Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Daniella Wagner

TIM LOPES, 1 ANO

“A TV Globo ainda não respondeu”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 10/06/03

“Os jornalistas da TV Globo mencionados em meu artigo TIM LOPES E A HIPOCRISIA DA IMPRENSA enviaram nota de repúdio ao site www.comunique-se.com.br, na qual pretendem responder-me. Lamento informar a Virginia Coelho, Marcia Monteiro, Marcelo Moreira, Cesar Seabra, Ali Kamel e Carlos Henrique Schroder: mais uma vez fiquei sem as respostas para os meus questionamentos.

A nota – ressalte-se, não da TV Globo, mas assinada apenas pelos jornalistas acima – afirma que, em 17 horas de fita, foram respondidos todos os questionamentos. Gostaria que me apontassem em quais minutos destas 17 horas de fita estão as respostas às seguintes dúvidas:

1) Onde está a pessoa da comunidade que pautou a matéria ao pedir socorro à emissora, que conduziu o Tim nas quatro vezes em que ele foi à Vila Cruzeiro? O chefe de reportagem, Marcelo Moreira, em depoimento no processo n? 2002.001.072521-3, prestado ao juízo do I Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, em 23/9/02, disse que ?efetivamente ouviu dizer que o tal informante teria sido retirado da favela pela Rede Globo? e, mais adiante, que ?tal informante não procurou especificamente a vítima, mas qualquer repórter que se dispusesse a fazer a denúncia e imagina que o tal denunciante teria ligado e deixado o telefone para os repórteres fazerem contato?. Então, que história é esta de que a matéria era uma pauta do Tim? Ele era realmente um profissional talentoso, daqueles que não precisam ser pautados, mas, NESTE CASO ESPECÍFICO, Moreira deixou bem claro ao juiz que esta pessoa procurou por qualquer jornalista. Ou seja, a pauta não foi proposta por Tim, que apenas cumpriu a determinação de sua chefia.

2) Qual o esquema de proteção e retaguarda oferecido ao repórter para a realização da matéria?

3) Por que a produtora de reportagem Virgínia Coelho, que recebeu, à meia-noite, a notícia do motorista de que Tim não aparecera no horário combinado (22h) não deu o alarme a seus superiores de que algo dera errado? Pelo fato de ela assinar a carta, confirma-se que continua trabalhando na emissora, que, pelo visto, não considerou esta omissão uma falta grave.

4) Por que o chefe de reportagem, Marcelo Moreira, somente avisou a polícia sobre o desaparecimento de Tim após o término do primeiro jogo do Brasil na Copa, por volta das 8h, da segunda-feira, dia 3?

5) Por que os pertences do Tim não foram entregues imediatamente à polícia, só tendo sido encaminhados mais de três semanas depois, a partir de uma determinação policial?

6) Também não conseguiram justificar o desleixo com a edição do Jornal Nacional do dia 2 de junho, apresentando a desconexa declaração de Tânia Muri de que ?a morte de Tim trouxe um despertar, trouxe uma reflexão para as autoridades. Ele, realmente, com a sua entrega de sua vida, ele quis levantar uma bandeira de que a gente precisa fazer alguma coisa e que senão não vai dar para continuar?, parecendo que a morte do repórter foi um suicídio. Além de desrespeitosa para com o Tim, a edição não faz justiça à dor de Tânia, irmã do repórter.

Por último, gostaria que me apontassem para qual dos seis minha irmã solicitou há oito meses atrás que não mais a procurassem, uma vez que NÃO É VERDADE a afirmativa da carta de repúdio destes seis jornalistas – que pretendem falar, até sem procuração, em nome das consciências dos jornalistas do Brasil inteiro – de que Alessandra Wagner tenha solicitado, a qualquer tempo, à TV Globo que não mais a procurasse para dar declarações públicas a respeito do assunto.

As consciências podem estar em paz e até alertas, mas continuam sem respostas para dar. E pior, pelo visto, escancaradamente sem qualquer compromisso com a Verdade.

(*) Daniella Wagner é jornalista e cunhada de Tim Lopes.”

 

O GLOBO CONDENADO

“O Globo terá que pagar indenização por danos morais”, copyright Consultor Jurídico in Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/06/03

“O Superior Tribunal de Justiça reduziu de mil para 300 salários mínimos o valor da indenização que o jornal O Globo deve pagar à ex-secretária Nacional dos Direitos da Cidadania, Luiza Nagib Eluf.

O diário publicou, em 1995, reportagens sobre uso inadequado de dinheiro público e afirmou que a então secretária usava o dinheiro para fazer viagens particulares a São Paulo, onde mora sua família.

O Globo afirmou, ainda, que Luiza passou 30 dias viajando (19 deles em São Paulo). O então ministro da Justiça Nelson Jobim assinou a carta de demissão da Luiza alegando abandono de cargo e exigiu que ela devolvesse aos cofres públicos US$ 2 mil gastos indevidamente em viagens ao exterior.

Luiz entrou com pedido de indenização por danos morais na Justiça do Rio de Janeiro, alegando ter sido injustiçada. Ela afirmou não ter abandonado o emprego, porque já havia pedido demissão antes de sair em viagem. Os advogados de Luiza Eluf entraram com pedido de ressarcimento no valor de dois mil salários-mínimos.

O juízo de primeira instância concedeu apenas mil salários e o Tribunal de Justiça do Rio manteve a decisão. Descontente, o jornal contestou a decisão no próprio Tribunal alegando que a Lei de Imprensa estipula a indenização por danos morais no valor máximo de 20 salários-mínimos.

Inconformada com a manutenção do valor, a defesa do jornal recorreu ao STJ. Para isso, reiterou que, de acordo com a Lei de Imprensa, a reparação dos danos morais só é válida se for efetuada no prazo de três meses após a data da publicação.

A Turma, após discutir o assunto, fixou a indenização em 300 salários-mínimos. O entendimento foi que, pelo teor e quantidade das notícias, o valor da indenização, de acordo com os parâmetros fixados em precedentes, estaria bem abrigado nesse valor.”

 

INFÂNCIA NA MÍDIA

“Pesquisa mostra falta de espaço na imprensa para saúde infantil”, copyright Rede Gife (http://www.gife.org.br), 23/06/03

“Lançada pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), a série Mídia e Mobilização Social é composta inicialmente por quatro livros que analisam a cobertura da imprensa em temas relativos à infância e adolescência.

A coordenadora de relações internacionais e acadêmicas da Andi, Regina Festa, fala ao redeGIFE sobre dois volumes, Saúde em Pauta e Equilíbrio Distante.

redeGIFE – Como tem sido a atuação da imprensa ao noticiar casos relativos à área de saúde?

Regina Festa – Quando o que está em pauta são aspectos relacionados à saúde infantil, a mídia ainda deixa de considerar pontos relevantes para a qualidade de vida e focaliza a informação nas doenças. Ou seja, não existe uma cobertura sobre saúde, mas sim sobre a ausência dela. Isso pode ser constatado por meio de alguns dados da pesquisa. Quase 59% dos textos avaliados não abordavam questões de prevenção, promoção e proteção à saúde da criança. Além disso, o esgotamento sanitário e a coleta de lixo são citados em apenas 2,5% das reportagens. Desse modo, a cobertura jornalística acaba refletindo a crise de um sistema que não consegue promover a saúde de acordo com o que está previsto na legislação.

É importante ressaltar que o livro Saúde em Pauta analisou a cobertura que a imprensa brasileira oferece ao tema saúde infantil, em matérias que tinham como foco crianças de 0 a 12 anos incompletos. A partir dos 12 anos, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a pessoa é considerada adolescente. Esse público foi contemplado em outro estudo que será publicado em breve pela ANDI e seus parceiros.

redeGIFE – Quando trata de saúde, quais são os pontos que a mídia mais destaca?

Regina – Além do espaço dado à doença, a imprensa brasileira destaca questões como aleitamento, vacinação, mortalidade infantil e desnutrição. Outros aspectos como cuidados básicos com a criança, parto humanizado e novos exames e tratamentos têm espaço nos veículos de comunicação, embora com uma freqüência bem menos relevante.

redeGIFE – O livro conta que o setor privado ainda tem pouca representatividade na cobertura da mídia sobre saúde. Por que isso acontece?

Regina – Infelizmente ainda não há na imprensa brasileira uma clara percepção da importância do setor privado na elaboração e na execução de políticas públicas. Esse quadro não é diferente quando o que está em discussão são políticas na área de saúde. Persiste na área de comunicação a visão de que a saúde é responsabilidade do poder público. Por isso iniciativas privadas em saúde são vistas como pauta exclusiva de matérias sobre direitos do consumidor. Uma explicação aferida é o receio que alguns jornalistas têm de fazer propaganda desses serviços em suas matérias. É importante ressaltar que a mesma lógica aplica-se ao governo e ao terceiro setor.

redeGIFE – Como tem sido a participação das fontes e dos especialistas em saúde ouvidos pelos jornalistas?

Regina – A cobertura sobre saúde da criança tem tido nas fontes oficiais suas maiores referências (27% dos textos). Os especialistas foram ouvidos em apenas 1,5% das matérias. Constatou-se também uma ausência de vozes qualificadas, o que compromete a qualidade do noticiário. Como se sabe, é fundamental que os jornalistas façam matérias que contenham mais de uma fonte, para que apresentem a pluralidade de opiniões. Quanto a isso, os resultados da pesquisa sobre saúde da criança são preocupantes. Em 58% dos textos avaliados os repórteres ouviram apenas uma fonte. Quando existe mais de uma voz, 93% das matérias apresentam atores com as mesmas opiniões sobre o tema.

redeGIFE – O espaço que a imprensa tem dado à cobertura de temas ligados à saúde é suficiente?

Regina – Embora o tema saúde tenha sido o quarto tópico mais abordado pela imprensa na lista relacionada com a criança e o adolescente em 2002, ainda há muito espaço para crescer. A pesquisa Saúde da Criança constatou que apenas 13,6% das matérias, artigos e editoriais estudados descrevem a saúde como um direito da criança e de sua família. Esse indicador mostra a necessidade de se crescer no tratamento das matérias sob a perspectiva da saúde. Incluir discussões como gênero, raça e etnia e até acesso à água potável nas matérias sobre saúde representam, além de um grande desafio, um universo rico em pautas que são ignoradas.

redeGIFE – Em outro livro da série, intitulado Equilíbrio Distante, é dito que a cobertura da imprensa sobre tabaco e álcool é muito acanhada. Por quê?

Regina – Este estudo fez uma análise do comportamento editorial brasileiro nas matérias que tratam sobre tabaco e álcool na adolescência. Essa ausência pode ser explicada pela complexidade de se abordar um tema repleto de tabus e preconceitos. A pesquisa identificou que, apesar de ser parte do cotidiano de milhões de jovens brasileiros, o cigarro e as bebidas alcoólicas ainda não recebem da imprensa uma cobertura expressiva. Em 2001, apenas 0,31% do total de matérias sobre infância e adolescência publicadas nos 49 grandes jornais acompanhados pela Andi deram destaque ao tema. Nas revistas e suplementos de jornais voltados para o público adolescente, que teoricamente teriam a responsabilidade de abordar o assunto, o cenário não é diferente: apenas 0,61% tratou das drogas lícitas.

redeGIFE – Como evitar a tendência ao emocional nas notícias sobre esse tema?

Regina – Ao falar sobre tabaco e álcool na adolescência, expressiva parte das matérias apresentam um discurso moralista, preconceituoso e alarmista. Acabam promovendo um campo de ?terrorismo? com o jovem, pois acentuam os problemas de saúde gerados pelas duas substâncias e descrevem em detalhes como ocorrem mortes por câncer de pulmão. Apenas esse tipo de abordagem não funciona. Pode até impressionar o adolescente, mas não contribui para que ele pense em sua vida, pois pode ser que ele tenha boa saúde e a experiência do uso do cigarro e da bebida é fonte de prazer pessoal e com um grupo de amigos. O grande desafio é envolver o leitor mais pelo senso crítico, pela consciência da prevenção, do que se restringir à denuncia de risco e prejuízos para a saúde. Especialmente nos veículos voltados para os adolescentes. É preciso levar em conta que eles estão envolvidos em um processo de experimentação, portanto é inútil não falar também no prazer, charme e sensualidade que a imagem desses produtos passam.

redeGIFE – O que a mídia tem feito de positivo e de negativo com relação à questão do álcool e do cigarro na adolescência?

Regina – A imprensa brasileira teve um papel importante no apoio ao governo federal e à sociedade civil na campanha contra a veiculação de publicidade de cigarro. O anti-tabagismo mobilizou diversos setores da sociedade brasileira, e a mídia assumiu de forma explícita o papel de parceria ativa, embora não formalizada. A participação dos veículos de comunicação foi de significativa contribuição para o sucesso de ações que feriam o interesse de relevantes grupos econ&oocirc;micos. Essa ação fomentou debates sobre o tema. No entanto, passado o período da campanha, a mídia mostrou-se pouco pró-ativa em relação ao tabagismo e ao consumo de álcool na adolescência.

redeGIFE – O que é mais urgente: campanhas de prevenção contra as drogas lícitas ou a busca por tratamento aos jovens dependentes? Em qual papel a mídia tem atuado melhor?

Regina – Na realidade, a mídia não promove campanhas. O papel dela é levantar debates, mostrar todos os lados da questão, informar e conscientizar de maneira ampla a sociedade em seu conjunto. Abordar a prevenção e a busca por tratamento para os dependentes das drogas lícitas é papel da imprensa, especialmente quando ela atua por meio de matérias que contextualizam, explicam e instigam a reflexão sobre esses temas. Dito de outro modo, o papel das campanhas é de colocar o tema e o da mídia é de promover informações e discussões. Portanto, ambos são complementares entre si na formação da opinião pública e ambas atuam na consciência sobre a busca de tratamento.”