Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Hugo Sukman

MONITOR DA IMPRENSA

ASPAS

GREVE NO LIBÉRATION

"Jornalistas param e ‘Libération’ não sai", copyright O Globo, 17/03/01

"A máxima do jornalismo de que ?o jornal sempre sai no dia seguinte? não funcionou ontem para o ?Libération?, um dos três mais importantes da França. Uma greve dos jornalistas impediu que a edição de sexta-feira fosse concluída. O motivo: o aumento de 33% (equivalente a 20 mil francos, quase 6 mil reais) do salário do presidente e editor-chefe, Serge July, e do diretor-geral, Evence-Charles Coppée, contra apenas 200 francos para os outros empregados. A disparidade nos reajustes fez com que os funcionários decidissem por 134 votos a 119 pela greve, na antevéspera do segundo turno das eleições municipais.

Mais fortes do que a briga salarial, contudo, são as discordâncias quanto à condução empresarial do ?Libération?, jornal fundado por Jean-Paul Sartre e outros intelectuais nos anos 60 e, até hoje, um bastião da esquerda francesa. O próprio July, um dos mais respeitados articulistas da França, teve destaque em importantes momentos da história do país, como na revolta estudantil de maio de 68.

Até hoje administrado sob a cultura da autogestão, o ?Libération? enfrenta a transição para uma administração capitalista normal. O Conselho de Administração deu os aumentos sob essa lógica: pagar seus executivos pelo nível do mercado.

– Um grande número de funcionários ainda não aceita a transformação do?Libé? numa empresa capitalista clássica – comentou um dos conselheiros.

Na verdade, a maior parte das ações do jornal, 36,4%, pertence aos funcionários. Desde 1996, o grupo Pathe é o segundo acionista, seguido de Comunication e Participation, controlado por July. Os funcionários, entretanto, suspenderam a greve depois de o Conselho de Administração aceitar antecipar sua reunião para semana que vem, quando serão discutidas as reivindicações."

RETRAÇÃO DE ANUNCIANTES

"Jornais enfrentam perda de anúncios", copyright O Estado de S. Paulo ; The New York Times, 13/03/01

"Mike Cassidy, colunista do jornal The San Jose Mercury News, na Califórnia, escreveu uma carta na semana passada para P. Anthony Ridder, executivo-chefe da Knight Ridder, empresa proprietária do diário.

Ele perguntou se não era hora de um líder empresarial como Ridder ?enfrentar os mercados irracionais e redefinir o sucesso financeiro?. Se fizesse isso, sugeriu Cassidy, Ridder poderia abrandar as metas de lucro que tinha estabelecido para The Mercury News e evitaria as já anunciadas demissões na redação.

A mensagem da carta de Cassidy ressoou bem além de San Jose. Poucos dos grandes jornais do país estão livres da dor causada pelo declínio na publicidade. Uma variedade de doenças oportunistas afetam os jornais, entre elas o fechamento de lojas em San Antonio, a grande queda de publicidades de filmes de Los Angeles a Little Rock e o declínio das empresas ponto.com nas regiões de San Francisco e Nova York. As redações estão enfrentando cortes.

O The New York Times cortou espaço noticioso nas seções regionais para a área de Nova York.

Esses cortes são a forma que os jornais têm de lidar com a queda na publicidade enquanto garantem os lucros que Wall Street espera. Mas o que exatamente ela espera?

A comunidade de investimentos na qual os executivos de empresas jornalísticas devem se manter não é monolítica. Seu segmento mais visível é um grupo de aproximadamente 12 analistas, cujas opiniões influenciam bilhões de dólares em investimentos. Eles observam as tendências industriais semana a semana e supervisionam a habilidade da empresa em aumentar os lucros.

Quando ficam indiferentes sobre uma ação, levando seu preço a cair, outro grupo de investidores geralmente aparece. Eles chamam a si mesmos de ?investidores de valores? e dizem que estão menos preocupados com questões de lucros a curto prazo e se importam mais se uma ação está barata em relação a marcas importantes. Nos últimos meses, eles compraram papéis de tudo, de indústrias químicas a jornais.

O vaivém entre os chamados investidores de momento, para quem lucros acelerados são essenciais, e os investidores de valores podem manter as ações de uma empresa em grande alta nas boas épocas ou afundá-las muito quando estão numa fase ruim aparece no horizonte.

Nos últimos dois meses, o preço das ações foi um dos poucos itens da indústria jornalística que não se deteriorou. Ele subiu e caiu, mas no índice da Standard & Poors as ações de empresas jornalísticas continuam no nível de dois meses, quando a maioria dos executivos estavam otimistas e achavam que a queda na publicidade seria breve. Os investidores na indústria jornalística tendem a avaliar uma ação baseados na previsão de lucros em seis meses. Assim, apesar da onda de notícias ruins, a previsão deles para 2001 não mudou muito.

Os investidores de valores estão sentindo-se vingados com o colapso nas ações da nova economia. Um deles é Bruce S. Sherman, presidente da Private Capital Manegement. Para ele, os jornais são ?cash cow? (empresa com fluxo de caixa contínuo). ?Eles são bons negócios, com um grande fluxo de caixa racional.? Quando os investidores, vendo o futuro sombrio, começaram a vender ações dos jornais, Sherman as comprou.

Henry Cavanna, gerente-sênior da J. P. Morgan Chase, também aumentou sua participação em papéis da Knight Ridder e do Times. Ele considerou-os como investimentos defensivos. ?Estão baratos e vão cair mais do que os de outras empresas?, disse. Mas ressaltou: ?A curto prazo não são tão bons.? A confiança de de Cavanna nas empresas jornalístas não ajuda muito o problema do colunista do Mercury News, preocupado com as demissões. ?Os jornais são muito bons em cortar despesas?, disse o analista.

E para cada investidor de valor há muitos investidores que se preocupam com a margem de lucros. Leland Westerfield, da UBS Warburg Research, falou por muitos analistas quando disse que se os lucros caírem, as ações os seguirão.

?Os investidores de valor vão agir se elas caírem muito, mas a confiança a longo prazo da empresa poderá diminuir um pouco e seu valor também diminui se as margens de lucro caírem.?"

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