Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Escolha fica entre justiça e privacidade

Aqui nos EUA, só existem três assuntos hoje: o programa de vigilância Prism; a morte de Trayvon Martin; e o Google Glass e a ascensão dos computadores “vestíveis”, capazes de registrar tudo que cerca aqueles que os usam.

Ainda que essas coisas não pareçam estar conectadas, são parte de um crescente movimento em direção a uma sociedade sob vigilância.

De um lado temos quem diga que vigilância demais, especialmente na forma de câmeras e computadores “vestíveis”, viola o direito à privacidade no espaço público.

Do outro, há quem argumente que uma sociedade com câmeras em toda parte tornará o mundo mais seguro e permitirá responsabilizar os criminosos por suas ações.

A questão aqui é: queremos viver em uma sociedade de vigilância que poderia garantir justiça para todos, mas privacidade para ninguém?

No caso de Martin, um adolescente negro desarmado que foi morto com um tiro por George Zimmerman, membro de uma organização de vigilância de bairro, a prova decisiva de como começou a briga entre os dois –que resultou na morte de Martin– é a palavra de Zimmerman.

Como visto no tribunal, todos os relatos das testemunhas diferem.

Mas se uma dessas testemunhas –incluindo Martin e Zimmerman– estivesse usando um Google Glass ou qualquer outro dispositivo pessoal de gravação, os fatos daquela noite teriam ficado muito mais claros.

Ferramenta de poder

O Prism é um exemplo de registro e manutenção de dados em escala gigante.

A coleta de dados e a vigilância por vídeo continuarão a crescer à medida que a tecnologia invade novas áreas, quer integrada aos nossos corpos, quer voando na forma de drones (aeronaves de pilotagem remota).

O que é possível fazer? Aqueles que desejam proteger as liberdades civis dizem que talvez a única resposta seja ainda mais câmeras, para propiciar algum equilíbrio.

“Nas mãos de um indivíduo, uma câmera de vídeo pode ser uma ferramenta de poder. Mas quando empregada pelo governo para vigiar, ela tem o efeito oposto sobre as pessoas”, define Jay Stanley, analista na ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis), em Washington.

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Nick Bilton, do New York Times