Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalista que obteve papéis secretos evita usar o Facebook

Empresas como Google e Facebook negaram que tenham colaborado com a coleta de dados para o Prism, o programa secreto de monitoramento de e-mails, chats e buscas da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. Mas o jornalista americano Glenn Greenwald, de 46 anos, prefere não se arriscar. Ele não usa Facebook. Skype, somente em casos de extrema necessidade, quando não há alternativa.

Depois de obter documentos secretos que revelaram um complexo mecanismo de espionagem dos usuários dos serviços de nove grandes empresas americanas, Greenwald defende um debate global sobre a privacidade online e acusa seu país de querer espionar todo o mundo – o tempo todo – sob a premissa de combater o terrorismo.

– O problema é que essas ações são justificadas nos EUA tipicamente como uma questão de combate ao terror. Os EUA têm trabalhado muito duro para manter as pessoas com medo do terrorismo, mas isso tornou-se uma propaganda barata – afirmou ele ao Globo, de Hong Kong, onde trabalha numa série de reportagens denunciando os supostos abusos cometidos em nome da segurança.

Greenwald nasceu em Nova York e mora no Brasil desde 2005, com o companheiro, brasileiro. Foi de sua casa, no Rio, que coletou boa parte das informações providas, segundo ele, de “um antigo leitor que se mostrou confortável” para vazar memorandos confidenciais.

– Os EUA construíram um aparato gigantesco em total sigilo, capaz de destruir a privacidade e o anonimato não só nos EUA como em todo o mundo – acusou.

“Revelação irresponsável”

Ex-advogado, Greenwald chegou ao jornalismo em 2005, escrevendo em seu próprio blog sobre segurança nacional e liberdades civis. Colaborou com a revista digital Salon e hoje tem uma coluna no diário britânico Guardian.

Questionado se o programa americano de monitoramento de dados tem o apoio de países aliados, o jornalista lembrou que os EUA trabalham principalmente com quatro países ma área de vigilância digital: Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Não se sabe, porém, o nível do envolvimento político dessa parceria.

Para ele, é importante que a sociedade civil se mobilize.

– Precisamos que os cidadãos do mundo possam decidir se querem usar serviços vulneráveis à interceptação dos EUA. A violação de privacidade atinge cidadãos do mundo todo, e as pessoas não entendem a gravidade disso. Elas devem saber, compreender e cobrar atitudes de seus respectivos governos. Até agora nunca houve debate porque os EUA trabalham em segredo.

Greenwald denunciou, ainda, outro programa americano cujo objetivo seria a criação de uma lista de alvos para ciberataques. E promete, nos próximos dias, novas revelações.

– Os EUA têm espionado parceiros internacionais – contou, sem dar detalhes.

Neste sábado, o diretor da NSA, James Clapper, criticou a atuação da imprensa.

“Durante a semana, assistimos à revelação irresponsável de medidas para assegurar a segurança dos americanos”, disse Clapper, em nota.