Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O debate na mídia e o fim dos partidos

Uma grande manifestação pela redução da tarifa de ônibus, em São Paulo, iniciada pelo Movimento Passe Livre – que se diz anticapitalista, apartidário, mas não antipartidário – levou multidão às ruas. O balanço do movimento foi positivo com a redução do preço da passagem na capital paulista e a mobilização popular que entrou para a história. Ponto positivo para a democracia.

Mas, de repente, os protestos deram uma guinada com ares antidemocráticos e intolerantes sobrepostos à multidão. Atos de vandalismo por toda parte, bandeiras de partidos rasgadas e gritos de ordem sem um “foco definido”. Estes deixaram uma pista de que tinham objetivo de desestabilizar o verdadeiro significado das manifestações. Tentaram se apropriar de uma luta. Nesta guinada, o que se viu foi a proibição à participação de partidos nos protestos, em São Paulo e na capital do país, Brasília, e a tentativa de invasão ao Congresso Nacional – uma instituição democrática responsável pelas principais decisões do Brasil.

Pode-se até considerar que tanto partidos e sindicatos vivem crise de identidade e de credibilidade. Mas é evidente que não se faz democracia sem essas instituições. Não se faz política sem as instituições constituídas. E não se combate a má política sem a política. Em um país democrático, é preciso respeitar a escolha dos representantes eleitos pelo voto popular, o espaço político como arena de debates de demandas e reivindicações sociais e populares.

Um caminho perigoso

De tudo o que se viu, depois da grande vitória pela redução da tarifa, só se pode crer que a guinada negativa instaurada nas manifestações teve, entre os objetivos, despolitizar a massa. Capturá-la com objetivo de negar todas as instituições partidárias reduzindo-a “a nada”. Não se muda o país quebrando, depredando e rasgando bandeiras. Em uma democracia, como a brasileira, que teve seu ápice após o fim da ditadura militar, só haverá mudanças se cobrarmos mais coerência da classe política, não decretando seu dela. Países que assim fizeram foram apropriados por fascistas que instituíram modelos de ditaduras de partidos únicos.

Lamentavelmente, os meios de comunicação acabam por incentivar o descontrole das massas. Corroboram que é preciso protestar contra tudo, mas sem objetivo definido, e tentar mudar à força o atual “estado político” do país. Não será surpresa se nas próximas edições de jornais, revistas e emissões de TV o leitor ou telespectador encontrar nos noticiários mais pesquisas mostrando que o povo quer o fim dos partidos, dos políticos, do Congresso Nacional e das instituições políticas. Esse é, sem dúvida, um caminho perigoso.

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Edgar Leite é jornalista, mestre em Ciências Sociais Políticas pela PUC e editor-chefe do jornal Diário de Suzano