Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Chico de Gois


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em São Paulo, que não pode ‘tirar ou colocar ministro em função desta ou daquela manchete de jornal’ e classificou como sendo ‘insinuações’ as suspeitas que hoje pairam sobre o ministro da Previdência Social, Romero Jucá.


O ministro é acusado de oferecer fazendas que não existem como garantia a um empréstimo contraído por ele ao Basa (Banco da Amazônia), além de denúncias de abuso de poder econômico na eleição de 1994 e desvio de recursos públicos (relatório da Receita Federal aponta desvios de verbas à TV Caburaí, pertencente à Fundação Roraima). Foi a primeira vez que Lula se manifestou publicamente sobre o tema desde que a Folha noticiou a transação.


Lula revelou que o ministro o procurou pessoalmente para lhe dizer que havia pedido ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal para que abrissem uma investigação sobre o assunto. Jucá tem afirmado, por meio de sua assessoria de imprensa, que não era mais sócio da Frangonorte quando a companhia ofereceu as fazendas fantasmas como garantia.


‘Por enquanto, tem muitas insinuações’, disse Lula. ‘Acho que quem é político sabe o que significam insinuações [do tipo] ‘eu acho, eu penso’, mas é preciso que haja coisas concretas, e ele (…) me procurou duas vezes para dizer que está pedindo para que o Ministério Público e a Polícia Federal apurem, o mais rapidamente possível, porque ele é o maior interessado que a verdade venha à tona.’


A declaração de Lula foi feita ao lado do presidente do Chile, Ricardo Lagos. Lula disse que não costuma falar de assuntos internos quando participa de encontros internacionais porque senão a imprensa não noticia o resultado das reuniões, ‘e eu tenho interesse que seja noticiado’. Porém respondeu à pergunta da imprensa brasileira, que também quis saber se os presidentes haviam tratado do posicionamento da Argentina a respeito das alterações na ONU. ‘A questão da Argentina eu pretendo discutir numa reunião com a Argentina’, afirmou.


‘Temos instituições que investigam, que apuram, e, por enquanto, a missão dele [de Jucá], que está cumprindo muito bem, é tentar ajudar a resolver o problema da Previdência. Precisamos garantir que todas as pessoas que têm direito à Previdência tenham o direito de receber os benefícios que ela oferece.’ Afirmou também que o governo está empenhado em acabar com ‘quadrilhas que estão montadas pelo Brasil’.


‘Queremos dizimá-las porque a Previdência não pode continuar com o déficit que está hoje. Se quisermos salvar a Previdência, vamos ter de tomar atitudes duras, e o ministro Romero Jucá está fazendo isso em comum acordo com o conjunto do governo.’’



Uirá Machado


‘Jucá afirma que denúncias são fabricadas’, copyright Folha de S. Paulo, 19/04/05


‘O ministro da Previdência, Romero Jucá, disse ontem que as denúncias contra ele são fabricadas por jornalistas contratados por seus adversários políticos. Disse ainda que ‘renúncia’ não faz parte de seu vocabulário.


Segundo Jucá, a origem da série de denúncias está na disputa eleitoral de Roraima. ‘Essas disputas sempre são muito acirradas e levadas, às vezes, para o baixo nível. Isso tem como conseqüência acusações levianas que ganham repercussão pelo cargo que ocupo.’


As afirmações foram feitas no lançamento do Aasp Previdência (plano de aposentadoria complementar da Associação do Advogados de São Paulo). No evento, Jucá entregou aos jornalistas uma nota de esclarecimento (leia íntegra nesta pág.) que, segundo ele, ‘explica os pontos levantados’ nas últimas semanas.


O ministro afirmou também que as denúncias que têm sido feitas são requentadas, ‘de disputas eleitorais passadas, desde 1990’, que não há irregularidade e que, por isso, tem cobrado investigações que esclareçam os fatos.


Jucá disse que há jornalistas contratados para produzir as denúncias. ‘Tudo isso faz parte de ações que têm origem na política de Roraima. É certo que há adversários políticos por trás das acusações. Existem parlamentares que têm jornalistas contratados, fabricando esse tipo de notícia.’


Questionado sobre quais seriam esses jornalistas, disse: ‘Não quero fazer acusação pessoal contra ninguém’. Afirmou, entretanto, que não se trata de jornalistas vinculados à ‘grande imprensa’. Seriam, segundo Jucá, sites montados para atacá-lo e ‘jornalistas que fazem política em Roraima’.


O ministro foi enfático ao descartar um possível pedido de renúncia: ‘Renúncia não faz parte do meu vocabulário. Não fiz nada errado e, portanto, não há motivo para renúncia’, afirmou.


Ao evento também compareceu o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que defendeu o colega Jucá. Questionado a respeito de um eventual constrangimento no governo devido à série de denúncias, disse: ‘Não, acho que não [há constrangimento]. Ele [Jucá] apresentou os esclarecimentos pedidos e tem respondido de forma satisfatória às denúncias.’ O ministro da Justiça afirmou também que os que consideram estranho o governo manter um ministro após tantas denúncias se esquecem ‘de que estamos num Estado de Direito e que prevalece a presunção de inocência’. E completou: ‘Nas ditaduras é que as pessoas são condenadas antes de serem julgadas’.


Repercussão


O secretário-geral da Presidência da República, ministro Luiz Dulci, detalhou ontem como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Jucá que tomasse a iniciativa de rebater as acusações. ‘O ministro disse ao presidente com muita convicção que tinha condições de provar que elas [acusações] eram infundadas, que não procediam. O presidente, como já fez em situações análogas, disse: ‘Se você tem condições de provar que são improcedentes, mostre, prove e esclareça de maneira cabal essa situação’, disse Dulci.’



Elizabeth Lopes


‘Lula sai em defesa de Jucá e diz que não demite com base em manchete de jornal’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/04/05


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa do ministro da Previdência Social, Romero Jucá (PMDB-RR), envolvido em denúncias de corrupção. ‘Eu não posso tirar ou colocar ministro em função desta ou daquela manchete de jornal’, afirmou Lula, durante rápida entrevista na capital paulista.


Desde que surgiram na imprensa as denúncias contra Jucá, esta é a primeira vez que o presidente Lula faz uma defesa enfática e em público a respeito de seu ministro.


Na defesa que fez, o presidente disse que, por enquanto, existem ‘muitas insinuações’ a esse respeito. E destacou: ‘Acho que quem é político sabe o que significam insinuações, do tipo ‘eu acho e eu penso’. Mas é preciso que haja coisas concretas’.


Lula assegurou que, por enquanto, o ministro vem cumprindo muito bem a sua missão.


De acordo com o presidente, uma dessas missões é ‘dizimar e acabar, de uma vez por todas’, com as quadrilhas que atuam na Previdência. ‘E se quisermos salvar a Previdência, teremos que tomar atitudes duras que o ministro Romero Jucá está tomando em comum acordo com o conjunto do governo’, complementou.


O presidente disse também que o trabalho de Romero Jucá é garantir a todas as pessoas que têm o direito à Previdência o recebimento dos benefícios. Para Lula, é fundamental acabar com o déficit que a Previdência apresenta hoje.


INVESTIGAÇÃO


Lula destacou que o próprio ministro Jucá tomou a iniciativa de pedir uma investigação das denúncias que o envolvem ao Ministério Público e à Polícia Federal. ‘Ele (Jucá) me procurou duas vezes para dizer que está pedindo tanto ao MP quanto à PF que apure o mais rápido possível, porque ele é o maior interessado em que a verdade venha à tona’, comentou.


Entre as denúncias que pesam contra Jucá constam o empréstimo do Banco da Amazônia à empresa Frangonorte, quando o ministro era um dos sócios, que não foi pago e cuja garantia (sete fazendas no Amazonas) não existe. Outra acusação é que o ministro teria intermediado liberação de recursos do Ministério da Saúde para Cantá (RR). Jucá é citado numa gravação em que o prefeito da cidade aparece negociando propina.


Lula fez as declarações em defesa do ministro no escritório da Presidência da República, situado no prédio do Banco do Brasil, na Avenida Paulista, após receber para almoço o presidente do Chile, Ricardo Lagos.


Depois da rápida entrevista, o presidente seguiu para São Bernardo do Campo, onde participou do evento de comemoração dos 30 anos de sua posse como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.’