Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Teerã prende 14 jornalistas

O governo do Irã prendeu no fim de semana pelo menos 14 jornalistas – entre eles, um conhecido editor-chefe – sob acusação de cooperar com veículos de mídia estrangeira favoráveis à oposição. A operação espalhou pânico no meio jornalístico iraniano. Muitos profissionais temem uma escalada repressiva no período prévio à eleição de junho, que encerrará a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, impedido por lei de concorrer novamente.

Agentes à paisana com mandado de prisão invadiram redações de quatro jornais, uma revista e uma agência de notícias para efetuar as capturas, que consolidam a presença do Irã entre os países com maior número de jornalistas presos (45, sem contar a ação do fim de semana). A Folha ouviu relatos de que funcionários das redações tentaram impedir à força a prisão dos colegas, gerando tumulto e nervosismo. Um dos detidos é Javad Daliri, editor-chefe do jornal reformista Etemaad, que já havia sido preso por suposta colaboração com a oposição. Não estão claros a situação jurídica dos jornalistas e seu paradeiro após a captura.

Só foi divulgada pela mídia oficial a acusação de que passavam notícias a órgãos de mídia “antirrevolucionários” que divulgam informações no idioma local farsi, aparente referência à BBC Persian e à Voice of America. As duas emissoras, financiadas por Reino Unido e EUA respectivamente, são banidas no Irã. Mas suas transmissões de rádio e TV são amplamente acessadas por parabólicas clandestinas, tornando-se a principal fonte de notícia para milhões de iranianos críticos de seu governo.

Possíveis motivações financeiras

Com programação claramente antirregime, a BBC Persian e a VOA são vistas por Teerã como instrumento de propaganda para derrubar as fundações ideológicas da Revolução Islâmica de 1979. As prisões ocorrem uma semana após o procurador-geral da república islâmica, Gholam Hossein Mohseini Ejehi, ter ameaçado punir jornalistas com ligações à “mídia estrangeira hostil”.

Repórteres iranianos ouvidos pela Folha especulam que os detidos abastecessem órgãos baseados no exterior devido às restrições locais. “A eleição está chegando e há informações importantes que não podem circular aqui. Alguns repassam a colegas no exterior”, disse um deles, acrescentando que as redações da BBC Persian e da VOA são essencialmente compostas por iranianos exilados.

O Irã apertou o cerco à imprensa após a última eleição presidencial, em 2009, quando uma onda de revolta contra a reeleição supostamente fraudulenta de Ahmadinejad se alastrou pelo país. Um dos jornalistas também enxergou possíveis motivações financeiras. “A situação econômica no Irã está péssima. Eu mesmo estou com salário atrasado. Pode ser tentador para alguns receber um dinheiro extra em dólar para repassar informações.”

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[Samy Adghirni é correspondente da Folha de S.Paulo em Teerã]