Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Três jornalistas são mortos em confrontos no Egito

Um cinegrafista da emissora britânica Sky News, uma repórter de um jornal com sede em Dubai e um jornalista egípcio que escrevia para o jornal estatal Al Akhbar foram mortos durante o massacre promovido pelo Exército na remoção de dois acampamentos de partidários do ex-presidente Mohamed Mursi no Cairo, nesta quarta-feira (14/8). Um fotógrafo da Reuters também foi baleado no pé enquanto cobria a ação violenta dos agentes policiais.

Segundo a Sky, Mick Deane, de 61 anos, foi baleado e teria recebido atendimento, mas logo depois morreu. O restante da equipe da emissora saiu ilesa. Deane trabalhava há 15 anos na emissora. Ele era casado e tinha dois filhos. Em nota, a TV descreveu o funcionário como um brilhante jornalista e fonte de inspiração e mentor de vários funcionários na empresa. Ao saber da morte, o primeiro-ministro britânico David Cameron disse que estava triste. Ele afirmou que seus pensamentos estavam com a família e os colegas de Deane.

O Gulf News informou em seu site que a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, de 26 anos, foi morta a tiros perto da mesquita Rabaah al-Adawiya no Cairo, um dos locais dos acampamentos. O jornal disse que ela estava de férias e não estava trabalhando durante o confronto. Habiba era funcionária do XPress, que tem sua irmã como proprietária. “Minha mãe falou com ela perto do horário da oração da manhã, mas quando ela ligou de novo às 12h, não houve resposta”, relatou a irmã ao Gulf News. “Ela ligou de novo, e alguém pegou o telefone e disse que Habiba estava morta. Meu pai, que está no Egito”, confirmou mais tarde.

O editor adjunto Mazhar Farooqui disse que a publicação estava em choque. “É difícil acreditar que ela se foi”, afirmou Farooqui. Ela era apaixonada pelo seu trabalho e tinha uma carreira promissora pela frente.

A terceira morte foi confirmada pelo Sindicato de Jornalistas do Egito: Ahmed Abdel Gawad, que trabalhava no jornal estatal Al Akhbar, foi morto enquanto cobria a repressão em Rabaah al-Adawiya.

Repórter do Daily Beast foi espancado

Enquanto fazia a cobertura dos confrontos na praça Rabaa al-Adawia, o repórter Mike Giglio, do Daily Beast, foi espancado e teve seu computador, identidade e celular apreendidos por forças de segurança. Em um artigo publicado no jornal, ele contou como sofreu as agressões. “Eles tomaram o meu celular, a minha identidade. Abriram a minha mochila e encontraram o meu laptop. Ao abri-lo, apareceu a mensagem que perguntava a senha. Eu educadamente me recusei a revelá-la. Isso durou cerca de cinco minutos, enquanto eu respondia a outros policiais sobre o meu trabalho e a minha identidade. Finalmente um homem, que acredito que estava no comando – com um rosto mais velho e robusto e uma boina preta – me exigiu a senha. Eu pedi desculpas e me neguei a dizer. Ele, então, me deu um forte tapa. Me pediu a senha, eu neguei de novo, e recebi um novo tapa. Chegou a um ponto que havia vários policiais me dando socos e tapas na cabeça. Foi quando eu desisti e digitei a senha. Eles tiveram um interesse especial em um arquivo chamado ‘Sisi’, que basicamente estava relacionado ao chefe das forças armadas, Abdel Fatah al-Sisi. Então, eles levaram o meu laptop.”

Nas redes sociais, houve dezenas de rumores de outros jornalistas que teriam sido presos e espancados. A repórter Bel Trew, do Cairo, disse ao El País que nunca viu um luta tão sangrenta no Egito. “As forças de segurança nos mantiveram agachados atrás de carros debaixo de uma chuva de balas durante oito horas seguidas”, contou.