Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

José Geraldo Couto

‘‘‘Vlado – 30 Anos Depois’, sobre a vida e a morte do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), é um filme que precisava ser feito, e João Batista de Andrade (diretor, entre outros, de ‘Doramundo’ e ‘O Homem que Virou Suco’) era o homem certo para fazê-lo.


Amigo pessoal, companheiro político e colega de trabalho de Herzog, Batista talvez tenha demorado tanto tempo para dar cabo da tarefa justamente por estar demasiado envolvido com o tema. Trinta anos depois, consegue, se não distanciamento, pelo menos certa serenidade -não isenta de afeto e indignação- para encarar os fatos.


Como todo mundo sabe, Vladimir Herzog, que trabalhava então na TV Cultura, foi preso, torturado e morto nas dependências do DOI-Codi, o mais temido órgão da repressão política, em outubro de 1975. Sua morte -que o 2º Exército tentou canhestramente apresentar como suicídio- chocou a nação, acentuou as fissuras internas do regime militar e impulsionou o movimento pela democratização do país.


Como todo mundo sabe, eu escrevi? Não é bem assim. Logo no início do documentário, João Batista de Andrade entrevista transeuntes na praça da Sé, perguntando-lhes o que sabem sobre Herzog. A maioria não sabe nada. Um homem de seus 50 anos diz, absurdamente, que a ditadura não é do seu tempo, mas que, na sua opinião, ‘deveria voltar’.


Essa frase, registrada de passagem no burburinho da metrópole, seria suficiente para justificar a realização de ‘Vlado’.


Depois desse prólogo mais ‘pessoal’, o documentário segue uma estrutura bastante convencional: letreiros e narração em ‘off’ costuram uma colagem de depoimentos de ex-companheiros do retratado, entremeados de poucas imagens de arquivo.


As mais contundentes são do culto ecumênico celebrado em 1975 na Sé, pelo arcebispo dom Paulo Evaristo Arns e pelo rabino Henry Sobel, entre outros líderes religiosos.


O painel assim formado reconstitui de modo bastante vivo tanto o drama pessoal de Herzog como o tenso contexto político da época. No entanto, algumas lacunas persistem, talvez pelo pudor do cineasta em escavar fundo em certas feridas.


Exemplo: não fica clara a verdadeira relação de Herzog com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Os depoimentos de alguns entrevistados (como Paulo Markun e Rodolfo Konder), presos no mesmo DOI-Codi, sugerem que ele era militante do ‘Partidão’, devastado na época pelos órgãos de repressão, apesar de não adotar a luta armada. Mas a viúva Clarice Herzog dá a entender que não. Ser ou não do partido não muda em nada a barbárie do assassinato, mas o espectador tem direito à informação inteira.


Uma vereda que poderia ser mais bem explorada é a investigação que o próprio Batista realiza nos arquivos policiais, em busca das fichas referentes a Herzog. Outra coisa: onde anda, se é que ainda vive, o jornalista Claudio Marques, que em sua coluna no ‘Shopping News’ atiçou os militares contra o suposto ‘antro comunista’ da TV Cultura?


Mesmo sem responder a essas questões, ‘Vlado’ é um filme pungente e necessário.’




Folha de S.Paulo


‘‘ ‘Dossiê Herzog’, de 1979, ganha nova edição’, copyright Folha de S. Paulo, 30/9/05


‘A editora Global está lançando agora versão revisada de ‘Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte no Brasil’, do jornalista Fernando Pacheco Jordão. O livro foi publicado originalmente em 1979, ainda durante o regime militar.


Pacheco Jordão era diretor cultural do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando Herzog morreu, em 25 de outubro de 1975. Foi seu colega em vários veículos e também era seu amigo.


No livro, resultado de três anos de pesquisa, ele reúne documentação sobre os acontecimentos ligados à morte de Herzog (autos do IPM, autos da ação cível da família Herzog contra a União, arquivo de jornais e outros documentos) e registra depoimentos.


O jornalista e escritor Zuenir Ventura, que foi um dos inspiradores da publicação na década de 70, aponta em texto de apresentação desta nova edição que a obra revela ‘a atmosfera sufocante da época’.’




Luiz Zanin Oricchio


‘A memória de um crime político’, copyright O Estado de São Paulo, 30/9/05


‘Num sábado, 25 de outubro de 1975, o jornalista da TV Cultura Vladimir Herzog foi ‘convidado’ a se apresentar ao DOI-Codi, o órgão de repressão do II Exército situado na Rua Thomaz Carvalhal. Sabia-se que ali se praticava a tortura como método para extrair informações de presos políticos e assim Vlado, como era conhecido, poderia ter fugido. Não o fez. Foi depor. No fim do dia estava morto. A versão oficial dizia que o preso tinha se suicidado. No laudo médico, a foto de Vlado enforcado com o cinto fixado num ponto da cela inferior à sua altura.


Essa história trágica é que o cineasta João Batista de Andrade, atual Secretário de Estado da Cultura de São Paulo, relembra no filme que entra em cartaz hoje nos cinemas. ‘Era uma história que eu já deveria ter contado há mais tempo’, diz João Batista, que na época era amigo pessoal e colega de trabalho de Herzog. História construída através de depoimentos de outros amigos e colegas de Vlado – entre eles Fernando Morais e Paulo Markun, além do cardeal dom Paulo Evaristo Arns e do rabino Henry Sobel, promotores do culto ecumênico em memória de Herzog que, dias depois de sua morte, reuniu milhares de pessoas na Catedral da Sé, em silencioso desafio ao regime militar.


Batista consegue imagens inéditas do culto na Sé, cenas que fazem parte de um filme entregue em sua casa há pouco tempo por uma pessoa desconhecida. São imagens ótimas, límpidas, de excelente qualidade, mostrando a multidão em frente da igreja e os oradores, quase captando o clima de tensão que havia no ar. Sim, porque as pessoas sabiam que se dirigir à catedral naquela ocasião era um ato de civismo, mas também de risco físico.


Mas o mais impressionante são mesmo os depoimentos das pessoas que estiveram presas no DOI-Codi e foram vítimas das atrocidades da época: o capuz negro sobre a cabeça, os choques elétricos, as pancadas, os gritos ouvidos na cela – tudo isso é lembrado com emoção contida. O horror da tortura, em suma, era o emblema maior de uma época negra da história brasileira. ‘Uma época para não ser esquecida’, segundo o cineasta. João Batista acha que ainda há muito pouca documentação sobre essa fase da ditadura brasileira. E ele acha que isso talvez tenha a ver com a maneira como se deu a transição para a democracia no Brasil. ‘Basta comparar com o que aconteceu na Argentina, onde a recuperação da história dos anos negros é muito mais intensa’, diz.


De fato, o caráter conciliatório da transição brasileira, aliado a um certo desinteresse pela história recente do País, tem empobrecido o debate sobre aquele período. Livros e filmes têm aparecido sobre a época, mas concentrados mais sobre a luta armada. Vlado tem outro caráter, que João Batista procura destacar: a resistência não armada ao regime, a recusa da clandestinidade, atitude que, inclusive, teria sido fatal para Herzog.


Como documentário, Vlado – 30 Anos depois não poderia ser mais singelo. Todo gravado em digital, começa e termina na Praça da Sé, local do culto e também posto simbólico desse ato político de reencontro com a memória. Batista entrevista alguns dos principais envolvidos na história, com exceção de algumas pessoas que não quiseram falar, entre elas o então governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins. ‘Procurei ser simples, era a reconstrução de uma fase da história que eu buscava colocar na tela’, diz o cineasta.


O filme parece muito comovente para quem viveu os acontecimentos. Não se sabe se terá o mesmo impacto sobre os mais jovens, que eram crianças ou nem nascidos na época. Talvez seja insuficiente na recriação daquele ambiente sufocante. Pode ser que a triste experiência de viver sob uma ditadura seja mesmo intransferível de uma geração para outra.’




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‘‘Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama’’, copyright O Estado de São Paulo, 30/9/05


‘Um dos depoentes do filme diz que o problema é que havia dois elefantes brigando. ‘Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama. A grama éramos nós.’ Quem eram esses ‘elefantes’ e por que brigavam ?


Por um lado, havia a ala comandada por Geisel e Golbery do Couto e Silva, com o projeto de abertura ‘lenta, gradual e segura’. Por outro, o pessoal da linha-dura, que desejava a continuação indefinida do regime de exceção, e cujo nome da vez era o então ministro do Exército, Sylvio Frota, tido como provável sucessor de Geisel. Para todos efeitos, quando se dirigia ao ‘público externo’, o governo e as Forças Armadas falavam de união em torno de um mesmo objetivo. Na verdade, havia uma luta surda e mortal no interior do regime.


Em seu A Ditadura Encurralada, Elio Gaspari comenta a situação de Herzog naquele momento: ‘Para esse homem tímido e miúdo confluíam três crises, todas carregadas de ódio. Uma era o choque da Comunidade com Geisel. Outra a caçada do CIE ao Partidão. A terceira, mais virulenta, era o conflito do general Ednardo com o governador Paulo Egydio Martins. A prisão de Vlado Herzog servia a todas.’


Vlado morreu num sábado. A ditadura queria enterrá-lo no domingo. A viúva, Clarice, adiou o enterro para segunda-feira e assim prolongou a crise. O culto ecumênico foi marcado para a sexta-feira seguinte e desse modo a nação e o governo viveram esse enfrentamento silencioso durante toda a semana. Naquela sexta, naquela praça, o regime começava a declinar.’




BALTASAR GARZÓN
Leila Suwwan


‘Juiz espanhol é criticado por pena a repórter’, copyright Folha de S. Paulo, 30/9/05


‘Pego de surpresa por críticas contundentes de representantes da CNN e da Al Jazira enquanto assistia a um seminário, o juiz espanhol Baltasar Garzón foi constrangido anteontem na Universidade de Nova York a dar explicações sobre a condenação do correspondente da Al Jazira em Madri a sete anos de prisão por envolvimento com a Al Qaeda.


O réu condenado, Taysir Alouni, entrevistou Osama Bin Laden, em Cabul, cinco semanas depois do 11 de Setembro.


‘Nem sequer leram a sentença’, disse Garzón à Folha. ‘Ele seria preso antes mesmo de ir ao Afeganistão em 2001. O delito foi anterior.’ O jornalista foi condenado pelo crime de colaboração com organização terrorista. Segundo Garzón, ficou provado que ele angariou fundos em Granada e entregou o dinheiro em um campo de treinamento afegão.


Mas, segundo o analista de terrorismo da CNN, Peter Bergen, não existiam bancos no Afeganistão. ‘A única forma de enviar dinheiro é levando em mãos. É um precedente extremamente ruim para todos que já entrevistaram o Bin Laden’, disse ele.


Yosri Fouda, chefe da Al Jazira em Londres, disse que ‘a militar que torturou prisioneiros em Abu Ghraib pega três anos, e um jornalista suspeito de ter uma inclinação ideológica pega sete’. Garzón contestou esses argumentos.’




ALEMANHA
Dave Graham


‘Campanha procura reanimar alemães’, copyright Folha de S. Paulo, 30/9/05


‘De onde podem tirar inspiração os alemães, confrontados com a dura realidade da vida moderna? Uma campanha quer injetar novo ânimo na psique nacional e, para isso, está recorrendo a Einstein, Beethoven, Goethe e até a uma rede de lojas com produtos sexuais.


A mídia alemã se uniu numa campanha publicitária maciça intitulada ‘Você é a Alemanha’, que procura fazer a população recordar o que fez da Alemanha um grande país.


O organizador da campanha, Bernd Bauer, disse que, com o clima generalizado de desesperança -em meio ao desemprego crescente, ao crescimento econômico fraco, ao impasse político e até mesmo à revelação de que juízes de futebol andaram aceitando suborno-, é urgente despertar para a ação o maior número possível de pessoas. ‘Já mergulhamos até o fundo do poço. E achamos que essa seria uma ótima maneira de sairmos dele’, afirmou Bauer.


Anúncios de página dupla nos jornais exortam os leitores a se enxergarem como sucessores dos famosos filhos e filhas da Alemanha, que abrangem desde gênios da ciência -’Você é Albert Einstein’- até pilotos da F-1, como Michael Schumacher, ou empresários empreendedores como Beate Uhse.


Ela, depois de pilotar aviões na Segunda Guerra Mundial, ergueu um enorme império comercial, vendendo pelo correio acessórios sexuais e instalando uma rede de sex shops em 13 países.


Celebridades e alemães comuns ficam lado a lado nos comerciais de TV criados para o projeto, que vem tendo exposição enorme e conta com o patrocínio de 25 grandes editoras e empresas de mídia.


Uma das personalidades usadas na campanha para inspirar os alemães é Ludwig Erhard, o economista que é visto como arquiteto do milagre econômico do pós-guerra, um período em que o crescimento alemão era invejado em toda a Europa.


Bauer disse que a campanha deveria ter começado antes, durante o verão alemão, mas foi adiada em razão das eleições legislativas antecipadas de 18 de setembro último.’