Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Joaquim Ferreira dos Santos

ALTAS HORAS
Joaquim Ferreira dos Santos
"Acorda, garoto!", copyright no. (www.no.com.br), 19/10/00
"Depois do beijo da mulher aranha, depois do beijo da múmia assassina e do beijo-estala-língua da Vera no Giannechini eis que se nos apresenta na Globo, em plena madrugada de domingo, o beijo da câmara-grua. É uma das novidades de Altas Horas, o programa que Serginho ‘Fala Garoto’ Groisman estreou dia 14, depois de um ano na geladeira. Grua, vocês sabem, é aquela câmera que faz tomadas do alto. A do Serginho é portátil, leve, ultimíssima geração, e vem planando pelo céu do estúdio quando de repente, splish-splash, dá um beijo na bochecha de uma daquelas gatinhas deliciosas que cismam em acompanhar o apresentador, 50 anos, mas com um corpinho irretocável de uns, sei lá, 49. Beijo é sempre bom, mas Serginho precisa tomar cuidado: ele tem tanto medo de ser confundido com o tio da Sukita, e ser desprezado por suas ninfetas, que encheu o programa de modernidades às vezes cômicas. Definitivamente não dá mais para, depois de cruzar meio século de existência, o bom Serginho, com uma camisa cor de abóbora que-eu-vou-te-contar, começar o programa abrindo os braços para a grua que se aproxima e, como se um reggaeman fosse, gritar YÔ! a um palmo do tal beijo fatal.
A idéia de Altas Horas é boa: misturar atrações de estúdio com reportagens que dêem uma mirada no que rola pela madrugada. Um grande momento da estréia foi a incursão da trinca de velhinhas da pesada por uma rave paulista. Pândego. Elas acharam que faltava melodia na música, mas estavam de acordo: quando se está a fim de uma balada noturna, qualquer pretexto presta. Ficou ótimo também o presidiário debruçado nas grades da cela numa delegacia, tratado como astro, com uma iluminação de primeira, e guiando-se com monitor e som de retorno para falar com o estúdio. ‘Oi, Rita, seu novo cd está ótimoÂ’, disse o preso para Rita Lee, que estupefata, embora não manifestasse qualquer nostalgia do tempo em que esteve na mesma situação, só teve tempo de boquiabrir-se: ‘Mas já chegou por aí?Â’ Roçou-se rapidamente na questão da superlotação carcerária, mas sem convicção. Não era uma matéria denúncia, apenas uma das cenas mais malucas da semana na tv: um bandido bem articulado tendo tratamento de superstar, com spots e o escambau, enquanto, trancafiado, trocava amenidades com os superstars que estavam na prisão do estúdio. O quadro pareceu dar o tom do Altas Horas: luz clara nos ratos e outros seres que sempre viveram pelas sombras da madrugada. Vem coisa boa por aí.
Serginho só precisa segurar um pouco a castanha (está mais agitado que aqueles bonequinhos do Beavies e Butt-Head), ficar menos deslumbrado com as tecnologias globais (uma menina do auditório manobrou uma câmera pelo laptop!!!???), ter cuidado com as atrações (Rita Lee e Roberto de Carvalho para abrir um programa jovem!!!???) e exigir da Globo o elementar: um horário certo na grade de programação. Depois de deixá-lo tanto tempo longe das sukitinhas queridas, a emissora marcou a estréia para a meia-noite e trinta mas, como faz com o Jô e o Jornal da Globo, não cumpriu. O tal grito inaugural de YÔ! só foi ao ar à uma e meia da madruga. À essa hora os adolescentes estão sacolejando nos forrós ou levando mata-leões nas boates. Altas Horas podia substituir o lamentável Zorra Total e colocar algum veneno anti-monotonia na vida de quem, sábado à noite, tem como opções de diversão televisivas apenas as piadas safadinhas nas redes abertas e louras siliconizadas abrindo o zíper nas fechadas. Só pode ser por isso que o Centro de Valorização da Vida, aquele serviço que recebe telefonemas de pré-candidatos ao suicídio, bate seus recordes nesse horário: o tédio é a verdadeira febre de sábado à noite.
Desde o fim do Perdidos na Noite, o laboratório kamikaze que lançou Faustão nos anos 80 na Band, vive-se a nostalgia de um programa que, aproveitando o sono do ibope, anarquize os paradigmas e experimente outras palavras na televisão. Câmeras novas sozinhas não mudam nada se o papo continua d’antanho. Por enquanto, talvez porque só entre ao vivo a partir do quarto programa, Altas Horas ainda está como o nome do prato que Ivete Sangalo mostrou durante reportagem numa birosca no Mercado Modelo: arrumadinho. Serginho levou ao estúdio, por exemplo, o pai que para salvar o filho viciado entrou junto com ele no mundo das drogas. Não rolou. Por excesso de pudor e talvez medo de acordar dona Marluce com algo mais cru, desperdiçou-se uma grande pauta dramática. Já os três doidos de terno-e-gravata que debateram com o líder homossexual aos gritos de vade-retro acordaram até o ibope. Deu 15 pontos. Parecia um pouco do Homem do Sapato Branco com esquete de chanchada da Atlântida, parecia também o início de um linchamento na contramão do politicamente correto. Foi o melhor da noite. Finalmente um prato desarrumadinho, daqueles que dão insônia, essa palavra mágica para quem faz show de madrugada.
Altas Horas vai longe se botar a grua na rua e iluminar ratos e outros bichos esquisitos da noite; vai longe se tornar mais rápido ainda, quase uma vinheta, as ótimas apresentações dos calouros; e, principalmente, se entender que já são quase três horas da manhã. Não dá para colocar a Sandy e o Júnior, como aconteceu domingo! São fofos, mas dão um bruta sono, coitadinhos. Serginho vai longe se entender que, dado o avançar das horas, é preciso mudar o verbo. No Programa Livre do SBT ele deu voz à galera. Agora o toque é outro. A palavra de ordem agora é ‘Acorda garoto!Â’"

ELEIÇÕES
Ivan Angelo
"O último engodo, na hora da apuração", copyright Jornal da Tarde, 29/10/00
"Acabou. Vamos mudar de assunto. Domingo à noite, já era esse o sentimento do telespectador com relação à política e às eleições. A overdose de quase dois meses fez seus efeitos. Por volta das 20h, todos os eleitos eram conhecidos e as análises que se estenderam pela noite não chegaram a empolgar. No entanto, muitas ajudaram a entender as polarizações, as alianças, as viradas, a valorização da moralidade, em alguns casos a recusa de um discurso radical de direita, o medo do descontrole nas revindicações sociais.
Num dos seus discursos de derrotado, Paulo Maluf agradeceu os 2,3 milhões de votos que conseguiu, o que demonstraria, segundo ele, o seu grande prestígio junto à população. Ora, se ele centrou sua campanha do segundo turno na satanização do PT e se conseguiu sua votação com base nesse discurso, não pode dizer agora que esses 41,49% dos votos são a medida do seu prestígio.
Seria a mesma coisa dizer agora que o PT tem 58,51% dos votos em São Paulo.
Poder-se-ia fazer o inverso: dizer que a votação de cada um no segundo turno reflete mais o ponto máximo da rejeição ao outro. O telespectador que acompanhou as análises feitas na Band e na Record não caiu no engodo do argumento de Maluf: o seu prestígio é exatamente aquele do primeiro turno, 17% dos votos dos paulistanos.
Deboche
Na hora do quadro da banheira, Gugu, proibido pela Justiça de apresentá-lo, optou pelo deboche. Na primeira parte do protesto, convidou uma trupe ridícula composta por um advogado, uma delegada de polícia carioca, um radialista e um cantor, para alertar contra a ameaça de instauração da censura no País, segundo eles iniciada com a proibição da edificante banheira. A fala da delegada mostra o nível da argumentação: se num momento da disputa na banheira aparece um seio, e se isso incomoda ‘a censuraÂ’, seria o caso de também se proibirem cenas de uma mãe amamentando e de matéria sobre câncer de mama, porque aí também se exibe o seio da mulher.
Não é uma jóia do pensamento?
O cantor Aguinaldo Timóteo, acusando a Globo de estar por trás da proibição, exibiu uma página dupla de propaganda do SBT em jornal, a qual mostra a liderança de audiência dessa emissora em alguns horários, destacando o Gugu da banheira. Aí o cantor salientou a ‘coincidênciaÂ’ de a liminar ter sido pedida justamente no dia da publicação daquela propaganda. Escancarando ainda mais a acusação, pediu para mostrar um vídeo de uma novela gravada na véspera, justamente de Uga Uga, da acusada Rede Globo. Teve bundinha de mulher, de homem, meia dúzia de peitos, strip, tortura – e uma voz dizia ao fundo para a Justiça dar uma olhada.
Aí aconteceu algo esquisito, Gugu disse que sairia para ‘atender a direção da emissoraÂ’, e entrou Silvio Santos vendendo sua Tele-Sena e distribuindo algumas para seu auditório. Quando voltaram as imagens para o Gugu, a ridícula trupe de defensores da banheira havia sumido, sem explicações.
Alguma coisa aconteceu lá nos bastidores. Na segunda parte do protesto de Gugu veio o deboche: alguns palhaços cantando dentro da banheira (letra dizendo ‘sem bundinha, se ligue, é ruim pra carambaÂ’ e também ‘mostrar o bumbumzinho? Nem um pouquinho/Justiça diz nãoÂ’), enquanto as ajudantes de palco sacudiam seus equipamentos, secos, mas igualmente à mostra. É assim que se acatam as determinações da Justiça na televisão.
Novelas
A nostalgia apresentada no sábado pela Rede Globo, na série TV 50 Anos, ficou nisso: uma nostalgia. Não passou de um desfile de velhas atrações, com um levantamento realmente extenso. Novelas, quando apresentadas em trechinhos curtos, são charmosas e atraentes, principalmente porque os atores destacados são excelentes. Duro, para os não aficionados, é agüentar o dia-a-dia de um folhetim, o arrastar-se lento da trama, com truques que se repetem há muitas décadas. Tivemos os beijos, as grandes duplas amorosas, os autores, os casais que passaram da tela para a vida real, o desfile dos que já morreram (o telespectador se espanta com alguns que desapareceram tão discretamente que ele nem percebeu), apresentado ao som de Unforgettable, com Nat King Cole e a filha. Teve muita gente falando a favor das telenovelas, mas não houve discussão. Se teve defesa, é porque há ataques. Não entraram, não interessava. A intenção da série da Globo é apenas fazer nostalgia."

BANHEIRA DO GUGU
O Globo

QUALIDADE NA TV

ALTAS HORAS

"Acorda, garoto!", copyright no. (www.no.com.br), 19/10/00

"Depois do beijo da mulher aranha, depois do beijo da múmia assassina e do beijo-estala-língua da Vera no Giannechini eis que se nos apresenta na Globo, em plena madrugada de domingo, o beijo da câmara-grua. É uma das novidades de Altas Horas, o programa que Serginho ‘Fala Garoto’ Groisman estreou dia 14, depois de um ano na geladeira. Grua, vocês sabem, é aquela câmera que faz tomadas do alto. A do Serginho é portátil, leve, ultimíssima geração, e vem planando pelo céu do estúdio quando de repente, splish-splash, dá um beijo na bochecha de uma daquelas gatinhas deliciosas que cismam em acompanhar o apresentador, 50 anos, mas com um corpinho irretocável de uns, sei lá, 49. Beijo é sempre bom, mas Serginho precisa tomar cuidado: ele tem tanto medo de ser confundido com o tio da Sukita, e ser desprezado por suas ninfetas, que encheu o programa de modernidades às vezes cômicas. Definitivamente não dá mais para, depois de cruzar meio século de existência, o bom Serginho, com uma camisa cor de abóbora que-eu-vou-te-contar, começar o programa abrindo os braços para a grua que se aproxima e, como se um reggaeman fosse, gritar YÔ! a um palmo do tal beijo fatal.

A idéia de Altas Horas é boa: misturar atrações de estúdio com reportagens que dêem uma mirada no que rola pela madrugada. Um grande momento da estréia foi a incursão da trinca de velhinhas da pesada por uma rave paulista. Pândego. Elas acharam que faltava melodia na música, mas estavam de acordo: quando se está a fim de uma balada noturna, qualquer pretexto presta. Ficou ótimo também o presidiário debruçado nas grades da cela numa delegacia, tratado como astro, com uma iluminação de primeira, e guiando-se com monitor e som de retorno para falar com o estúdio. ‘Oi, Rita, seu novo cd está ótimo’, disse o preso para Rita Lee, que estupefata, embora não manifestasse qualquer nostalgia do tempo em que esteve na mesma situação, só teve tempo de boquiabrir-se: ‘Mas já chegou por aí?’ Roçou-se rapidamente na questão da superlotação carcerária, mas sem convicção. Não era uma matéria denúncia, apenas uma das cenas mais malucas da semana na tv: um bandido bem articulado tendo tratamento de superstar, com spots e o escambau, enquanto, trancafiado, trocava amenidades com os superstars que estavam na prisão do estúdio. O quadro pareceu dar o tom do Altas Horas: luz clara nos ratos e outros seres que sempre viveram pelas sombras da madrugada. Vem coisa boa por aí.

Serginho só precisa segurar um pouco a castanha (está mais agitado que aqueles bonequinhos do Beavies e Butt-Head), ficar menos deslumbrado com as tecnologias globais (uma menina do auditório manobrou uma câmera pelo laptop!!!???), ter cuidado com as atrações (Rita Lee e Roberto de Carvalho para abrir um programa jovem!!!???) e exigir da Globo o elementar: um horário certo na grade de programação. Depois de deixá-lo tanto tempo longe das sukitinhas queridas, a emissora marcou a estréia para a meia-noite e trinta mas, como faz com o Jô e o Jornal da Globo, não cumpriu. O tal grito inaugural de YÔ! só foi ao ar à uma e meia da madruga. À essa hora os adolescentes estão sacolejando nos forrós ou levando mata-leões nas boates. Altas Horas podia substituir o lamentável Zorra Total e colocar algum veneno anti-monotonia na vida de quem, sábado à noite, tem como opções de diversão televisivas apenas as piadas safadinhas nas redes abertas e louras siliconizadas abrindo o zíper nas fechadas. Só pode ser por isso que o Centro de Valorização da Vida, aquele serviço que recebe telefonemas de pré-candidatos ao suicídio, bate seus recordes nesse horário: o tédio é a verdadeira febre de sábado à noite.

Desde o fim do Perdidos na Noite, o laboratório kamikaze que lançou Faustão nos anos 80 na Band, vive-se a nostalgia de um programa que, aproveitando o sono do ibope, anarquize os paradigmas e experimente outras palavras na televisão. Câmeras novas sozinhas não mudam nada se o papo continua d’antanho. Por enquanto, talvez porque só entre ao vivo a partir do quarto programa, Altas Horas ainda está como o nome do prato que Ivete Sangalo mostrou durante reportagem numa birosca no Mercado Modelo: arrumadinho. Serginho levou ao estúdio, por exemplo, o pai que para salvar o filho viciado entrou junto com ele no mundo das drogas. Não rolou. Por excesso de pudor e talvez medo de acordar dona Marluce com algo mais cru, desperdiçou-se uma grande pauta dramática. Já os três doidos de terno-e-gravata que debateram com o líder homossexual aos gritos de vade-retro acordaram até o ibope. Deu 15 pontos. Parecia um pouco do Homem do Sapato Branco com esquete de chanchada da Atlântida, parecia também o início de um linchamento na contramão do politicamente correto. Foi o melhor da noite. Finalmente um prato desarrumadinho, daqueles que dão insônia, essa palavra mágica para quem faz show de madrugada.

Altas Horas vai longe se botar a grua na rua e iluminar ratos e outros bichos esquisitos da noite; vai longe se tornar mais rápido ainda, quase uma vinheta, as ótimas apresentações dos calouros; e, principalmente, se entender que já são quase três horas da manhã. Não dá para colocar a Sandy e o Júnior, como aconteceu domingo! São fofos, mas dão um bruta sono, coitadinhos. Serginho vai longe se entender que, dado o avançar das horas, é preciso mudar o verbo. No Programa Livre do SBT ele deu voz à galera. Agora o toque é outro. A palavra de ordem agora é ‘Acorda garoto!’"

ELEIÇÕES

"O último engodo, na hora da apuração", copyright Jornal da Tarde, 29/10/00

"Acabou. Vamos mudar de assunto. Domingo à noite, já era esse o sentimento do telespectador com relação à política e às eleições. A overdose de quase dois meses fez seus efeitos. Por volta das 20h, todos os eleitos eram conhecidos e as análises que se estenderam pela noite não chegaram a empolgar. No entanto, muitas ajudaram a entender as polarizações, as alianças, as viradas, a valorização da moralidade, em alguns casos a recusa de um discurso radical de direita, o medo do descontrole nas revindicações sociais.

Num dos seus discursos de derrotado, Paulo Maluf agradeceu os 2,3 milhões de votos que conseguiu, o que demonstraria, segundo ele, o seu grande prestígio junto à população. Ora, se ele centrou sua campanha do segundo turno na satanização do PT e se conseguiu sua votação com base nesse discurso, não pode dizer agora que esses 41,49% dos votos são a medida do seu prestígio.

Seria a mesma coisa dizer agora que o PT tem 58,51% dos votos em São Paulo.

Poder-se-ia fazer o inverso: dizer que a votação de cada um no segundo turno reflete mais o ponto máximo da rejeição ao outro. O telespectador que acompanhou as análises feitas na Band e na Record não caiu no engodo do argumento de Maluf: o seu prestígio é exatamente aquele do primeiro turno, 17% dos votos dos paulistanos.

Deboche

Na hora do quadro da banheira, Gugu, proibido pela Justiça de apresentá-lo, optou pelo deboche. Na primeira parte do protesto, convidou uma trupe ridícula composta por um advogado, uma delegada de polícia carioca, um radialista e um cantor, para alertar contra a ameaça de instauração da censura no País, segundo eles iniciada com a proibição da edificante banheira. A fala da delegada mostra o nível da argumentação: se num momento da disputa na banheira aparece um seio, e se isso incomoda ‘a censura’, seria o caso de também se proibirem cenas de uma mãe amamentando e de matéria sobre câncer de mama, porque aí também se exibe o seio da mulher.

Não é uma jóia do pensamento?

O cantor Aguinaldo Timóteo, acusando a Globo de estar por trás da proibição, exibiu uma página dupla de propaganda do SBT em jornal, a qual mostra a liderança de audiência dessa emissora em alguns horários, destacando o Gugu da banheira. Aí o cantor salientou a ‘coincidência’ de a liminar ter sido pedida justamente no dia da publicação daquela propaganda. Escancarando ainda mais a acusação, pediu para mostrar um vídeo de uma novela gravada na véspera, justamente de Uga Uga, da acusada Rede Globo. Teve bundinha de mulher, de homem, meia dúzia de peitos, strip, tortura – e uma voz dizia ao fundo para a Justiça dar uma olhada.

Aí aconteceu algo esquisito, Gugu disse que sairia para ‘atender a direção da emissora’, e entrou Silvio Santos vendendo sua Tele-Sena e distribuindo algumas para seu auditório. Quando voltaram as imagens para o Gugu, a ridícula trupe de defensores da banheira havia sumido, sem explicações.

Alguma coisa aconteceu lá nos bastidores. Na segunda parte do protesto de Gugu veio o deboche: alguns palhaços cantando dentro da banheira (letra dizendo ‘sem bundinha, se ligue, é ruim pra caramba’ e também ‘mostrar o bumbumzinho? Nem um pouquinho/Justiça diz não’), enquanto as ajudantes de palco sacudiam seus equipamentos, secos, mas igualmente à mostra. É assim que se acatam as determinações da Justiça na televisão.

Novelas

A nostalgia apresentada no sábado pela Rede Globo, na série TV 50 Anos, ficou nisso: uma nostalgia. Não passou de um desfile de velhas atrações, com um levantamento realmente extenso. Novelas, quando apresentadas em trechinhos curtos, são charmosas e atraentes, principalmente porque os atores destacados são excelentes. Duro, para os não aficionados, é agüentar o dia-a-dia de um folhetim, o arrastar-se lento da trama, com truques que se repetem há muitas décadas. Tivemos os beijos, as grandes duplas amorosas, os autores, os casais que passaram da tela para a vida real, o desfile dos que já morreram (o telespectador se espanta com alguns que desapareceram tão discretamente que ele nem percebeu), apresentado ao som de Unforgettable, com Nat King Cole e a filha. Teve muita gente falando a favor das telenovelas, mas não houve discussão. Se teve defesa, é porque há ataques. Não entraram, não interessava. A intenção da série da Globo é apenas fazer nostalgia."

BANHEIRA DO GUGU

"Portaria sobre ‘Banheira do Gugu’ pode ser mudada", copyright O Globo, 2/22/00

"O Ministério da Justiça está disposto a mudar a portaria que classificou a Banheira do Gugu, quadro do programa ‘Domingo Legal’, do SBT, como imprópria para ser exibida antes das 21h. Segundo um auxiliar do ministro José Gregori, a classificação pode ser abrandada para que o quadro seja exibido a partir das 20h. A equipe de Gregori se dispôs a rever a portaria depois de ser informada que o programa, exibido aos domingos, termina por volta das 21h.

Para mudar a portaria, porém, terá de haver um recurso ao departamento responsável pela classificação. Gregori foi duramente criticado por convidados do ‘Domingo Legal’, no último domingo, e considerou algumas declarações desrespeitosas não apenas a ele, mas ao cargo que ocupa."

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