Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Paulo Nassar

‘O esquema de corrupção que envolveu nos últimos anos agências de publicidade, empresas e políticos – e está sendo investigado pelas CPMIs dos Correios e do Mensalão -além de revelar por dentro, para milhões de brasileiros, como são pagas as milionárias campanhas de propaganda política e o submundo comportamental dos nossos representantes, traz à tona, novamente, a necessidade urgente de se debater a atividade legal de lobby no Brasil.

Por aqui, lobby é considerado palavrão. Ser lobista é sinônimo de carregador de malas ou cuecas recheadas de dinheiro sem origem legal, vindo do caixa 2 das grandes empresas, bancos e paraísos fiscais. O lobby no imaginário tupiniquim é coisa do demônio capitalista e as razões dessas percepções nativas são compreensíveis, afinal embaixo da palavra lobby muita lama já passou. Mas, o que é o lobby competente, legitimo e legal? O saudoso professor de Jornalismo, Jair Borin, da ECA-USP, nos lembrava a origem inglesa da palavra, que significa saguão, ante-sala, vestíbulo. Ambiente onde, no século XVII, os agricultores ingleses esperavam educadamente, ou aos gritos, os políticos para informá-los, influenciá-los, pressioná-los e convencê-los de seus interesses. Tal qual fazem nos dias de hoje, sindicatos profissionais e patronais, movimentos dos sem-terra, organizações não-governamentais. Nesta visão, o lobby da Câmara dos Deputados e do Senado são os extensos corredores cobertos com tapetes verdes e azuis das duas casas, agora, vigiados dia e noite pelas câmeras das emissoras de televisão e por centenas de jornalistas de todas as mídias existentes. A ação de Lobby, que muitos no ambiente das empresas chamam de Relações Governamentais, em essência é uma atividade de comunicação, quando legalizada e legitima, realizada às claras, sem mensalão, por representantes conhecidos e identificados de empresas ou entidades com o objetivo de influenciar principalmente os legisladores, gente que elabora e vota as leis, resoluções e decretos. São muitos os diretores e gerentes de comunicação das maiores empresas do país, que ganham honestamente seus salários e empregam parte de seu tempo a dialogar com parlamentares, levantando informações sobre projetos de lei e acompanhando o andamento de tudo aquilo que pode impactar a vida das empresas. Em tempo de CPMI do Mensalão, esses profissionais, muitos deles, ex-jornalistas renomados e competentes, comem o pão que o Valério amassou, por que têm seu trabalho contaminado pelo ambiente de caças às bruxas. A demonização do Lobby no Brasil é conseqüência direta da não regulamentação dessa atividade pelo Congresso. Desde 1989, o Projeto de Lei de número 203, do senador Marco Maciel, que teve a sua primeira versão apresentada em 1983, aguarda aprovação pela Câmara. Esse projeto tem como inspiração o Federal Regulation of Lobbyng Act, lei norte-americana que regulou, em 1946, o lobby naquele país. A regularização brasileira que anda a passos de tartaruga com certeza dará mais transparência aos debates dentro do Congresso e das Câmaras dos Estados e Municípios, além de identificar os interesses que estão disputando a inteligência dos legisladores. E, é claro, punir os que estão confundindo Relações Publicas com relações não-públicas. Com certeza regularizar o Lobby é dar mais um passo para fortalecer a Comunicação Empresarial e a democracia brasileira.

Paulo Nassar – Diretor-presidente da ABERJE (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e professor da Escola de Comunicações Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP).’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘Onde você estiver’, copyright Folha de S. Paulo, 05/09/2005

‘- Daniela Mercury comanda um coro de 40 mil vozes no estádio Mané Garrincha!

Era Galvão Bueno, o narrador, em nova tarde de ufanismo em Brasília, com a seleção e o Hino Nacional.

Entre as 40 mil vozes não estava a do presidente da República. Segundo a Folha Online naquele instante, ‘Lula passa o domingo em Brasília sem compromissos oficiais na agenda’.

Segundo um destaque do Globo Online:

– Lula prefere não ir ao estádio assistir ao Brasil.

Ele ficou na Granja do Torto -e o pouco de ‘oficial’ na transmissão foram dois aviões da Esquadrilha da Fumaça, antes do jogo, para um Galvão entusiasmado.

Do locutor, lembrando-se dos brasileiros que não foram ao estádio e não puderam acompanhar ‘mais um presente para esta torcida, a interpretação de Daniela’:

– E milhões de pessoas ligadas na Globo, tenho certeza, estão cantando em suas casas, onde você estiver.

Depois, a cantora concordou:

– O Brasil inteiro também cantando de casa, não é, Galvão? Hoje, todo mundo festejando. O jogo está sendo lindo para a gente entrar na Copa com o Brasil unido.

‘O Brasil unido’, mas sem o presidente da República, contou com seus filhos, por algum tempo ao menos, segundo o Globo Online:

– Filhos de Lula deixam o estádio antes do fim do jogo.

Desde o ‘Jornal Nacional’ do dia anterior, passando pelas chamadas, os programas de esportes, até a transmissão do jogo, nada na Globo fazia lembrar a crise política -ou a política, simplesmente.

Já na rádio Bandeirantes, por exemplo, o narrador José Silvério não perdia chance. Um repórter avisou que falaria com o ministro do Esporte, mas caiu a transmissão.

Para o locutor, o microfone ‘ficou com medo’.

Pior aconteceu com Joaquim Roriz, governador do Distrito Federal, que foi ao jogo e levou, segundo o Blog do Noblat, ‘uma estrepitosa vaia’, entre ofensas várias.

PERAMBULANDO

Começaram a chegar ontem os brasileiros que viveram a catástrofe de Nova Orleans, com cobertura nos vários programas de domingo e canais de notícias, entre lágrimas de muitos deles.

Na Globo, CBN e outras, o protagonista foi José Cândido, carioca que passou ‘uma semana perambulando pelas ruas de Nova Orleans’, segundo Zeca Camargo. O ‘Fantástico’ mostrou fotos da semana na cidade, entre relatos de saques, tiros e maus-tratos dos soldados americanos. Ele viajou a turismo e acabou ‘apanhado pelo furacão’. Chorou ao dizer:

– É a melhor coisa. Estar aqui de volta. A melhor.

DO ESPAÇO O Google Earth, um serviço de fotos por satélite da Terra que virou febre nos últimos meses, fez de novo, para o entusiasmo dos blogs de mídia, como o de Tiago Dória. Com apoio da Nasa, pôs no ar imagens de Nova Orlenas pós-furacão

O grito

Na manchete do site Adital, ligado à Igreja Católica:

– Grito por mudanças na política e economia.

Na manchete do jornal ‘Brasil de Fato’, próximo do movimento dos sem-terra:

– No dia 7, um Grito pelas ruas do país.

E no título da reportagem:

– Grito dos Excluídos mobiliza por mudanças.

Na quarta-feira, pelo jeito, os movimentos sociais tentam sair da defesa de Lula para o ataque à política econômica.

O site da Agência Estado já falava, ontem, em um ‘setembro vermelho’.

O foco

No sábado, na escalada dos telejornais, ‘o PSDB e o PFL acreditam já ter elementos para pedir o afastamento de Severino’. Ontem, até o ‘Pânico na TV’ tratou do Mensalinho, um novo personagem, criado à imagem de Severino.

Mas o Blog do Cesar Maia anda preocupado:

– O noticiário deslocou o foco para o Congresso. É um risco e um erro. Praticamente a única exceção no fim de semana foi o caso Daniel Dantas, que ampliou a ansiedade por seu depoimento.’



FSP CONTESTADA
Painel do Leitor, FSP

‘Uniformes e propaganda’, copyright Folha de S. Paulo

’05/09/2005

‘Surpreendente o editorial ‘Anúncio em uniforme’ (Opinião, 3/9), apoiando o uso de propaganda em uniformes escolares com o argumento de que tal permissão resultaria em economia de R$ 70 milhões aos cofres públicos. Com a mesma vontade política de economizar, certamente se encontrarão outras formas, igualmente criativas, que não esta de expor as crianças às agressões e achincalhes como ‘outdoors ambulantes’. Mais uma vez conta-se com o sacrifício dos menos iguais para poupar. Quem poupará os estudantes de escolas públicas de se sentirem como uma ‘coisa’ associada a uma permanente baixa auto-estima?’ Ana Luísa Luz Lacerda (São José dos Campos, SP)

‘A notícia de que o prefeito José Serra estuda permitir publicidade em uniformes escolares é lamentável e preocupante. Autoridades supostamente esclarecidas vêem a publicidade apenas como uma fonte de patrocínio para o Estado. A publicidade não é inócua não! Crianças e adolescentes são atualmente o principal alvo da propaganda. Mentes virgens e em formação, sedentas de afirmação e de identidade, são alvo fácil das mentes ‘criativas’ dos publicitários. Como exemplo desse poder da propaganda, eu, que nunca havia votado em Lula, fui ‘conduzido’ pelo senhor Duda Mendonça até a catástrofe que temos hoje. Votei pela ‘esperança’. A se concretizar a perda da virgindade das escolas públicas para a entrada da publicidade, já podemos vislumbrar a escola pública do futuro. Antes de uma aula de educação física, um comercial da Nike/Adidas/Reebok será exibido ‘Esta aula está sendo patrocinada pela empresa tal, que também forneceu as bolas e o material esportivo’.’ Estamos assistindo ao espetáculo da falência do Estado, que já não consegue oferecer programas culturais, estradas e assistência médica. Será uma ironia ver alunos de colégios particulares exibindo orgulhosos o brazão da sua escola no uniforme enquanto os de escolas públicas exibirão, constrangidos, o logo de uma marca de iogurte ou de sabonete.’ Carlos Ferrante (São Paulo, SP)



6/09/2005

Publicidade

‘Reportagem sobre investimentos em publicidade do governo publicada ontem na Folha oferece um conjunto de dados e informações que merecem esclarecimentos para evitar interpretações equivocadas. Os recursos de publicidade institucional e de utilidade pública, legal e mercadológica são negociados para assegurar os melhores resultados para a administração pública, considerando a análise técnica dos veículos, o que inclui avaliação da evolução de preço no mercado, índices de audiência (com base no Ibope, no Marplan, no IVC e em outros) e comparativo com concorrentes diretos. Portanto os planos de mídia do governo federal seguem critérios objetivos, sem privilegiar qualquer tipo de mídia ou veículo. A Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria Geral da Presidência da República, antiga Secom, entende que a preservação da reserva sobre a aplicação de recursos em publicidade visa assegurar condições adequadas nas negociações diretas com cada veículo de comunicação, o que significa responsabilidade e zelo pela otimização dos recursos públicos. No que se refere às estatais, a reserva se justifica pela necessidade de preservação dos seus interesses mercadológicos, uma vez que atuam numa economia de mercado. Essas negociações possibilitaram uma economia de cerca de 30% dos investimentos totais, o que permitiu a realização de novas ações de comunicação sem o aporte de recursos adicionais. Desde 2004, as informações oficiais consolidadas sobre os investimentos publicitários estão disponíveis no site www.presidencia.gov.br/secom/publicidade.’ Armando Medeiros de Faria, assessor de imprensa da Subsecretaria de Comunicação Institucional da Secretaria Geral da Presidência da República (Brasília, DF)’