Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Keila Jimenez


CASO ABRAVANEL

"Noticiar ou não. A polêmica volta à imprensa", copyright O Estado de S. Paulo, 29/08/01

"O seqüestro de Patrícia Abravanel reavivou um antigo dilema ético da imprensa: se a divulgação de tais casos pode ou não pôr as vítimas em risco.

Em São Paulo, poucos foram os meios de comunicação que não respeitaram o pedido de silêncio feito por Silvio Santos. Os jornais paulistas, em sua maioria, assumiram o compromisso de não divulgar o caso até que ele fosse resolvido ou a família da vítima liberasse as informações.

Na TV, o voto de silêncio foi quebrado apenas pela Rede Globo. O grupo adotou a mesma conduta em rádios, na Internet e em jornais. Logo após o seqüestro, a emissora dos Marinhos levou ao ar plantões sobre o caso, com transmissão direta da porta da casa do empresário. A primeira edição do noticiário SPTV de terça-feira chegou a anunciar insistentemente o endereço de Silvio. A mesma conduta foi adotada pelo Jornal Nacional e pelos noticiários da Globonews, canal pago do grupo Globo.

Em defesa de sua atitude, a emissora explicou que tem como norma não deixar de divulgar nenhum crime de que tenha tomado conhecimento. ?A experiência mostra que a divulgação nunca coloca em risco a vítima e contribui para a elucidação do crime?, argumentou o diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger.

Apelo – Mesmo assim, a direção do SBT insistia no apelo pelo silêncio. ?Estamos pedindo, encarecidamente, que a imprensa não noticie nada ainda, até que a libertação de Patrícia esteja garantida?, disse o presidente do Grupo Silvio Santos, Luis Sandoval, na manhã do dia do seqüestro. ?Estão acontecendo negociações e temos de ter cuidado num momento como esse. Qualquer reportagem pode ser prejudicial agora. Ao que parece, todas as redes TV estão respeitando isso, menos a Globo, por motivos óbvios.

Eles nunca respeitam.?

Na Record, tanto TV quanto rádio, a ordem foi apurar o caso, mas ?não abrir a boca até o seqüestro acabar?. Segundo o chefe de reportagem da emissora, Daniel Evangelista, o canal evita divulgar seqüestros que não foram solucionados por uma questão de ética. ?Faz parte da política da emissora não noticiar casos como esse antes que eles tenham uma solução, é arriscar demais desnecessariamente?, disse Evangelista. ?Ainda mais quando recebemos um pedido da polícia ou da família da vítima, como aconteceu.?

A mesma conduta foi adotada pela TV e pela Rádio Bandeirantes e pela Cultura. As emissoras disseram que não costumam noticiar seqüestros em andamento para preservar a segurança da vítima. Por meio de suas assessorias, informaram que, tão logo o caso chegasse ao fim, noticiariam tudo o que foi apurado por suas equipes.

O pedido do dono do SBT também sensibilizou a TV Gazeta, a RedeTV! e portais de Internet. Alguns dos portais, como o iG e o Cidade Internet, noticiaram o caso de imediato, mas logo em seguida retiraram a notícia de seus boletins informativos.

Falha – ?A notícia entrou no boletim Último Segundo, do iG, por uma falha. Temos parceiros que mandam informações que entram direto no site, e foi o que aconteceu?, disse a redatora-chefe do Último Segundo, Carolina Chagas. ?A nota sobre o seqüestro veio do jornal carioca O Dia, nosso parceiro, e, quando percebemos, já estava no site.

Nossa intenção sempre foi a de respeitar o pedido da família da vítima, tanto que tiramos a notícia do site em menos de meia hora.?"

 

"Deus é Abravanel!", copyright No. (www.no.com.br), 29/08/01

"Fosse no Show do Milhão, melhor seria pular a pergunta sobre as circunstâncias em que Patrícia Abravanel se livrou do cativeiro em São Paulo! Como a versão dos seqüestradores ainda não é conhecida, restariam as alternativas do pagamento do resgate (sustentada pela polícia), da eficiente atuação da polícia (elogiada pela família) e do poder libertador de Deus (evocado pela vítima)! Seria muito arriscado, no caso, pedir ajuda aos universitários ou às placas! Melhor pular!

Mas a imprensa, pelo visto na tarde de terça-feira, não conhece muito bem as regras desse jogo! Teve jornalista pulando feito louco para alcançar o que Patrícia Abravanel dizia a respeito de seu cativeiro na sacada do segundo andar da mansão dos Abravanel, no Morumbi! Como evangélico alegre é tudo igual – seja ele vítima de seqüestro em São Paulo ou governador no Rio de Janeiro – a cena logo se transformou num misto de culto religioso e programa de auditório! Lá em cima, Patrícia pregava Deus como um daqueles pastores da Rede Record! Lá embaixo, os jornalistas se comportavam como as ?colegas de trabalho? de Silvio Santos durante o quadro ?vocês querem dinheiro??!

Só não saiu briga no andar térreo porque Deus não quis! Cada pergunta era um berro sobre a vida no cativeiro, o convívio com os seqüestradores ou a vida daqui pra frente! As melhores respostas foram: ?Deus é poderoso, meu!?, ?Deus está em mim!?, ?É impossível viver sem Deus? e ?ponham Deus em vocês também? – não necessariamente nessa ordem! O sorriso que vinha de cima era desconcertante para quem, lá embaixo, tentava apurar o sofrimento da seqüestrada!

Patrícia Abravanel foi bem tratada, tinha um quarto só para ela numa boa casa, assistia à Rede Gospel na TV, lia a Bíblia e chegou a jogar cartas com seus seqüestradores! ?Quem ganhou o jogo?!? – quis saber um jornalista, apostando que alguma coisa ela deve ter perdido nos sete dias que passou no cativeiro! Não houve tempo para resposta! A pergunta coincidiu com a chegada de Silvio Santos à sacada! Raraaaai!

É com você Silviô: ?Se eu soubesse que ela ia voltar tão bem assim, teria pedido aos seqüestradores que ficassem mais tempo com ela!? Nunca tinha visto a filha feliz daquele jeito! ?Ponha Deus em você também, pai!? – sugeriu Patrícia! Se a cena for ao ar no programa do Gugu, no domingo, mata de vez o Faustão!

Momentos após o Show da Sacada, a polícia apresentou à imprensa dois dos seqüestradores de Patrícia Abravanel! Como chegou a eles? Deus, decerto, os dedurou!"

    
    
                     

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