Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Policiais são suspeitos de morte de jornalistas

Em entrevista coletiva na tarde de sexta-feira (19/4), o chefe da Polícia Civil em Minas, delegado Cylton Brandão da Matta, admitiu, pela primeira vez, a provável participação de policiais no assassinato de dois jornalistas em Ipatinga, no Vale do Aço. Ele, porém, descartou a atuação de um grupo de extermínio. Ontem à noite foram presos dois policiais civis suspeitos de envolvimento em pelo menos um dos nove casos que os jornalistas apuravam.

A morte dos dois jornalistas teria relação com nove casos de assassinatos na região no período de 1992 a 2013. Policiais militares e civis são os principais suspeitos da série de crimes. As histórias foram investigadas e denunciadas à exaustão pelo radialista Rodrigo Neto, morto em março. Sua intenção era reunir o material, juntar novidades e lançar um livro cujo título seria Crimes perfeitos. Com o assassinato do fotógrafo Walgney Carvalho, 37 dias após o de Neto, os papéis foram divulgados pelo Comitê Rodrigo Neto, formado por profissionais de comunicação e amigos das vítimas, e pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas. Cópias foram entregues à cúpula da Polícia Civil em BH e à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

O crime mais recente denunciado por Neto ocorreu em 8 de fevereiro de 2013 e ficou conhecido como o caso “Cabo Amarildo”. Trata-se do assassinato do PM Amarildo Pereira de Moura, de 50 anos. Em menos de 24 horas, três suspeitos foram presos, o quarto, o jovem Daniel Wattson, de 18 anos, foi liberado por falta de provas. No dia 22 do mesmo mês, o pai de Daniel, Sebastião Ludovino de Sigueira, de 66 anos, foi morto. Dois dias depois, Daniel foi preso. As investigações sobre a morte do cabo Amarildo foram concluídas, já o inquérito da morte de Sebastião ainda está na delegacia da cidade de Santana do Paraíso. De estilo combativo, Rodrigo Neto afirmou, com veemência, em seu programa de rádio: “Eu não quero acreditar que nós estamos vivenciando o mesmo quadro de Belo Oriente, quando mataram um detetive e, em vingança, dizimaram uma família.” A “Chacina de Belo Oriente” aconteceu em 2006, quando três pessoas da mesma família foram assassinadas na cidade de Belo Oriente. Suspeita-se que a chacina tenha sido represália ao assassinato de um policial civil da cidade.

Absolvição geral

De 2005 a 2008, um PM foi apontado como autor de uma série de homicídios conhecidos em Ipatinga como os “crimes da moto verde”. Já em outubro de 2011, os corpos de quatro adolescentes foram encontrados nus com tiros na nuca em distrito de Caratinga. Mais cedo, eles haviam sido abordados pela polícia por atitude suspeita. Encaminhados para a delegacia, eles apedrejaram uma viatura da Polícia Civil. Foi a última vez que foram vistos vivos. O crime ficou conhecido como “Chacina de Revés de Belém”. Ninguém até agora foi responsabilizado. Ainda em 2011, surge o “Caso Japão”, envolvendo o traficante Maxwel de Oliveira Silva, o Japão, executado pouco depois de prestar depoimento no qual apontou um cabo como suspeito de tentar matá-lo.

O primeiro caso de repercussão denunciado por Rodrigo Neto ficou conhecido como o “Desaparecimento de Juninho”. A vítima era o catequista Nelson Ferreira Júnior, sumido desde maio de 1992, após uma abordagem policial. Todos os policiais envolvidos na operação foram absolvidos. Um deles continua na PM e obteve várias promoções. Outro foi eleito vereador em Ipatinga.

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Ezequiel Fagundes, do Globo