Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Marcelo Rezende

ENTREVISTA / MARSHALL McLUHAN

“McLuhan retorna com a globalização”, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/02

“O mundo deu razão a Marshall McLuhan, professor canadense que declarou, no final dos anos 60, que o meio é a mensagem e que todos vivemos em uma aldeia global? Seu filho Eric, responsável pela edição crítica das obras de McLuhan -lançadas pela editora Gingko Press-, pensa ser sim a única resposta possível.

Eric McLuhan é o diretor do projeto dedicado à obra de seu pai, iniciado em 2000 e que deve ser finalizado em 2005. No início, as reedições receberam sua atenç&atiatilde;o e agora ele se volta para os ?milhares de textos desconhecidos?, como disse à Folha, por telefone, do Canadá. Inéditos de Marshall McLuhan começam a chegar ao leitor da era da internet, e ele explica os motivos.

Folha – Como está sendo feita a edição crítica?

Eric McLuhan – Muito do trabalho esteve fora de catálogo por muitos anos ou foi simplesmente reimpresso. Mas, com o ressurgimento do interesse em seus livros, foi planejada uma edição crítica, porque nos encontramos diante de um desafio: atualizar seus escritos. Assim, lançamos os textos com um tratamento, com notas e outros recursos, para que o leitor entenda o quanto são atuais.

Folha – Por que esse retorno ao pensamento de Marshall McLuhan?

McLuhan – Há um público interessado. A maioria das pessoas que se opuseram ao trabalho de Marshall McLuhan, nos anos 60 e 70, já se retiraram da vida acadêmica, e uma nova geração passou a ler seus livros com muito mais frescor, descobrindo como seu pensamento pode ser relevante para a situação que vivemos. McLuhan parece ser o único ao redor que indicou a maneira pela qual essas novas mídias podem ser estudadas. Ele está em um ponto de redescobrimento. Na verdade, parte do mundo universitário ainda não o aceita, talvez por ter ele possuído uma mente extremamente independente.

Folha – Mas sua obra vem recuperando espaço na academia?

McLuhan – A academia ainda não gosta de McLuhan, porque não gosta de celebridades. Desconfia delas. Ou talvez haja ciúme, não sei exatamente como explicar.

Folha – O lançamento, neste mês, de ?The Book of Probes?, com aulas, discursos e aforismos, marca o início da edição do material inédito. O quanto resta ainda?

McLuhan – Grande parte de seu trabalho foi feita com curtos artigos publicados em pequenos jornais e revistas. Algumas vezes ele contribuiu para publicações que duraram apenas dois ou três números. E por isso existem milhares, literalmente milhares de artigos praticamente desconhecidos, além de anotações, manuscritos; a tarefa consiste em localizar essa produção. Os arquivos nacionais do Canadá possuem quase a totalidade de seus manuscritos e documentos pessoais.

Folha – A internet seria responsável pelo interesse renovado em McLuhan?

McLuhan – Acredito que sim. Ele falava da mídia eletrônica como uma extensão do corpo humano. E o sistema nervoso é a internet. Ele falava dessa situação em uma escala global, como no conceito de ?aldeia global?. McLuhan está de volta porque a globalização é um fato. As novas gerações descobrirão um tipo novo de imaginação. O trabalho de McLuhan começa com a literatura; ele era um professor da disciplina, voltado para a era elisabetana, e vivia nos anos 60 do século 20. Ele não era alguém interessado em tecnologia, mas alguém voltado para as pessoas, para o potencial do homem. Ele queria pensar sobre o que as pessoas podem fazer. Onde encomendar: Gingko Press Inc. – tel. 00/xx/1/415/924-9615; e-mail: books@gingkopress.com”

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“Década de 60 marcou autor canadense”, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/02

“O canadense Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) foi um dos mais midiáticos acadêmicos do século 20 e chegou a essa condição escrevendo sobre as potencialidades da mídia, transformadas pelas então novas tecnologias e pela cultura popular.

Para ele, a humanidade entrava em um novo estágio, o da ?aldeia global?, por meio dos satélites e do aumento da velocidade na troca de informações pelo mundo. Em seu pensamento, assim como no de tantos outros intelectuais surgidos nos anos 60, um novo homem se preparava para entrar na história.

Dois de seus mais conhecidos trabalhos são ?Understanding Media? (1964) e ?O Meio É a Massagem? (1967), no qual ele defende ser a forma da mídia mais efetiva na transformação da sociedade do que a mensagem veiculada por ela. Logo, o meio é a mensagem.

Quando morreu, aos 69 anos, parte de seu prestígio tinha já desaparecido, e Marshall McLuhan passou a ser visto como um ?fenômeno de época?.”