Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

JB Online


CASO ABRAVANEL

"Seqüestro de Silvio Santos ganha repercussão na mídia mundial", copyright JB Online, 30/08/01

"O seqüestro do empresário e apresentador Silvio Santos também foi notícia na imprensa internacional. New York Times, CNN, BBC, Clarin.com e La Nación descreveram em seus sites na internet o drama vivido hoje pelo apresentador, que passou oito horas rendido pelo mesmo homem que seqüestrou sua filha, Patrícia Abravanel, na semana passada.

Na página do La Nacion, o caso é o destaque principal. O jornal argentino se refere ao apresentador como um magnata da TV brasileira e um dos homens mais conhecidos no país. No site da BBC, foi montado um especial sobre o seqüestro, com reportagens completas sobre Patrícia Abravanel, o crime ocorrido hoje na mansão de Silvio Santos e a indústria do seqüestro. Há também um perfil geopolítico do país e do presidente Fernando Henrique Cardoso, além de alguns links para os jornais brasileiros que noticiaram o caso.

A seção internacional dos sites do New York Times e do Clarin.com também informam que o empresário já está a salvo, depois que o seqüestrador Fernando Dutra Pinto se entregou. Os noticiários do The Times e da CNN, mais atrasados em sua atualização, mesmo depois do desfecho, continuam a informar sobre a invasão da casa de Silvio Santos, ocorrida hoje pela manhã.

Confira as manchetes da imprensa internacional sobre o seqüestro:

New York Times (www.nyt.com) – Apresentador brasileiro de TV está a salvo depois da rendição do seqüestrador

BBC News(www.bbc.co.uk) – Seqüestrador liberta apresentador brasileiro

La Nación (www.lanacion.com.ar) – Seqüestrador do magnata da TV brasileira Silvio Santos se entrega

The Times (www.thetimes.co.uk) – Seqüestrador invade casa de apresentador

CNN (www.cnn.com) – Suposto seqüestrador entra na casa de magnata da mídia do Brasil

Clarin.com (www.clarin.com) – Brasil: rende-se o seqüestrador do magnata da televisão Silvio Santos"

 

"Jornais internacionais falam da invasão à casa de Sílvio Santos", copyright Folha Online, 30/08/01

"O jornal norte-americano ?The New York Times? e o argentino ?La Nación? falam da invasão à casa do apresentador Sílvio Santos em suas edições eletrônicas. O apresentador está rendido por um dos sequestradores de sua filha, Fernando Dutra Pinto, 22.

O NY Times destaca o recente sequestro de Patrícia Abravanel, 24, que foi solta há dois dias, após o pagamento de um resgate de US$ 200 mil.

O ?La Nación? coloca o acontecimento como principal notícia de hoje em seu site. Segundo o jornal, que tem um correspondente no local, Pinto teria ido à casa do apresentador para garantir sua sobrevivência, após ter matado dois policiais. O jornal também oferece um boletim de áudio diretamente do local."

 

"?Rico sofre, ô meu…?", copyright No. (www.no.com.br), 30/08/01

"Estranhei, ao chegar a um heliponto de São Paulo, a quantidade de helicópteros sobrevoando o local. Perguntei ao segurança o que era aquilo. Foi quando soube a notícia do dia: o seqüestrador de Patrícia, havia feito Sílvio Santos, seu pai, refém em sua própria casa, no Morumbi.

Ao decolar para Osasco, vi pelo menos dez aparelhos no ar, a maioria de estações de TV. Estava montado um dos shows que mais mobiliza a televisão brasileira. Ao voltar, duas horas depois, lá estavam os mesmos helicópteros. Liguei a televisão para ver um pouco da cobertura e lá estava o mesmo padrão: como não há muito o que ver, senão tomadas da casa do empresário, dos carros da polícia, improvisam comentaristas e entrevistas. Aí, fica tudo igualzinho à cobertura de desfile de 7 setembro e igual, mas pior, ao que fazem com eventos esportivos. É que o Brasil tem bons comentaristas de vários esportes, mas de parada militar e seqüestros não tem. Mesmo assim era intensa a briga por audiência da mesma imagem. Por alguma razão estranha, os telespectadores preferem ver em uma e não em outra emissora, a mesma imagem.

As entrevistas que vi eram patéticas, pela pobreza de perspectiva e pelo tom quase histérico. No trajeto que fiz, entre Osasco e São Paulo, falei com várias pessoas: seguranças, bombeiros, atendentes, secretárias e motoristas de táxi. Todos tinham opiniões mais interessantes do que as pessoas que vi entrevistadas na TV e mais realistas que as dos comentaristas improvisados. Dá para arriscar uma sociologia da visão popular de um caso desses. Dessas conversas todas surge um retrato de uma sociedade na qual trabalhadores em funções de classe média baixa e de classe baixa qualificada têm noção de sua estratificação, a encaram como natural, respeitam a polícia e vêm com naturalidade a violência policial.

A noção de estratificação ficou clara em várias frases que ouvi esta manhã: ?às vezes ser rico vira uma desvantagem, né?? Ou ?as pessoas nem podem mais ter uma casa bacana, um carro vistoso, que estão ameaçadas dessa violência?. Ainda outra, ?mas, também ô meu, como é que um cara rico como o Sílvio Santo não tem segurança. Eu fico seguro trancando a porta e as janelas da minha casa. Mas ele, tinha que ter um exército na dele?. É uma sociedade de ricos e não ricos e, em São Paulo, capital, a visão popular que captei é que os ricos tem mesmo que ficar protegidos em seus bunkers de luxo, cercados de segurança, para se livrarem do ?desespero desse pessoal que não tem nada a perder?.

Não ouvi desses trabalhadores – todos do setor de serviço – qualquer manifestação de desconforto ou discordância com o fato de existirem ricos e pobres. Ao contrário, perguntei a um dos motoristas de táxi se ele não achava injusto ter gente tão rica e gente tão pobre e ele me respondeu: ?Acho que podiam fazer alguma coisa pela pobreza, mas os ricos são ricos porque tiveram condições, o Sílvio é um trabalhador. Eu também sonho ser rico um dia, ô meu, nem que seja ganhando na loteria e digo mais, rico sofre viu ô meu?. Um dos seguranças tinha a mesma noção: ?pode ter um ou outro rico que não fez nada para chegar lá, mas a maioria chegou lá porque tinha instrução, sabia fazer negócio tinha uma idéia boa. Muita gente saiu de baixo e hoje vive na riqueza.?

Uma observação interessante, de um dos motoristas de táxi, revela uma outra forma de admitir a hierarquia social. Ele considera um atrevimento que Fernando tenha, segundo ele soube pelo rádio do carro, exigido a presença do governador Geraldo Alckmin. ?Até o secretário de Segurança já está lá. O que mais ele quer?? Ele concordava com o que ouvira no rádio, que o governador, em visita ao interior, teria dito que não retornaria a São Paulo, para atender à exigência. ?Ele tem mais o que fazer, que negociar com bandido?. Alckmin acabou chegando ao local, perto das duas da tarde, para fechar a negociação da rendição do seqüestrador.

Uma opinião era unânime: ?esse cara tá morto e não por causa do Sílvio, que é gente boa, mas porque ele matou policial?. Para todos, a recusa do seqüestrador em negociar com a polícia civil mostrava que ele também se sentia marcado para morrer. Ninguém manifestou a mais ligeira crítica moral sobre o fato de que estavam reconhecendo a existência de fato da pena de morte no país. Um deles, ao contrário, manifestou concordância: ?se eu fosse policial e matassem um colega meu, eu matava também?. É simples assim, na vida o realismo se impõe. Curioso é que não havia dúvida, também de que a polícia no final ganharia. E mais, todos condenavam o bandido. Para essas pessoas, há mocinhos e bandidos, embora os mocinhos tenham padrões próprios, distantes do padrão moral que se consideraria desejável.

Outra quase unanimidade era a coragem e ousadia – para alguns a loucura – de Fernando em invadir a casa de Sílvio Santos. Para uns, ele fez isto, porque nada tinha a perder e estava desesperado. Para outros, foi para mostrar coragem e que nada o deteria. Apenas uma voz discordante, de uma das secretárias: ?será que ele também não pegou aquela loucura que dá em seqüestro e, no desespero, foi buscar segurança na família da Patrícia? Sem falar na imagem do Sílvio de ajudar as pessoas?. Ela falava da Síndrome de Estocolmo, que às vezes leva a uma ligação, uma identificação do agredido com o agressor. No caso de seqüestros há, realmente, registros de uma ligação de mão-dupla.

Desse rápido sobrevôo por um evento que mobiliza o país e já corre mundo – está em destaque nas edições para a internet dos principais jornais argentinos e na seção sobre o mundo da CNN – recolhe-se um pequeno instantâneo de uma parcela que é específica mas numerosa da gente brasileira. É um retrato sem maquilagem, no qual as pessoas não têm necessariamente a opinião que se presume elas deveriam ter por sua posição na sociedade. Uma gente hiperrealista, que sabe em que mundo vive e tem opiniões claras e firmes sobre o que se passa à sua volta. Não são casos de alienação, têm uma visão articulada de seu mundo. Certamente, haverá aqueles que dirão que se trata de pessoas sem consciência de si. O que eu vi foi o flagrante de brasileiros trabalhadores, com uma noção realista do mundo em que vivem. Gente solidária. O garçon bateu em minha porta na hora em que a TV antecipava o desfecho de tantas horas de tensão e repetiu o repórter: ?acabou?? Parece que sim, respondi. ?Bom, né? Coitado…? concluiu. Brava gente brasileira, capaz de se adaptar a esse mundo, sem qualquer ilusão, exceto a da mobilidade social: ?eu também quero ser rico um dia, ô meu?."

    
    
                     

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