Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Luiz Fernando Vianna


‘Somando seu talento à época em que viveu (1843-1923), Marc Ferrez teve a chance de ser o fotógrafo de diferentes Brasis: o ainda rural e o cada vez mais urbano; o das gentes pobres do interior e o das gentes pobres das cidades em crescimento; o imperial, em que a maior parte dos fatos se dava na esfera privada, e o republicano, quando começou a existir, justificando o nome do regime, uma esfera pública.


É esse país em movimento que se contempla nas 300 fotos de ‘O Brasil de Marc Ferrez’, exposição que abre hoje para convidados e amanhã para o público no Instituto Moreira Salles, no Rio -não há data para a mostra chegar a São Paulo. É o maior conjunto já exposto de registros feitos por um dos maiores fotógrafos brasileiros, carioca filho de franceses.


A exposição abre uma semana depois de ter sido descoberto o sumiço de fotos de Marc Ferrez do setor de iconografia da Biblioteca Nacional. A situação desvela uma triste situação: fotos deixadas pelo imperador d. Pedro 2º para a biblioteca sumiram por causa da inépcia dos responsáveis pela instituição pública; fotos guardadas pela família de Ferrez foram compradas por um instituto privado e estão a salvo.


‘Compramos em 1998 a coleção Gilberto Ferrez [neto de Marc] e ainda adquirimos fotos de outras coleções particulares. Temos, certamente, o maior conjunto de fotos de Marc Ferrez que existe. Essa exposição é apenas uma fração do que se pode fazer com esse material impressionante’, afirma Antonio Fernando De Franceschi, superintendente do IMS e curador, ao lado de Sergio Burgi.


Ele afirma que não há possibilidade de haver duplicidade entre as imagens sumidas da biblioteca e as que são do IMS, já que há conjuntos diferentes de originais.


Para ‘O Brasil de Marc Ferrez’, Franceschi diz que não tentou fazer uma seleção ao estilo ‘o melhor de’. A tarefa seria quase irrealizável, já que o IMS tem 5.500 fotos de Ferrez -4.000 negativos originais de vidro. ‘Procuramos fazer um recorte amplo e variado, que atravessasse de modo diagonal a obra. Há uma diversidade de temas, estilos e épocas.’


Há desde fotos do início da carreira de Ferrez, nos anos 1860, quando a pesada aparelhagem precisava ser carregada em lombo de mula, até imagens posteriores a 1915, quando ele já usava, pioneiramente, a técnica do autocromo -fotos coloridas, já feitas por máquinas portáteis.


‘Ao acompanhar a trajetória de Ferrez, também acompanhamos as inovações tecnológicas que surgiam década a década, e as transformações estéticas que elas proporcionavam’, diz o curador.


Se nos primórdios era impossível, por exemplo, captar a instantaneidade de fenômenos como a água caindo de uma cachoeira, com o tempo Ferrez foi tendo condições de se tornar o maior fotógrafo das paisagens brasileiras.


‘Ele registrou, na década de 1880, um momento de harmonia suprema na história da baía de Guanabara, quando ainda havia equilíbrio entre o natural e o construído. Depois, no início do século 20, acompanhou a chegada da modernidade ao Rio, fotografando toda a obra da avenida Central’, diz Franceschi, referindo-se à atual avenida Rio Branco, inaugurada em 1905 como símbolo maior das reformas feitas por Pereira Passos, inspiradas em Paris.


Na Marinha Imperial e na Comissão Geográfica e Geológica do Império, Ferrez pôde percorrer o país, fotografando campos, estradas de ferro e cidades.


Mesmo tendo se consagrado como um paisagista, Ferrez também foi um exímio retratista. Fotografou índios no Mato Grosso e outros personagens do interior. No Rio, enquadrou mascates, amoladores de facas, costureiras e trabalhadores de rua, além de figuras públicas como Machado de Assis.


Um catálogo está sendo lançado com a exposição. O museu Carnavalet, em Paris, abre mostra de Ferrez em 20 de setembro.’



RÁDIO


Laura Mattos


‘Marlene Mattos troca TV pelo rádio ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/07/05


‘Fora da TV desde a demissão da Band, em outubro de 2004, Marlene Mattos migrará para o dial. Inicia a nova fase da carreira na rádio Globo, ou seja, retorna ao grupo no qual tornou Xuxa uma ‘celebridade’ e atuou como diretora por mais de 20 anos.


Marlene estréia no dia 15 de agosto ‘Amigas Invisíveis’, de sua criação. Será um programa feminino, transmitido ao vivo de segunda a sábado, das 13h às 15h.


Para a apresentação, ela escalou as atrizes Luciana Fregolente e Dedina Bernardelli. ‘Escolhi as duas porque não são comunicadoras de rádio. Quero uma linguagem diferente, sem vícios.’


Sobre a carreira na televisão, é categórica: ‘Gosto de TV e quero voltar’. Está agora ‘dando um tempo’. ‘Vou investir em produção de conteúdo para rádio. Além desse, tenho outros dois projetos, ‘Solidão, Dá um Tempo’, para as madrugadas, e ‘Conexão Século Passado’, sobre a história do rádio’, afirma Marlene, que atuará como produtora e diretora do novo programa da rádio Globo.


Ela considera ser essa sua verdadeira estréia no dial. ‘Quando eu era assistente do [diretor] Mauricio Sherman, na década de 80, ele dirigia também a rádio Roquette Pinto, e fiz algumas coisas por lá. Mas agora é que será minha primeira experiência para valer.’


‘Amigas Invisíveis’ terá quadros de defesa do consumidor, dicas de beleza, saúde, moda etc. Marlene planeja também levar ao ar a ‘Semana TPM’, na qual as mulheres poderão tirar dúvidas com médicos, psicólogos e até advogados sobre a tensão pré-menstrual. ‘Quero fazer algo bem interativo, para o ouvinte ligar, tirar dúvidas e até contar seus segredos. Quem nunca quis ter um amigo invisível fiel, aquela idéia de nossa infância?’, diz Marlene.


Para ela, não há muita diferença entre ouvinte e telespectador. ‘É a mesma pessoa, que precisa das mesmas coisas. O que sei é trabalhar com gente, e isso independe do veículo de comunicação.’


A diretora afirma estar atenta à demanda das emissoras de TV por produção independente e tem oferecido projetos às redes.


‘Tenho experiência com programa infantil e de música. E não há hoje na televisão musicais como os que sei fazer’, avalia.


Marlene treina a irmã, Ângela, para atuar como diretora e produtora de TV. Colocou a cargo dela o projeto de ‘A Hora do Bebê’, apresentado por Maria Paula, do ‘Casseta & Planeta’, que teve filha em 2004. O programa ainda não foi vendido a uma rede.’



PROPAGANDA SEM TV


Gary Silverman


‘Anunciantes já buscam alternativas à TV ‘, copyright Folha de S. Paulo / Financial Times, 27/07/05


‘Vivemos a era da McKinsey, a consultoria norte-americana segundo a qual tudo o que se pode mensurar se pode administrar. A mais recente prova disso surge no mundo da publicidade.


Os maiores anunciantes do mundo andam aterrorizados com a possibilidade de que os comerciais de televisão estejam perdendo força e por isso saíram à procura de alternativas na internet, publicidade externa, divulgação em lojas e até mesmo tomando a iniciativa de criar conteúdo de entretenimento por conta própria.


Uma transformação está em curso. Mas até o momento a revolução vem sendo conduzida a passos tímidos. Os executivos do setor dizem que os grandes anunciantes hesitam em agir de maneira mais decisiva sem que haja melhores sistemas de mensuração que permitam que testem, rastreiem e avaliem os custos das novas abordagens.


Como resultado, embora as verbas publicitárias estejam sendo desviadas da televisão, boa parte dos gastos alternativos vem bancando testes, na esperança de que seja possível obter dados que justifiquem decisões capaz de mudar o mundo da mídia.


‘Estamos todos testando a melhor maneira de avançar, testando discretamente’, disse Kevin Roberts, presidente-executivo da Saatchi Saatchi, agência de publicidade do grupo Publicis. ‘Queremos nos proteger ao máximo.’


O problema para os executivos de marketing é que os números que foram treinados para usar vêm perdendo sua relevância.


O valor do tempo comercial na TV, por exemplo, tem seu preço definido na forma de blocos de mil telespectadores. Mas os anunciantes já não confiam em que as pessoas que estejam assistindo a um programa na TV acompanhem de fato os comerciais.


Essas preocupações se cristalizaram após o recente desenvolvimento de gravadores digitais de vídeo que dão aos telespectadores o recurso de avanço rápido para pular os comerciais.


Mas os executivos do setor admitem que o problema na verdade surgiu com a criação do controle remoto e o surgimento de uma nova categoria de telespectador, que jamais deixa o sofá e muda de canal nos intervalos.


‘Sempre existiu tecnologia que permite evitar comerciais’, diz David Verklin, presidente-executivo da Carat North America, uma empresa de compra de mídia controlada pelo grupo britânico Aegis. ‘Nós simplesmente preferíamos não falar a respeito. Era o segredinho sujo do setor de mídia.’


Agora que o segredo foi revelado, a nova missão é descobrir maneiras de medir se os telespectadores estão prestando atenção aos comerciais e agindo com base naquilo que vêem.


Na semana passada, associações de agências, com apoio de anunciantes importantes como Procter & Gamble, revelaram um projeto de pesquisa cujo objetivo é encorajar um novo sistema de mensuração do ‘envolvimento do consumidor’. Não se sabe ainda ao certo de que maneira será possível medir esse envolvimento. Mas o setor deseja uma resposta.


‘É preciso criar métodos de pesquisa que tratem o assunto de maneira mais ampla do que a simples presença diante da tela’, diz Laura Desmond, presidente da Mediavest USA, uma empresa de compra de espaço publicitário controlada pela Publicis.


O apelo de muitas das novas abordagens de marketing é que elas podem ser medidas com maior facilidade. Na internet, os anunciantes vêem o envolvimento do usuário contando cliques.


Mas existe escassez de tipo de dados que possam ajudar os executivos de marketing a tomar e justificar decisões. Há poucas maneiras de testar muitas das novas abordagens de marketing com antecedência, como é o caso com os comerciais de televisão.


A falta de dados históricos para comparação também torna difícil desenvolver modelos estatísticos que possam ser usados para calcular retornos comparáveis sobre gastos de marketing.


‘Nós e outros estamos enfrentando dificuldades para descobrir algo que seja realmente simples e ajude as pessoas a transferir suas verbas com grande rapidez’, disse Eric Salama, presidente-executivo da Kantar, divisão de pesquisa do WPP, grupo britânico de publicidade e serviços de marketing.


Enquanto isso, a busca por alternativas à TV se intensifica. A ZenithOpti-media, uma empresa de compra de publicidade também integrada ao grupo Publicis, anunciou neste mês que a participação da televisão no bolo mundial de publicidade provavelmente atingiu seu pico no ano passado. Ainda em abril, a empresa previa que a televisão continuaria ganhando mercado neste ano e em 2006, antes de começar a cair.


A frustração dos anunciantes foi revelada durante as recentes negociações de compra antecipada de horários publicitários nas redes de TV abertas dos EUA.


Paradoxo


Um dos paradoxos da publicidade é que o preço do tempo nas redes vem subindo mais do que a inflação. A tendência foi atribuída à escassez do item. Mesmo uma audiência pequena na TV continua a ser uma das maiores audiências disponíveis.


Mas pagar mais por menos é algo que suscita nos anunciantes o desejo de reagir. O preço por mil telespectadores na rede NBC de televisão, parte do grupo General Electric, caiu em até 3%, neste ano, o que significa que ela faturará US$ 750 milhões a US$ 800 milhões a menos do que em 2004, de acordo com Michael Nathanson, analista da Sanford C. Bernstein.


Talvez os anunciantes estejam transferindo verbas da compra antecipada para o mercado posterior, no qual os horários são vendidos mais perto da exibição.


Mas os analistas esperam que a pressão aumente quando os anunciantes obtiverem números que embasem suas decisões. ‘Todo mundo quer uma mensuração melhor’, diz Nathanson, que está convencido de que haverá pressão renovada sobre a tarifas de publicidade da TV assim que os anunciantes obtiverem ‘dados de melhor qualidade’.’



GLAUBERIANAS


Esther Hamburger


‘‘Glauberianas’ tem tom convencional ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/07/05


‘O Canal Brasil vem exibindo uma série sobre o trabalho de Glauber Rocha na TV no programa ‘Abertura’. O documentário ‘Glauberianas’ peca por um convencional tom celebrante, que contrasta -em forma e conteúdo- com a experiência que analisa. ‘Abertura’ foi um programa semanal de entrevistas dirigido por Fernando Barbosa Lima e apresentado entre outros, por Glauber Rocha, exibido aos domingos à noite, em 1978 e 1979, na decadente TV Tupi.


Como o título sugere, testava os limites do processo de liberalização política iniciado por Geisel e que teria continuidade no mandato do general Figueiredo.


Em ‘Abertura’, Glauber desenvolveu uma linha performática de atuação-direção que já vinha se delineando em seu trabalho cinematográfico. No até hoje interditado ‘Di Glauber’, documentário sobre o enterro de Di Cavalcanti, Glauber se apresentava por inteiro diante da câmera.


Na TV, Glauber fazia um programa autocentrado, de opinião forte e explícita, gravado na rua ou em locações privadas com uma nervosa câmera na mão. Interagia com um espectro amplo e variado de pessoas.


Sua festa de 40 anos, repleta de amigos célebres, é assunto de um programa. Em outra oportunidade, Glauber dá a palavra a Brizola, um guardador de carros negro, homônimo do político, na época ainda no exílio. A entrevista com um homem do povo tem como contrapeso uma amável conversa com o então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães.


Em ‘Glauberianas’, fragmentos dessas interações são intercalados com depoimentos bem comportados, em cenários anódinos, alinhavados por uma entrevistadora solícita. A série dissipa a energia do original.


Vinte e cinco anos depois, em pleno momento de reflexão sobre a experiência democrática, não seria o caso, talvez, de uma reprise do ‘Abertura’ de Glauber na íntegra?


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’