Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lydia Medeiros

ELEIÇÕES 2002

“Luz, câmera, campanha”, copyright O Globo, 18/08/02

“A briga que começou há meses ganhará ares de superprodução a partir de terça-feira, com os candidatos ocupando a TV e o rádio por 45 dias na disputa decisiva do primeiro turno da campanha eleitoral. É o segundo round da batalha eleitoral e a arma na qual apostam os candidatos à Presidência, aos governos estaduais e ao Legislativo para conquistar decisivos votos até as eleições de 6 de outubro.

Duda Mendonça, o publicitário que cuida do PT de Luiz Inácio Lula da Silva, diz acreditar que este ano os programas eleitorais gratuitos serão mais importantes do que nunca. Para ele, os 15 primeiros dias da campanha na TV e no rádio deverão decidir o primeiro turno:

– São poucos candidatos com equipes muito profissionais e competentes, o que garantirá qualidade aos programas e audiência alta. Funcionará como uma injeção de benzetacil para os candidatos.

Duda diz acreditar que os programas tendem a mostrar as diferenças entre os candidatos e devem levar o eleitor a prestar mais atenção às propostas de cada um. Mas ele evita dizer qual o adversário preferido para a disputa no segundo turno:

– Prefiro não escolher adversário. O certo mesmo é que estamos no segundo turno e lá vamos ter o dobro de tempo que temos hoje – diz Duda Mendonça.

Patrícia vai atuar no programa de Ciro

Einhart Jacome da Paz, publicitário e cunhado de Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista, conta com uma imagem conhecida como trunfo para os programas, a atriz Patrícia Pillar, mulher de Ciro. Patrícia terá participação constante nos programas, com depoimentos sobre o marido-candidato. Nos programas, o candidato explicará suas propostas diretamente ou respondendo a perguntas, usando também cenas externas e reportagens sobre os problemas nacionais.

Ciro será o responsável pelos textos embora Einhart não negue que, com freqüência, ele usa termos complicados para o telespectador comum:

– Às vezes, ele fala difícil.

O publicitário acredita que pode at&eacuteeacute; transformar essa peculiaridade de Ciro em algo positivo:

– A população pode até não entender claramente o que é, mas diz: ?Pô, ele fala bem?.

Serra será mostrado como um realizador

Há duas semanas, o publicitário Nizan Guanaes está internado nos estúdios onde produz os programas do candidato tucano José Serra, dono de 20 minutos diários na TV – mais tempo do que dispõem juntos Lula e Ciro. Muitas gravações serão feitas no fim de semana.

A idéia de Nizan é fazer programas quentes, com respostas imediatas para os acontecimentos diários da campanha nas ruas. O trabalho à frente do Ministério da Saúde terá tratamento especial para tentar fixar no eleitor a idéia de que Serra não é mais um a prometer coisas, mas um realizador.

O candidato do PSB, Anthony Garotinho, também vai explorar o filão, mostrando as obras que realizou como governador do Rio, como o restaurante popular e outras iniciativas na área social. Com poucos recursos, ele não terá a participação de artistas: quer aparecer como um homem ligado à família.”

“Especialistas dizem que linguagem do corpo pode influenciar eleitores”, copyright O Globo, 18/08/02

“Quem se sai melhor na telinha? Lançar olhares penetrantes, piscar diversas vezes ou gaguejar seduz ou afasta o eleitor? Além do discurso, os candidatos, que começam amanhã a aparecer no horário eleitoral gratuito de televisão, podem perder ou ganhar votos também com as mensagens corporais que passam aos eleitores. Consultadas pelo GLOBO, as psicólogas Sônia Hueb e Madalena Santiago, especializadas em psicoterapia corporal e psicossomática, assistiram às entrevistas concedidas pelos quatro candidatos à Presidência ao ?Jornal da Globo? e traçaram um pequeno perfil de cada um deles.

Na análise, Madalena detectou que Ciro Gomes (Frente Trabalhista) pisca muito, passa a língua nos lábios e assume uma postura rígida de ?boneco do carnaval de Olinda?. Ela observa que José Serra (PSDB) preocupa-se excessivamente em olhar para a câmera e que Anthony Garotinho (PSB) se arma para responder às perguntas, afastando o corpo e olhando de cima para baixo.

Pressão muda comportamento

Já Sônia analisou o comportamento dos candidatos quando pressionados pelos jornalistas. Ciro partiu para o confronto, revelando, segundo a psicóloga, prepotência e autoconfiança excessiva. Lula não respondeu às perguntas, mas foi elegante e buscou a conciliação. Serra, segundo Sônia, perdeu-se em detalhes para tentar responder e Garotinho, na avaliação da psicóloga, embora ansioso, não levou a sério a entrevista.

As duas dizem, no entanto, que as observações tiveram como base as entrevistas na televisão e que não há condições de traçar um perfil psicológico detalhado com tão pouca informação. Madalena acrescenta que entrevistas, especialmente, para a televisão, são, em geral, situações que provocam nervosismo, mesmo em políticos: – São situações em que a gente fica mais preocupado em impressionar. Não importa o que eu sei, importa o julgamento do outro – diz a psicóloga.”

 

“Aumenta o interesse pelo horário eleitoral gratuito”, copyright Folha de S. Paulo, 20/08/02

“O horário eleitoral gratuito na TV começa hoje com mais prestígio do que o exibido quatro anos atrás, indica o Datafolha.

Segundo o instituto, cresceram o interesse pelos programas, a intenção de assisti-los e a importância que o eleitor brasileiro dá na hora de decidir o voto ao que os candidatos mostram na TV.

Em 1998, 47% dos eleitores diziam ter algum interesse pelo horário eleitoral gratuito para presidente; hoje, 60% dizem o mesmo. O interesse também subiu para os programas dos candidatos a governador (de 49% para 59%) e a senador (de 43% para 54%).

Em 1998 e neste ano, as pesquisas foram feitas em agosto, às vésperas da estréia dos programas.

Já a taxa dos entrevistados que disseram que vão assistir ao horário eleitoral -independentemente do cargo em disputa- subiu de 57% para 68%, de 1998 para cá.

Na mesma linha, a importância dos programas subiu. No caso da eleição presidencial, passou de 56% para 70% a taxa dos que dizem dar alguma importância ao horário eleitoral na TV na hora de decidir o voto. Na eleição para governador, esse índice subiu de 58% para 70%. Na eleição para o Senado, 69% dizem hoje dar importância aos programas de TV na hora de decidir o voto. Em 1998, essa pergunta não foi feita.

Eleição disputada

O motivo mais provável para esse crescimento de interesse é a disputa em si.

Em 1998, pesquisa Datafolha feita dos dias 12 a 14 de agosto indicava que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tinha 42% das intenções de voto para presidente, contra 38% de todos os seus adversários somados.

Na última pesquisa do instituto, realizada nos dias 15 e 16, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 37% das intenções de voto, contra 53% de seus adversários somados -longe portanto de vencer já no primeiro turno, como FHC fez quatro anos atrás.

Fora isso, os outros três principais candidatos -Ciro Gomes (PPS), José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB)- já se revezaram na segunda colocação da série de pesquisas deste ano.

Escolaridade

Os eleitores de Ciro são os que demonstram mais interesse pelos programas: 28% deles dizem ter muito interesse pela propaganda, contra 25% dos eleitores de Lula, 24% dos de Garotinho e 23% dos de Serra.

Já a importância dada é maior entre os eleitores de Garotinho: 49% deles dão muita importância aos programas na hora de decidir o voto, contra 48% de Ciro e 43% de Lula e Serra.

O interesse e a importância mudam muito de acordo com o nível de escolaridade: 22% dos entrevistados que fizeram até o primeiro grau dizem ter muito interesse aos programas para presidente e 44% dão muita importância a eles na hora de decidir o voto. Entre os entrevistados com nível superior, essas taxas são de 35% e 34%, respectivamente.”