Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Clóvis Rossi

‘Imagino que os jornalistas do britânico ‘Financial Times’ não se enquadram na definição de mal-educados que o ministro José Dirceu sapecou anteontem em relação aos brasileiros.

Pelo menos os que conheço ou vejo em ação são britanicamente discretos e não se metem no que chamo de cenas de jornalismo explícito, ou seja, aquele monte de repórteres enfiando gravadores e microfones na boca (ou, talvez, no céu da boca) do entrevistado de turno.

Admito que é um horror, mas a culpa é mais das autoridades (as atuais, as anteriores, as anteriores às anteriores, as de sempre) que, no Brasil, não têm uma clara noção de ‘accountability’, palavra, aliás, que nem tem tradução exata em português. Aproximadamente, quer dizer prestação de contas.

Voltando ao ‘Financial Times’. Mesmo com toda a, digamos, ‘boa educação’ com que tratou até agora o governo do PT, o jornal britânico não se conteve e disse que o falatório que sai das bocas governistas nos últimos dias parece mais ‘gritaria de playground que debate sério’.

Vai ver que o velho e bom ‘FT’ também se juntou à suposta conspiração da mídia contra o PT, a hipótese que todo governo levanta quando o noticiário e os comentários não lhe são favoráveis.

O ‘Financial Times’ abriu imenso crédito a Lula, encantado com a possibilidade de que o governo do PT conseguisse a mágica de combinar a ortodoxia econômica com o ataque frontal aos problemas sociais.

Parece que se cansou e resolveu dizer, em bom inglês (que sempre ecoa melhor e mais alto), o que alguns jornalistas e analistas brasileiros (e muitos eleitores do PT) vinham dizendo já fazia algum tempo.

De fato, não é apenas a presente temporada de ‘fogo amigo’ que transforma o governo do PT em um ‘playground’. É quase tudo o que fez (ou, mais exatamente, não fez). O Brasil se transformou, sim, em um imenso, mas triste ‘playground’.’



O Estado de S. Paulo

‘As equívocas verdades do governo’, Editorial, copyright O Estado de S. Paulo, 27/03/04

‘Na iminência de se ver confrontado com a divulgação das pesquisas menos favoráveis à sua gestão e a ele próprio desde a posse, o presidente Lula tratou de fazer chegar à opinião pública a sua versão dos problemas que o tem assombrado nos 50 dias transcorridos desde a eclosão do Waldogate. O mesmo fez o ministro da Casa Civil, José Dirceu. As declarações de ambos chamam a atenção pelo seu conflito com a realidade, indicando que ou o Planalto não quer vê-la ou, o que é mais provável, não quer que os brasileiros a vejam.

Demonstrando escasso respeito pela inteligência alheia, presidente e ministro concentraram-se em culpar a oposição pela crise na qual mergulharam de moto-próprio e da qual não conseguem emergir. Numa entrevista à TV Globo, que por sinal levou ao ar não o entrevistado, mas o entrevistador Franklin Martins, Lula disse, em relação ao caso Waldomiro, que a oposição inchou a crise, pois o governo fez o que tinha de fazer – demitir e mandar investigar o assessor de Dirceu. ‘O resto é com o Congresso’, concluiu, como se desconhecesse que o Planalto, por meio dos seus operadores políticos, impediu que esse ‘resto’ se concretizasse num inquérito parlamentar que tinha obtido mais do que as assinaturas necessárias para a sua instalação.

Isso ainda é pouco perto da teoria conspiratória que Lula expôs a um grupo de músicos, no Palácio, depois de pedir-lhes silêncio para fazer um ‘alerta’, segundo o testemunho da repórter Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. O alerta consistiu em culpar não identificados ‘conservadores’ por ‘todo esse barulho que vocês estão ouvindo por aí’. A intenção deles, com isso, seria a de tentar impedir a vitória do PT ‘em muitas capitais’ nas eleições deste ano. ‘Parece que vão fazer uma guerra contra o governo’, previu o presidente.

Acrescente-se a isso, para completar o inquietante panorama do modo pelo qual o Executivo quer que a sociedade julgue a conturbada atualidade política, a entrevista de Dirceu à TV Bandeirantes. Nela, além de considerar ‘um crime contra o País’ a idéia de que existe uma crise de governabilidade – esquecido de que, pouco antes do destempero da entrevista ao Globo, propusera um ‘pacto de governabilidade’, que a oposição rejeitou porque não vê crise de governabilidade, mas sim crise de autoridade -, ele sustentou as suas recentes diatribes contra políticos e governadores do PSDB, e ainda o Ministério Público, com o belicoso argumento de que ‘quem fala o que quer tem que aprender a ouvir o que não quer’.

Ora, se há algo que a oposição não faz – e o ministro sabe disso – é falar o que quer, ou melhor, o que gostaria. Tome-se a nota conjunta do PSDB, PFL e PDT, de anteontem. O que ali se diz – que o governo é ‘apático, confuso, sem liderança’ – é o mínimo que os seus autores teriam a dizer, justificadamente, sobre o desempenho do PT no poder. E se mais não dizem é porque ‘não jogamos para o quanto pior, melhor’ (José Serra, pelo PSDB), ‘queremos que o presidente exerça o seu mandato’ (Jorge Bornhausen, PFL) e ‘estamos abertos ao diálogo, se essa for a saída para tirar o País da situação delicada em que se encontra’ (Jefferson Péres, PDT).

Porque, enfim, tem o senso de responsabilidade que faltou ao PT quando estava na oposição.

Será essa oposição até surpreendentemente benigna, incluindo o ‘conservador’ PFL, que está preparando a guerra prognosticada por Lula? É claro que os partidos oposicionistas procurarão eleger tantos prefeitos quantos puderem – e decerto, no calor da campanha, os seus membros não deixarão de fazer duros ataques ao governo. Mas até agora nenhum dirigente oposicionista foi à praça pública, e é duvidoso que vá, para ameaçar os adversários de ‘derrotá-los nas ruas e nas urnas’, como bradou o petista José Dirceu em 1998, dando a senha para os insultos e a agressão física de que foi vítima o então governador de São Paulo, Mário Covas.

Isso, para não citar o ‘Fora FHC’ com que o PT tentou golpear o segundo mandato do presidente. O que as oposições pregam agora, em última análise, é ‘Dentro Lula’ – uma exortação para que governe de fato, em vez de praticamente se limitar às expressões corporais de quem governa. Está mais que na hora de Lula ‘estar convencido’ – como costuma dizer – que ‘companheiro’ é bom para bater papo em mesa de bar. Não para governar.

Governo é governo; amigos à parte. É tempo também de jogar limpo com os governados.’



O Globo

‘The Economist’: Poder Judiciário é jurássico’, copyright O Globo, 26/03/04

‘O Judiciário brasileiro é jurássico e disfuncional, e os juízes ‘parecem antiquados’ e ‘lhes faltam experiência e educação’. Em artigo publicado na edição desta semana e divulgado ontem em sua versão eletrônica, a revista britânica ‘The Economist’ critica duramente a Justiça brasileira, enquanto resume os conflitos que têm marcado a discussão sobre a reforma do Judiciário, sobretudo as divergências entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Mauricio Corrêa, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ‘Lula começou a abrir a caixa-preta, uma tarefa que ele achará mais fácil quando Corrêa se aposentar em maio, e o reformista Nelson Jobim sucedê-lo’, conclui a revista.

Pressa na reforma vinculada ao caso Waldomiro

O texto afirma que a maioria dos países latino-americanos reformou o Judiciário nas duas últimas décadas, e ‘a maioria dos brasileiros acha que agora é hora de mudar’. E vincula a pressa do presidente com o caso Waldomiro: ‘com o governo sofrendo de uma crise de confiança trazida por um escândalo de corrupção, Lula está mais que ávido para lhes dar (a reforma)’.

O Judiciário do Brasil é ‘disfuncional, uma instituição jurássica’, segundo a revista, porque é lento, tomado por casos frívolos montados para evitar a Justiça e ‘emaranhado em procedimentos inúteis’. Os juízes ‘parecem antiquados, inalcançáveis e impassíveis de prestar contas aos cidadão a que servem’, afirma o texto, aludindo à Operação Anaconda e à ameaça de greve dos magistrados em função da reforma da Previdência. A redemocratização do país fez o Congresso e o Executivo se modernizarem, e ‘o Judiciário se tornou coberto por novas camadas de complicação’.

O resultado ‘drena dinheiro e moral do Brasil’. A revista cita estudo do economista Armando Castelar Pinheiro, publicado no ano retrasado, segundo o qual o Produto Interno Bruto é 20% menor do que seria, caso a Justiça tivesse padrões do mundo desenvolvido.

Outro dado levantado pelo texto é o percentual de homicídios cujo processo é bem-sucedido: 7,8% dos 49 mil assassinatos cometidos por ano. E, ainda, a revista menciona o fato de o coronel condenado pelo massacre do Carandiru ter sido condenado a 632 anos, mas, por ter direito a novo julgamento, ainda não começou a cumprir a sentença.

O conflito dá a impressão, segundo a revista, de que posições são bem marcadas. Porém, se o governo vê o sistema afastado da sociedade, ‘investidores têm queixa oposta’: contratos não são respeitados se a decisão tiver benefício social. ‘É o governo que recheia tribunais com casos frívolos para evitar pagar dívidas’.

O texto reproduz em português o termo que mais designa a lentidão da Justiça brasileira: morosidade, produto ‘de forças além do controle do Judiciário’, como o direito ao recurso. O Supremo teve de lidar com 164 mil casos no ano passado; a Suprema Corte dos Estados Unidos tomou menos de cem decisões.

A revista afirma que não necessariamente o controle externo será benéfico, pois também poderá se inclinar pelo social, em detrimento do econômico. ‘Isto é tolice, mas faltam aos juízes a experiência e a educação para perceberem isto’, diz a ‘Economist’.’



Vera Rosa


"Para presidente, problema está na comunicação", copyright O Estado de S. Paulo, 30/03/04


"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que seu governo está perdendo a batalha da comunicação e vai viajar cada vez mais pelo Brasil para explicar o que tem feito, na tentativa de melhorar a imagem da administração. Em conversa com petistas, no vôo de São Paulo a Brasília, Lula mostrou inconformismo com a queda de aprovação ao governo, revelada na pesquisa divulgada ontem pela CNT/Sensus e no levantamento do Ibope, da semana passada. Após participar da cerimônia de entrega de viaturas à Polícia Rodoviária Federal, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, o presidente disse a seus interlocutores não entender como muita gente não vê o que tem realizado.


Em mais de uma hora de vôo, Lula fez um desabafo. ‘Eu não posso ser julgado pelo que eu ainda não fiz e quero fazer’, afirmou ele, de acordo com o relato de dois dos acompanhantes da viagem. ‘As comparações têm de ser com o que eu já fiz.’ Pouco antes, ao falar para uma platéia de metalúrgicos no pátio da fábrica da General Motors, Lula demonstrou a mesma impaciência com a queda de popularidade. ‘Não esperem que eu seja mais do que um presidente da República’, argumentou, dizendo não ter poderes de Deus para fazer milagres.


A estratégia de conversar diretamente com o povo para mostrar que o governo não está parado foi aprovada por Lula, que não gosta de ficar apenas no Palácio do Planalto. ‘Um dia na rua vale mais do que uma semana aqui dentro’, costuma dizer. Em suas recentes viagens, no entanto, o presidente tem cumprido agenda de prefeito. Inaugura pontes, maternidades, restaurantes populares. E vai continuar assim: na quinta-feira, por exemplo, irá a Araras (SP) para prestigiar a nova fábrica de café solúvel da Nestlé. Na sexta cortará a fita do novo aeroporto de Bonito (MS) e lançará o projeto de saneamento básico da cidade.


Problema – Em mais uma tentativa de sair da crise, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), Luiz Gushiken, anunciou recentemente que serão gastos R$ 8 milhões numa campanha publicitária sobre ações e investimentos nas áreas de agricultura familiar, saúde e Bolsa-Família. Mas o primeiro comercial da série que tem como slogan a frase ‘O trabalho sério já começa a dar resultados’ deu zebra.


Lula não gostou nada de saber que a agência do publicitário Duda Mendonça exibiu um comercial do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), destinado a agricultores de baixa renda, mostrando imagens de uma grande propriedade rural da região de Cotia (SP). A Secom divulgou nota à imprensa, na tarde de ontem, informando que mandou retirar o filme do ar. Gushiken também pediu ‘esclarecimentos’ à agência e solicitou a refilmagem do comercial, com imagens que correspondem à realidade do Pronaf, ‘sem qualquer ônus para a Secom’.


Duda afirmou ter pedido explicações à produtora paulista Resolution, que ficou responsável pelo filme. ‘Embora entenda que a produtora não agiu de má-fé, buscando alternativas eficientes e mais baratas, determinei que refaça o comercial, sem custo para o governo’, disse o marqueteiro. Para Duda, houve uma ‘falha’, mas não uma ‘mentira’ na peça publicitária. Disse ainda que, em caso de reincidência, a Resolution – que é terceirizada – será descredenciada. ‘Da minha parte, demitirei os encarregados da produção da peça’, assegurou.


A Secom informou que, embora considere ‘inerente e legítimo’ o uso da linguagem emocional e de ‘elementos ficcionais’ para representar a realidade, já havia orientado a agência de Duda para utilizar imagens do Pronaf que correspondessem ao dia-a-dia do pequeno agricultor."



Folha de S. Paulo


"Governo tira comercial do ar e reexamina toda a campanha", copyright Folha de S. Paulo, 30/03/04


"O governo Luiz Inácio Lula da Silva retirou do ar ontem a propaganda oficial que, com imagens enganosas, divulgava o projeto de agricultura familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Além disso, a Secretaria de Comunicação de Governo diz ter determinado ao marqueteiro Duda Mendonça, idealizador das peças, que reexamine os demais filmes da campanha oficial, cujo custo total é estimado em R$ 8 milhões.


O objetivo, segundo nota divulgada pela Secom, do ministro Luiz Gushiken, é ‘preservar a credibilidade das ações e programas do governo federal’ e fazer com que ‘acontecimentos tão lastimáveis como esse sejam evitados’.


A Folha revelou na edição de ontem que, para divulgar ações e investimentos destinados à agricultura familiar e agricultores de baixa renda, o governo utilizou imagens captadas em uma grande propriedade que nunca recebeu dinheiro do projeto em questão.


A gravação foi realizada em Cotia (SP), nas terras do empresário rural Mário Ribeiro. Ele é dono de cinco propriedades vizinhas que, somadas, alcançam 1 milhão de metros quadrados e produzem dez toneladas de verduras por dia. Ou seja, estão fora das regras do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), programa de incentivo à agricultura familiar.


Sob o slogan ‘O trabalho sério já começa a dar resultado’, propaganda feita pela agência de Duda usou ainda trabalhadores que não fazem parte do programa que o governo quis divulgar. Eles são empregados do empresário rural.


A filmagem foi feita pela empresa Resolution Produções, contratada pela agência de Duda. Os funcionários de Ribeiro receberam R$ 50 cada um para participar da filmagem. ‘Pensei que iriam fazer alguma coisa para incentivar o homem do campo. O brasileiro não merece ser enganado’, reagiu o empresário.


Duda Mendonça


‘Errei. A culpa não é do governo. É toda minha.’ Assim reagiu ontem o marqueteiro Duda Mendonça à reportagem publicada pela Folha. Duda telefonou logo de manhã a Gushiken e disse ao ministro que vai refazer a propaganda. Também divulgou uma nota, na qual reconhece que houve uma falha.


‘Admito que houve uma falha grave, mas não houve má-fé. As informações que aparecem no comercial são todas verdadeiras. O governo está investindo R$ 5,4 bilhões na agricultura familiar’, afirma o marqueteiro, que fez a campanha presidencial de Lula.


O publicitário diz que demitiu o produtor que cuidou da locação da propriedade. ‘Procuro sempre ter os menores preços para o governo. O produtor quis economizar, usou uma locação mais próxima a São Paulo, não teve má-fé, mas errou. Em propaganda de governo, temos de ter critérios os mais rigorosos possíveis’, diz.


Ontem, a Folha ouviu o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ibiúna e Região (que cobre a área de Cotia), Francisco Edivan Pereira. Segundo ele, há cerca de 40 propriedades na região que recebem verbas do Pronaf. ‘A produtora poderia ter escolhido uma delas, mas roça de agricultor familiar é feia, é pobre, não enche os olhos’, afirmou.


A campanha publicitária fora colocada no ar como resposta à crise política desencadeada pela divulgação do caso Waldomiro Diniz. O objetivo era combater a imagem de paralisia do governo, que vem se cristalizando.


Com o surgimento do caso Waldomiro Diniz, em 13 de fevereiro, o governo Lula entrou em sua maior crise. Apesar de já estar prevista, a campanha teve a criação influenciada pela crise.


Na nota, a Secom reafirmou que não teve conhecimento do fato de a propriedade utilizada no comercial não ser beneficiária do programa de agricultura familiar."


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"Até base aliada critica publicidade", copyright Folha de S. Paulo, 30/03/04


"A propaganda do governo federal sobre investimentos em agricultura familiar que usou a imagem de uma propriedade que não faz parte do programa provocou reações de indignação no Congresso até entre os governistas.


Reportagem publicada ontem pela Folha mostrou que foi usada imagem enganosa no comercial da nova campanha publicitária do governo. O publicitário Duda Mendonça admitiu o erro e o governo tirou a propaganda do ar.


Em discurso no qual criticou a ‘paralisia’ do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e cobrou alteração dos rumos da política econômica, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) condenou a propaganda. ‘O presidente Lula precisa fazer alguma coisa. Concordo com a pauta positiva. Mas isso não pode significar pedir ao Duda Mendonça que toque uma pauta positiva e o seu Duda ir numa fazenda de não sei quantos mil hectares, que não tem nada a ver com agricultura familiar, e fazer um filme mostrando as maravilhas da agricultura familiar.’


O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) ironizou: ‘Acho que foi excesso de transparência. O Duda Mendonça quis mostrar que o governo é aquilo ali, é Denorex: parece, mas não é.’


O senador José Jorge (PFL-PE) encaminhou ontem ao Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) denúncia contra a propaganda do governo. José Jorge afirmou que a peça publicitária não é ‘honesta’ nem ‘verdadeira’, como determina o Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária (artigo 10). Para ele, o filme infringe uma série de artigos do código.


O senador citou o artigo 23, segundo o qual os anúncios não podem ‘abusar da confiança do consumidor, não explorar sua falta de experiência ou de conhecimentos e não se beneficiar de sua credulidade’. ‘Se o governo veicula para milhões de pessoas uma mentira tão visível, cabe-nos denunciar e agir em defesa dos direitos dos brasileiros’, disse.


O deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder da bancada do PT na Câmara, afirmou que o episódio foi ‘lamentável’ e que poderia ferir a credibilidade do programa, caso o governo não decidisse retirar a propaganda do ar. ‘É lamentável. Colocar uma imagem que não corresponde à informação dada pode levar à perda da credibilidade.’ Segundo ele, a responsabilidade pelo episódio é da empresa de propaganda. ‘A responsabilidade é da Duda Propaganda. Se ela contratou outra empresa, responde solidariamente.’


Já o deputado Professor Luizinho (PT-SP), um dos vice-líderes do governo, disse que o fato de a propaganda ter utilizado uma imagem indevida não anula ‘os benefícios do programa’."


Duda Mendonça


"Leia a íntegra da nota divulgada pelo publicitário", copyright Folha de S. Paulo, 30/03/04


"‘Entendo que a Folha cumpriu corretamente o seu papel, ao noticiar que algumas imagens da propaganda feita sobre o programa de Agricultura Familiar não retratavam beneficiários diretos do projeto. Como a peça é de responsabilidade de minha agência, quero dizer que recebo esse tipo de questionamento como uma positiva contribuição, pois permite o aperfeiçoamento do trabalho de minha equipe. Em respeito a essa Folha e a seus leitores, quero apenas transmitir algumas informações:


1) Assim que fui informado sobre o incidente, sugeri a suspensão imediata da veiculação da peça, para que fosse refeita com as imagens de beneficiários concretos do programa;


2) Pedi explicações à produtora encarregada da captação das imagens, um prestador de serviço terceirizado. A produtora alegou ter escolhido a propriedade citada pela Folha apenas como cenário de locação. Segundo o fornecedor, como o texto não afirma em nenhum momento que se tratava de um beneficiário do programa, levou em conta apenas o critério de produzir imagens de qualidade com o menor custo possível, por se tratar de peça paga com dinheiro público;


3) Embora entenda que a produtora não agiu de má fé e reconheça que exijo mesmo os menores orçamentos, especialmente quando o dinheiro em questão é público, buscando sempre alternativas eficientes e mais baratas, determinei à produtora que refaça as imagens com beneficiários do programa, arcando com todos os custos. Deixei claro que, em caso de reincidência, a produtora será descredenciada de minha rede de fornecedores. Demitirei também os encarregados pela produção da peça;


4) Não quero, com isso, abrir mão de minha responsabilidade no caso. Como presidente da empresa, a responsabilidade é toda minha. Mas entendo que é preciso deixar claro, com atitudes, que os critérios de produção da propaganda governamental têm que ser ainda mais rigorosos que os da publicidade privada;


5) É importante também fazer algumas distinções. As informações apresentadas no comercial são rigorosamente verdadeiras. O programa verdadeiramente existe. Os números citados, também. Em nenhum momento, é dito que aquela propriedade específica foi beneficiada ou que seus trabalhadores integravam o programa;


06) Isso não desmerece o questionamento da Folha. Houve uma falha, sem dúvida nenhuma, mas não uma mentira. Erros acontecem e atingem inclusive jornais, todos os dias. O importante, nesses casos, é reconhecer o erro, corrigi-lo e impedir que aconteça novamente. É isso que já fiz e me comprometo a fazer sempre.


Duda Mendonça’"




GAROTINHO NA TV
Murilo Fiuza de Melo

‘Garotinho terá um programa de TV no Rio’, copyright Folha de S. Paulo, 27/03/04

‘O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB), que trabalha para se candidatar novamente à Presidência da República em 2006, está remontando a sua rede de mídia.

Garotinho, que começou a carreira como repórter de rádio em Campos (norte fluminense), estréia no mês que vem um programa de entrevistas, com duas horas de duração, na TV Record (pertencente à Igreja Universal), que será veiculado apenas no Rio.

Ele já comanda o quadro ‘Falando em Família’ em um programa da Assembléia de Deus, na TV Bandeirantes, e há um ano apresenta aos sábados programas em duas rádios.

O PT, maior alvo dos ataques do ex-governador, está preocupado com o avanço de Garotinho na mídia. A Folha apurou que o partido grava todos os programas veiculados nas rádios desde a estréia, a pedido de Duda Mendonça, marqueteiro de Lula.

O objetivo é municiar o partido para a campanha eleitoral, explorando possíveis contradições do ex-governador e atual secretário de Segurança do Estado do Rio.

A assessoria de imprensa de Garotinho informou que o horário do programa na Record não foi comprado. Segundo ela, o programa foi oferecido à emissora, que gostou da idéia. A Record do Rio disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não há nada definido sobre o assunto.’