes regiões do Leste Europeu e da antiga União Soviética, nenhuma documentação foi mantida pelos esquadrões que dizimaram populações judias inteiras em algumas cidades ou por tropas nazistas que despachavam habitantes de guetos para serem mortos em câmaras de gás nos campos da morte. ‘A maioria das listas com o nome dos 437 mil judeus presos e enviados a Auschwitz num período de 56 dias pela polícia húngara, em 1944, nunca foram encontradas.’

O banco de dados, cuja criação consumiu entre US$ 15 milhões e US$ 17 milhões, de acordo com os cálculos de Shalev, pode ser pesquisado em inglês ou em hebreu. Os visitantes do site podem adicionar nomes e fotografias, incluir informações perdidas e corrigir dados incorretos. As informações serão checadas antes da inclusão. Os internautas também têm acesso a reproduções dos testemunhos escritos à mão.

O número de seis milhões de vítimas do holocausto foi calculado após a Segunda Guerra Mundial, comparando-se censos do período pré-guerra com listas dos sobreviventes compiladas pela Cruz Vermelha e outras organizações de assistência. Havia cerca de nove milhões de judeus nos países europeus sob o controle dos nazistas, que mataram dois em cada três judeus.

O site do Yad Vashem não inclui os não-judeus, como ciganos, que também sofreram com a carnificina nazista.

A tarefa de compilar uma lista de indivíduos diferentes apresentou alguns problemas porque os nomes das pessoa e das cidades foram soletrados com muitas variações. ‘Os judeus podem soletram Isaac de 700 maneiras’, explica Shalev. ‘E Cohen? Há mil maneiras de soletrar Cohen.’ A ferramenta de busca do Yad Vashem leva em conta algumas discrepâncias e tenta eliminar os registros duplicados.’